Expedição Centenária Roosevelt-Rondon  3ª Parte – XX 

Tenente Lyra – Varadouro (K. Roosevelt)

Ten Marques (KM 100) – KM 252 – IV 

19 a 21.03.1914   

– Relata Rondon – 

19 a 21.03.1914 – Iniciada a construção no dia 19, já na tarde de 21 lançávamos à água as novas canoas “Esbelta” e “Chanfrada”, que nos permitiram retomar os nossos trabalhos de reconhecimento na manhã seguinte. […] Assim percorremos 9.970 m, transpondo primeiro, com pequeno trabalho, uma cachoeira formada pelo afloramento do pórfiro quartzoso, e chegando depois à outra muito mais importante, de dois paredões de diábase, que precisava ser contornada por um varadouro de 850 m.

A esta última demos o nome de “Cachoeira da Felicidade”; e aí estabelecemos o nosso 15° acampamento. Armadas as barracas, pediu-me o Sr. Roosevelt uma conferência, para expor o seu pensamento sobre o modo por que deveríamos conduzir os trabalhos da Expedição. A sua opinião era que os chefes de empreendimentos de certa importância não se deviam ocupar com os detalhes da obra a realizar, mas somente com a determinação dos pontos principais e na medida necessária para caracterizá-la em seus traços gerais, abrindo e desbravando o caminho para os operadores especiais, que não tardariam a vir preencher os claros correspondentes àqueles detalhes.

Isto posto, ele opinava pela conveniência de ser retomado o levantamento expedito. Respondi que ali estávamos para o acompanhar e guiar na travessia do Sertão e que, portanto, executaríamos os serviços de acordo com os seus desejos; empregaríamos os maiores esforços para lhe dar a satisfação de ver reduzido ao mínimo possível o tempo que ainda tinha de gastar nesta Expedição. Por tal motivo, o levantamento topográfico prosseguiu sem podermos retirar todo o proveito dos recursos técnicos de que dispúnhamos e com os quais vínhamos realizando um trabalho bastante exato e rigoroso. (RONDON)

– Relata Roosevelt – 

19 a 21.03.1914 – Três semanas se tinham passado desde nossa partida descendo o Rio da “Dúvida”. Havíamos percorrido seu curso sinuoso pelo trajeto de 190 km, com uma queda de nível avizinhando-se de 124 m. Fora um avanço moroso. […] Enquanto eram construídas as canoas, desci pela manhã com Kermit, a pé, a fim de examinarmos as corredeiras alguns quilômetros abaixo. Achamos vestígios antigos de índios. Poucas aves havia e estas se conservavam no alto do arvoredo. Vimos rastos frescos de uma anta e, sob uma cajazeira ([1]), as pegadas de capivaras que estiveram comendo as frutas caídas. Essa fruta é deliciosa e constituiria uma valiosa contribuição para os nossos pomares. A cajazeira, embora tropical, é uma árvore robusta, desenvolve-se muito quando cultivada fora do mato e facilmente pega de galho. Nossa secretaria da agricultura devia verificar se ela se aclimataria no Sul da Califórnia e na Flórida. O nome de família do Médico provinha dessa árvore. Seu avô paterno, embora de sangue português, era um Brasileiro de vivo patriotismo.

Muito moço, quando foi proclamada a independência do Brasil, não quis conservar seu apelido português, e por isso o substituiu pelo da bela árvore Brasileira em apreço. Essas mudanças de nomes são comuns no Brasil. O Dr. Vital Brasil, o homem que estuda o veneno das cobras, teve o nome escolhido por seu pai, cujo próprio nome de família era inteiramente diferente, sendo ainda diverso o nome de seus irmãos.

[…] O Rio tinha serpeado de tal sorte que, viajando meia légua, avançávamos um quarto de légua para o Norte. Nosso progresso tinha sido muito vagaroso; enquanto não saíssemos da região das corredeiras, que se sucediam, não era provável que pudéssemos adiantar-nos com maior rapidez, tais os trabalhos e riscos que elas nos traziam. (ROOSEVELT)

– Relata Cherrie – 

19.03.1914 – Na noite passada, passei muito mal com uma indigestão que me acometeu por algumas horas. Não acredito que já tenha tido tão terrível dor de cabeça, achei que minha cabeça fosse estourar. Acho que o Coronel Rondon estava apreensivo em relação aos índios; ele levantou-se antes das 02h00. As duas árvores foram derrubadas e progredia bem a fabricação das canoas. (CHERRIE)

