No último dia 28, aconteceu na sede do Instituto Mamirauá, a solenidade de abertura do projeto “Arranjo de Tecnologias Sociais de abastecimento de água para comunidades ribeirinhas da Amazônia”. O projeto do Instituto Mamirauá, que foi finalista em 2020 do Desafio Transforma! da Fundação Banco do Brasil, levará acesso à água de qualidade para mais de 300 pessoas na região do Médio Solimões.
A cerimônia, que marca oficialmente o início das atividades do projeto, contou com a presença de diretores e pesquisadores do Instituto Mamirauá, representantes das prefeituras de Alvarães e Maraã (AM), e da gerência do Banco de Brasil da agência de Tefé.
De acordo com a pesquisadora e coordenadora do projeto, Maria Cecilia Gomes – também líder do Grupo de Pesquisa em Inovação, Desenvolvimento e Adaptação de Tecnologias Sustentáveis (GPIDATS) e coordenadora do Programa de Qualidade de Vida (PQV) do Instituto Mamirauá -, a etapa atual consiste na seleção das comunidades que serão contempladas com os sistemas. “As prefeituras da região foram convidadas para participar do projeto, tendo respostas positivas das prefeituras de Alvarães, Uarini e Maraã”, enfatiza a coordenadora. A pesquisadora ressalta que “estas prefeituras mostraram interesse e compromisso com o projeto e o tema do acesso à água e, assim, terão pelo menos um sistema de abastecimento instalado nas comunidades que fazem parte de seus territórios”.
Na apresentação de abertura da cerimônia, o Diretor Geral do Instituto Mamirauá, João Valsecchi do Amaral, destacou que a região onde o projeto será implementado apresenta um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente. De acordo com ele, “as regiões de atuação do Instituto se sobrepõem nestas áreas justamente pelas demandas que ali ocorrem”.
Valsecchi ainda complementou que “as Tecnologias Sociais que são o alvo deste projeto atuam justamente neste contexto, para atender o que a sociedade realmente precisa”, e que “a missão do Instituto Mamirauá parte do princípio de fazer pesquisa para desenvolver tecnologias adequadas, para melhorar as condições das pessoas da região e ao mesmo tempo promover a conservação dos recursos que na região existem”. Para o Diretor Geral, a “lógica concilia o conhecimento científico e extensão, para levar esta produção de tecnologias para a população ao mesmo tempo em que produz o desenvolvimento sustentável econômico aqui da região”.
Tecnologias Sociais
Segundo a Fundação BB, as “Tecnologias Sociais são produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social”.
O arranjo deste projeto envolve três Tecnologias Sociais certificadas pela Plataforma Transforma! Rede de Tecnologias Sociais, da Fundação: o Sistema de Bombeamento e Abastecimento de Água com Energia Solar; o Filtro Ecológico Alternativo; e a Sodis – Desinfecção Solar Da Água. Assim, esta sequência de tecnologias envolverá o bombeamento, o tratamento físico e a desinfecção das águas.
A Diretora de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá, Dávila Suelen Souza Corrêa, citou em sua fala na cerimônia que esta tecnologia de bombeamento vem sendo testada há mais de 20 anos pelo Instituto Mamirauá, em colaboração e parceria com as comunidades, tendo a indicação destas sobre sua viabilidade ou não para estes locais. “Mas chegamos na fase de avançar na gestão. Estamos desenvolvendo de forma colaborativa um modelo de gestão compartilhada que possa dar suporte a multiplicação desta tecnologia para outras comunidades e outras prefeituras. A gestão reúne as partes interessadas, população, entes públicos e academia, assumindo responsabilidades para promover o acesso ao saneamento”, acrescenta.
O Sistema de Bombeamento e Abastecimento de Água com Energia Solar foi desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, ao longo de anos de pesquisa na região amazônica, e foi certificado pela Fundação BB em 2011. Atualmente o Instituto Mamirauá conta com cinco Tecnologias Sociais certificadas pela Plataforma Transforma!
Segundo Maria Cecilia, “as prefeituras vão participar da discussão sobre a gestão dos sistemas de abastecimento instalados, visando sua sustentabilidade ao longo do tempo”. Além disso, “a ideia é que a partir da instalação seja definido, com as prefeituras e com as comunidades, quais serão as responsabilidades de cada um para que o sistema siga funcionando nos próximos anos”. A pesquisadora ainda complementa que “a ideia também é que as prefeituras possam multiplicar este projeto para outros locais, visto que estas tecnologias podem ser reaplicadas e a energia solar tem se tornado mais acessível ao longo do tempo”.
Soluções para problemas sociais
A região do Médio Solimões é desafiadora para soluções de abastecimento de água em função dos pulsos de inundação, falta de energia e longas distâncias. Para a coordenadora Maria Cecilia, além dos benefícios para a saúde e qualidade de vida, “as pesquisas do Instituto Mamirauá demonstraram que levar uma torneira para dentro das casas melhora o bem-estar destas pessoas, especialmente das mulheres, ao reduzir o esforço de carregar os baldes de água dos rios e permitir o desenvolvimento de novas atividades com o tempo livre”.
Instituto Mamirauá
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é uma Organização Social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O Instituto, criado em 1999, vem atuando ao longo dos anos no desenvolvimento de pesquisas científicas sobre a biodiversidade, manejo e conservação dos recursos naturais da Amazônia de forma participativa e sustentável.
Com sede em Tefé (AM), no coração da Amazônia, suas ações são voltadas à criação e à consolidação de modelos de uso da biodiversidade para o desenvolvimento econômico e social de comunidades tradicionais. Entre seus principais territórios de atuação estão as Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no estado do Amazonas, que juntas somam uma área protegida de quase 3,5 milhões de hectares e mais de 15 mil moradores.
A equipe do Instituto Mamirauá é formada por profissionais e pesquisadores com expertise técnica e profundo conhecimento do território, da biodiversidade e das dinâmicas sociais, que trabalham em estreita colaboração com as populações locais.
O PQV atua, desde os anos 1990, na melhoria das condições de vida de moradores de áreas rurais da Amazônia. As ações se expandem para outros locais da Amazônia por meio de projetos, parcerias e do treinamento de multiplicadores. O Programa atua na sensibilização das populações sobre temas ligados a qualidade de vida e no desenvolvimento e reaplicação de tecnologias sociais voltadas para melhoria de estruturas domiciliares e comunitárias.
O GPIDATS atua de forma interdisciplinar para o desenvolvimento regional e melhoria da qualidade de vida da população ribeirinha, através do emprego de tecnologias sustentáveis na conservação dos recursos naturais, bem como fornecendo subsídios à implementação de políticas públicas de desenvolvimento social. Entre as pesquisas do grupo estão Tecnologias Sociais de abastecimento e tratamento de águas, esgotos e energia solar.
Texto: Leonardo Capeleto
PUBLICADO POR: INSTITUTO MAMIRAUÁ
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