Audiência discutiu propostas para a conferência do clima da ONU, que acontece em novembro
A deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) defendeu, em audiência na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara na última sexta-feira (22), que os governos incluam o financiamento às ações indígenas de preservação florestal em seus planos orçamentários. E citou o apoio aos Planos de Gestão Territorial e Ambiental em terras indígenas, criados em 2012. A ideia é discutir o financiamento na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, que vai se realizar na Escócia no início de novembro.
Na Amazônia brasileira, segundo Joenia Wapichana, cientistas destacam que as comunidades indígenas protegem e manejam 27% das florestas, que armazenam 13 bilhões de toneladas dos estoques de carbono da região. Essa quantidade não considera o carbono armazenado no solo, que possui, em média, um estoque entre 40 e 60 toneladas por hectare. Esta retenção do carbono pelas florestas ajuda a conter o acúmulo de gás carbônico na atmosfera, o que reduz o efeito estufa.
Na audiência, vários representantes indígenas pediram atenção ao saber tradicional dos 305 povos indígenas brasileiros em 690 terras indígenas, cerca de 13% do território nacional.
Maurício Rocha, da Associação Hutukura Yanomami, contou que as mudanças climáticas já fazem parte da rotina dos povos indígenas: “Mudou o canto das rãs e das cigarras. Mudou o escorpião no céu. Mudou o caranguejo no céu. Lembro que meu avô falava: ‘olha no céu, tem um escorpião lá’. Esse era o sinal que a gente tinha para identificar o tempo que vai ter em um mês. Via a lua e as outras coisas. E hoje a gente não consegue ver essas constelações e nem ouvir o canto dos pássaros e dos animais.”
Regime de chuvas
A deputada Joenia Wapichana ressaltou que os povos tradicionais sentem rapidamente como o clima afeta a sua subsistência: “Antigamente, a gente falava que as chuvas começavam em maio, e tínhamos uns seis meses de chuva. Hoje, a gente não sabe quando a chuva começa nem quando termina.”.
Os representantes indígenas disseram que os povos tradicionais preservam a floresta usando seus recursos. Técnicas indígenas de manejo fizeram com que fosse possível o uso de plantas como a castanheira, a pupunha, o cacau, o babaçu, a mandioca e a araucária. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira divulgou na audiência a Carta de Tarumã, de 15 de outubro, que trata da crise climática.
Reportagem – Sílvia Mugnatto / Edição – Roberto Seabra / PUBLICADO POR: CÂMARA DOS DEPUTADOS
A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura ‘Agência Câmara Notícias’.
Deixe um comentário