20.03.1914 – Há muito pouco para ser reportado hoje. São raras as aves nas cercanias do Acampamento e não consegui uma única pele. O trabalho nas canoas continua evoluindo bem. Uma canoa está pronta e a outra deverá estar concluída até às 12h00 de amanhã. Com estas 2 novas canoas, espero que avancemos um pouco mais rápido. Descobrimos hoje que um dos Camaradas tem roubado nossas rações de emergência. Quinze caixas tinham desaparecido. (CHERRIE)

21.03.1914 – Esperávamos partir hoje, mas os trabalhos nas canoas foi retardado e, finalmente, o Cel Rondon confessou que era necessário realizar mais algumas observações para Latitude etc. […] Hoje, nós, americanos, ficamos agradavelmente surpresos ao tomar conhecimento que o Rio Aripuanã já era conhecido até 08° 48’ S ‒ um ponto que servia de limite entre as fronteiras que entre os estados de Mato Grosso e Amazonas. Desta maneira, temos uma distância muito menor até nosso destino final do que esperávamos. Aripuanã é o nome do curso inferior cuja parte superior é o Rio Roosevelt. O Aripuanã tem suas próprias nascentes a algumas milhas a Oriente das cabeceiras do Roosevelt. (CHERRIE)

Relata Viveiros –  

21.03.1914 – Andava o Sr. Roosevelt muito preocupado. Resolveu-se, finalmente, a ter comigo uma Conferência:

–  Roosevelt: Kermit teve a inaudita felicidade de escapar com vida do acidente em que pereceu Simplício. Não me conformo em ver a vida de meu filho ameaçada a cada momento, pela presença de índios, mais do que a qualquer membro da Expedição, uma vez que sua canoa vai à frente. Não convém continuar com tal processo para descobrir a verdade sobre o Rio da Dúvida. É preciso limitar-nos ao levantamento expedito, porque os chefes, num grande empreendimento, como este, só devem se ocupar com a determinação dos pontos principais.

–  Rondon: Isso, pessoalmente, não me será possível. Mas estou pronto a orientar a travessia do Sertão pelos seus desejos, reduzindo ao mínimo o tempo da Expedição.

–  Roosevelt: Os grandes homens não se preocupam com minúcias…

–  Rondon: Nem sou um grande homem, nem se trata de minúcia. O levantamento do Rio é elemento indispensável, sem o qual a Expedição, no que me toca, terá sido inteiramente inútil.

Afinal propus:

–  Rondon: O Sr. Kermit não irá mais à frente.

E assim chegamos ambos a um acordo, concluindo o Sr. Roosevelt:

–  Roosevelt: Conheci, em minha vida, dois grandes Coronéis: o que resolveu o problema do Canal do Panamá e … Rondon. (VIVEIROS)

22.03.1914 

– Relata Roosevelt –  

22.03.1914 – De manhã, partimos com as nossas seis canoas e percorremos 10 km. Vinte minutos após a partida, chegáramos às primeiras corredeiras. Todos seguiram a pé, exceto os três melhores remadores que levaram as canoas, uma após outra, em uma hora de trabalho. Logo depois encontramos uma colmeia na copa de uma árvore que pendia sobre o Rio; nosso piloto subiu para tirar o mel, mas ah! – perdeu tudo ao descer. Chegamos a um pequeno salto a prumo, no qual não nos atrevemos a descer nas canoas sobrecarregadas, toscas e instáveis, como eram. Por fortuna, foi possível seguirmos por um Braço profundo, que dava voltas por espaço de um quilômetro, reentrando no Rio a 50 m de distância de onde partira, exatamente abaixo do salto. Depois de hora e meia de navegação, a contar da partida, deparou-se-nos uma longa série de corredeiras que nos tomou seis horas para a descida, e acampamos, por isso, junto ao remanso inferior.

