Mesmo vivendo ritmos completamente diferentes, as pessoas que ocupam o espaço urbano, o campo e a floresta sempre estiveram conectadas, de acordo com Matsipaya Txucarramãe, convidado do último encontro do Amazoniar, que aconteceu em 07/10 e teve como tema Vozes indígenas: cantos tradicionais e atuais e como se misturam. “Por mais que muitos pensem o contrário, esses três mundos sempre caminharam juntos. Através da música, vejo que chega essa conexão”, disse o músico, que leva a luta indígena por direitos através de suas composições.
Txucarramãe contou que nem sempre é fácil cantar sobre a opressão que as comunidades indígenas sofrem, mas que essa expressão artística tem ajudado a levar sua mensagem para mais pessoas. “Tento abordar esses temas de forma mais harmônica e menos agressiva. É difícil trazer a causa indígena e toda a violência que sofremos, mas faço isso com muito amor e consciência ancestral. Para mim é uma honra quando minha música chega às pessoas e as faz enxergar de outra maneira a causa indígena e esses projetos que querem tirar os nossos direitos”, explicou.
Ele destacou a importância da união entre todos: se por um lado os primeiros a serem impactados pela destruição da floresta são os povos indígenas, os efeitos negativos não tardam em chegar às pessoas em centros urbanos. “Se não nos juntarmos e não ocuparmos os espaços de decisão, vai chegar um momento em que não haverá mais água e comida de qualidade, vamos acabar com tudo. Estamos aqui juntos para poder amazoniar nossos pensamentos e reflorestar esses corações que estão sempre querendo consumir e contaminar o que a gente tanto valoriza”, disse.
Senso coletivo e feminismo através do maracá
Cíntia Guajajara, professora e vice-coordenadora da Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA), também vem usando um instrumento musical, o maracá, para repassar o conhecimento dos povos indígenas e contribuir para a continuidade de sua cultura. “Tenho ensinado aos meus alunos na escola a importância do maracá. Acredito que ele tem chamado e ensinado a juventude a valorizar aquilo que é nosso”, ressaltou durante o último encontro do Amazoniar.
Ela contou que o maracá é um dos instrumentos musicais mais sagrados para os indígenas, com grande poder espiritual e crenças que variam a cada tribo. Alguns povos acreditam que seu som reproduz a voz dos espíritos, outros, que o instrumento possui a função de curar ou de fazer a limpeza espiritual da aldeia.
Guajajara é uma das principais lideranças de seu povo, com grandes conquistas de direitos das mulheres e professores indígenas. Outro ponto que ela vem compartilhando em sala de aula é justamente o senso coletivo dos povos indígenas e a força que a mulher indígena representa dentro de suas comunidades. “Na cultura indígena, a gente luta de igual para igual. No coletivo, as mulheres lutam com os homens somando forças para fortalecer o movimento e as organizações indígenas. Considero que a escola é um espaço para trabalhar esse conceito”, concluiu.
Confira as apresentações musicais de Matsipaya Txucarramãe e Cíntia Guajajara no Amazoniar:
Na próxima quinta-feira (21/10), o Amazoniar realiza o último encontro deste ciclo de debates, que tem como tema “Cultura e arte dos povos indígenas da Amazônia como forma de resistência”. Na ocasião, Erisvan Guajajara (comunicador e fundador da Mídia Índia) e Daiara Tukano (artista, ativista, educadora e comunicadora) vão guiar discussões sobre a produção fotográfica e audiovisual de artistas das comunidades indígenas, e compartilhar suas perspectivas das produções culturais na região.
Perspectiva indígena: os povos tradicionais através da fotografia e do audiovisual
Data: quinta-feira (21/10)
Horário: 8h (Lima) / 9h (Nova York) / 10h (Brasília) / 15h (Europa Central)
Inscreva-se
Concurso de fotografia Amazoniar recebe inscrições até 24/10
Esta é a última semana para participar do concurso de fotografia Amazoniar. Com o tema “Amazônia pelo Planeta”, ele está aberto para pessoas de qualquer idade e nacionalidade, e tem como objetivo incentivar o registro de realidades da Amazônia, além da produção cultural e artística na região.
Uma comissão de jurados selecionará 20 fotografias ao todo. Os vencedores terão suas fotos exibidas, em formato digital ou por meio de projeção, em Glasgow, na Escócia, durante a Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP 26), e no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ao lado de exposição com previsão de inauguração no fim do ano. Confira todas as regras e envie suas fotos até 24/10!
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PUBLICADDO POR: IPAM AMAZÔNIA
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