Tudo foi retirado das canoas e estas desciam uma após outra, sustentadas pelas cordas e, mesmo assim, quase perdemos uma. Descemos pela margem direita. Na oposta, havia uma taba de índios, evidentemente só habitada na época da estiagem. Os talhos em troncos de árvores indicavam que esses índios possuíam machados, facões e roças antigas em que milho, feijão e algodão tinham sido cultivados. […] (ROOSEVELT)

– Relata Cherrie – 

22.03.1914 – Nós, finalmente, partimos do Acampamento 14, por volta das 08h30. Depois de vinte minutos de navegação, chegamos a uma corredeira que foi ultrapassada com razoável sucesso com as canoas carregadas. Executando esta primeira série de Rápidos esta manhã, escapamos, por pouco, de uma catástrofe. Uma das balsas encheu d’água, os homens saltaram ao mar e, se não fosse a ajuda oportuna de um dos tripulantes dos outros barcos, algumas de nossas provisões teriam sido perdidas. Às 12h00, chegamos às cabeceiras de uma longa série de Rápidos [chamados “Cachoeiras da Felicidade”] e acampamos, à noite, a jusante deles. Os homens conseguiram conduzir as canoas [vazias] pelos Rápidos. (CHERRIE)

23.03.1914 

– Relata Rondon – 

23.03.1914 – Da cachoeira da Felicidade, partimos, às 07h00 de 23. Mas, logo adiante, tivemos de suspender a marcha, porque o Rio enveredava encachoeirado por uma garganta aberta num contraforte de quartzito, que passa da margem esquerda para a direita, na direção de SE para NE.

Por toda a parte se viam grandes blocos de pedra atirados uns sobre outros, pela força rompente da correnteza; e se isso dava ao lugar um aspecto bastante pitoresco, em compensação aumentava a dificuldade de se descobrir o Canal por onde as canoas descarregadas pudessem ser varadas. O primeiro reconhecimento, conduzido pela margem esquerda, não deu outro resultado senão o de encontrarmos novos vestígios do Índios. Passamos, pois, para o lado direito, e aí encontramos o Canal conveniente. As cargas foram transportadas por terra, com um percurso de 1.096 metros, e o trabalho só terminou à tarde, quase às 16h00. Ainda assim, prosseguimos a viagem; passamos por um penedo de diábase, da altura de 2 m sobre o nível do Rio, e fomos estabelecer o nosso 16° acampamento num ponto de onde se ouvia o rumor surdo das águas, correndo entre pedras. Nesse dia, em que trabalhamos desde as 07h00 até depois das 17h00, não conseguimos avançar mais do que 12.600 m. Se não fossem os obstáculos, poderíamos ter feito mais de 38 km, só em 8 horas, pois que o levantamento marchava à razão de 81 metros por segundo ([2]). (RONDON)

– Relata Roosevelt – 

23.03.1914 – […] À nossa frente, o Rio, debruado pela mata, corria em duas muralhas verdes esfumadas pela neblina. O Sol em seguida atravessou o nevoeiro, refulgindo a princípio num rubro esplendor que primeiro se transformou em cor de ouro e depois numa alvorada de metal em fusão. Naquela luz deslumbrante, sob o azul vivo do céu, cada detalhe da floresta majestosa se oferecia nítido ao olhar: as árvores gigantes, o entrelaçado do cipoal, os recessos escuros sob abóbadas de verdura em que as trepadeiras recobriam tudo.

Onde havia alguma grande rocha mergulhada, a superfície do Rio se encrespava em ondulações. Em certo ponto, uma rocha piramidal se erguia no meio do caudal, a 02 m sobre a água. Achamos nas margens sinais recentes de índios. […] Naquela parada, matamos um papa-formigas interessante ([3]). Do porte de uma toutinegra, preto retinto, com o reverso das asas e da cauda branco, algum branco entre as penas da cauda, tinha uma grande pinta branca no dorso, comumente quase oculta, por serem as penas ali compridas e crespas.

Quando atiramos o pássaro, que era macho, estava ele fazendo festas a um passarinho menor de coloração escura, sem dúvida a fêmea; e a nota mais viva de sua plumagem era aquela mancha branca das costas. Levantava ele as penas brancas, ostentadas de modo que aquele ponto brilhava como o “crisântemo” sobre o nosso veado aspa-de-garfo, quando alertado por qualquer motivo. No sombrio da mata não era fácil ver o pássaro, mas o brilhar daquela mancha de penas alvas denunciava-o imediatamente, chamando a atenção. […] (ROOSEVELT)

– Relata Cherrie –  

23.03.1914 – Depois de deixar o Acampamento 15, navegamos, por 45 minutos, em um Rio largo e tranquilo e pudemos admirar as belas paisagens da floresta tropical ao longo das margens. Logo depois chegamos a uma longa série de Rápidos onde foi necessário carregar as cargas por uma trilha de uns 1.200 metros. O transporte dos barcos vazios à sirga transcorreu sem maiores dificuldades e o transporte das cargas, que fora concluído pelas 16h00, recomeçou novamente por uns sete quilômetros.

Progredimos muito lentamente em decorrência dos inúmeros Rápidos perigosos que nos forçaram a transportar as cargas frequentemente. Nossa situação, a cada dia, se agrava com a diminuição da oferta de alimentos. (CHERRIE)

24.03.1914 

– Relata Rondon – 

24.03.1914 – Ao amanhecer de 24, depois de termos perseguido, sem resultado, uma anta que nos aparecera no Rio [o que deu lugar a denominarmos o 16° acampamento de “Anta Perdida”], embarcamos nas canoas e fomos reconhecer a cachoeira que se anunciava pelo fragor da sua queda. Decorridos 33 minutos, tínhamo-la alcançado e começamos a explora-la do lado direito, por terra. Andamos, ao longo de seu curso, mais de um quilômetro, no fim do qual existe enorme enseada de cerca de 400 m de comprimento; acabamos, porém, convencendo-nos de que por ali seria impossível descer as canoas, visto como as águas correm impetuosas sobre leito de diábase, cortado de espaço a espaço em degraus, que formam uma série de saltos.

Passamos para a outra margem, eu, o Ten Lyra, o Sr. Kermit e o canoeiro Antônio Correia, afim de vermos se por aí seriamos mais felizes. Pouco havíamos avançado no novo reconhecimento, quando fomos surpreendemos pela vista de outro Rio, que entrava no Roosevelt com a largura de 40 metros e volume maior do que o de todos os tributários anteriormente assinalados. Conquanto não pudéssemos levar mais adiante a nossa exploração, demo-nos por satisfeitos com o nosso trabalho, porque descobrimos um Canal por onde poderíamos fazer passar as canoas menores; as outras seriam arrastadas por terra.

No entanto, não me quis afastar do Rio recém descoberto antes de ter acertado com o nome que mais conviria adotar para designá-lo levando em consideração a grandeza das suas águas, o tom poético e encantador das suas margens e da sua Barra e ainda a riqueza das suas terras de lavoura, muitíssimo apropriadas à cultura da cana de açúcar, do café e de todos os cereais. Ao lado de algumas árvores de castanha e de numerosíssimos exemplares da hevea brasilienses, víamos as palmeiras uacuris, os cipós d’água e muitas outras espécies vegetais, que atestam a excelência do solo onde nascem e florescem. Este era, inquestionavelmente, de todos os descobrimentos geográficos que vínhamos realizando desde 27 de fevereiro, o mais notável e o mais importante; e pois que pertencia ao território de Mato Grosso, só o nome de um personagem credor da gratidão mato-grossense, pelo amor e dedicação com que houvesse servido à sua gente e à sua terra mereceria, ser lembrado, para receber a homenagem de ficar nele memorado.

Nestas condições, quem não se recordaria logo da figura eminentemente simpática a todos brasileiros e cara ao coração dos filhos de Mato Grosso, do soldado que lhes deu o esforço do seu braço, no transe dolorosíssimo da invasão paraguaia, do engenheiro que prestou o concurso de sua técnica no estudo da região dos pantanais dos Rios Negro, Tabouco e Aquidauana; e do escritor que melhor soube evocar as fugazes grandezas do recente passado de Vila Bela, e pintar, realçando-as carinhosamente, as belezas e grandiosidades daquelas terras e daqueles céus em que viu, recolheu e amorosamente cultivou a flor suavíssima da alma sertaneja, desabrochando e expandindo-se nos encantos da Inocência? Eu não podia, pois hesitar: fiz lavrar uma árvore, pujante de seiva e de vida, e em seu cerne duradouro inscrevemos as palavras:

RIO TAUNAY 

HOMENAGEM DA EXPEDIÇÃO ROOSEVELT-RONDON A 156.280 METROS DO PASSO DA LINHA TELEGRÁFICA  24 DE MARÇO DE 1914 (RONDON) 

– Relata Roosevelt – 

24.03.1914 – Pela manhã, precisamente ao partirmos do lugar do pernoite, uma anta atravessou a nado o Rio, um pouco acima do ponto onde estávamos. Infelizmente não conseguimos atirá-la. Um farto suprimento de carne de anta seria para nós de grande utilidade. Tínhamos partido com víveres para 50 dias, que não significavam, em absoluto, rações completas para cada homem. Fazíamos duas refeições diárias um tanto reduzidas – tanto as nossas como as dos Camaradas – exceto quando obtínhamos palmitos. Para nossa mesa, tínhamos as latas arranjadas por Fiala, cada uma com as rações de seis pessoas, o que era o nosso caso. Mas fazíamos cada lata durar dia e meio e, além disso, repartíamos um tanto de nossos alimentos com os Camaradas.

Somente nas raras ocasiões em que matávamos algum macaco ou mutum, ou quando apanhávamos algum peixe, todos comiam a fartar. Aquela anta seria um achado. Até então, a caça, o peixe e as frutas tinham sido por demais escassos para influírem em nossa reserva de alimentos. Numa Expedição como a nossa, percorrendo zona totalmente desconhecida, sobretudo em mataria fechada, pouco tempo se pode perder em paradas e não se pode ficar na dependência da caça. Só em regiões como o Norte e Oeste americano há 30 anos, ou a África do Sul no meio do século passado, ou a África Oriental agora poderia a caça constituir base de alimentação.

Naquela viagem, a única contribuição positiva da zona para nosso sustento fora o palmito. Dois homens eram diariamente escalados para tirar palmitos destinados à cozinha. Quilômetro e meio após deixarmos aquele acampamento, encontramos uma sucessão de grandes encachoeirados. O Rio ali serpeava em voltas e contravoltas e, na tarde precedente, ouvíramos o escachoar ([4]) daquelas corredeiras. Depois, deixáramos de ouvi-lo, mas Antônio Correia, nosso melhor homem para os serviços n’água, insistia sempre em que o barulho anunciava encachoeirados piores do que todos os que desde alguns dias vínhamos encontrando. “Cresci dentro d’água e conheço, como o peixe, todos os seus ruídos”, dizia ele. E tinha razão.

Tivemos que baldear as cargas quase pelo trecho de 01 km naquela tarde, sendo as canoas erguidas para a barranca, de modo a estarem prontas para, na manhã seguinte, serem arrastadas sobre os paus roliços. Rondon, Lyra, Kermit e Antônio Correia exploraram as duas margens do Rio. (ROOSEVELT)

– Relata Cherrie – 

24.03.1914 – Hoje à noite, faz exatamente três meses que deixamos Corumbá! Navegamos velozmente por quase 30 minutos, antes de chegar a montante das Cachoeiras. Um longo transporte foi necessário, tanto para a carga como para as canoas. Já há algum tempo, viemos consumindo pouco mais de meia ração. Mantendo este ritmo atual, só teremos rações suficientes para uns 25 dias! Os Camaradas já consomem uma grande quantidade de “palmito”. […] Ao cortar estacas para a barraca, acidentalmente, feri seriamente a mão esquerda. (CHERRIE)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 29.09.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia 

CHERRIE, George Kruck. Dark trails: Adventures of a Naturalist ‒ USA ‒ New York ‒ G. P. Putnam’s Sons, 1930.

RONDON, Cândido Mariano da Silva. Conferências Realizadas nos dias 5, 7 e 9 de Outubro de 1915 pelo Sr. Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon no Teatro Phenix do Rio de Janeiro Sobre os Trabalhos da Expedição Roosevelt‒Rondon e da Comissão Telegráfica ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ – Tipografia do Jornal do Comércio, de Rodrigues & C., 1916.

ROOSEVELT, Theodore. Nas Selvas do Brasil ‒ Brasil ‒ São Paulo, SP ‒ Livraria Itatiaia Editora Ltda ‒ Editora da Universidade de São Paulo, 1976.

VIVEIROS, Esther de. Rondon Conta Sua Vida ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Livraria São José, 1958.

Filmete 

https://www.youtube.com/watch?v=tYkH5YO38IQ&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=40   

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].

[1]    Cajazeira: cajá, taperebá – Spondias mombin ou Spondias lútea.

[2]    Na verdade 81 metros por minuto (38,88 km em 8 horas).

[3]    Papa-formigas: Papa-formiga-de-bando – Microrhopias quixensis.

[4]    Escachoar: borbotar.