Monitoramento hidrológico de cotas e vazões realizado pelo Serviço Geológico do Brasil gera dados essenciais para previsão de eventos extremos
A cheia recorde na bacia do rio Amazonas, maior bacia hidrográfica do mundo, em 2021 trouxe vários transtornos para a população do Amazonas e impactou também no Pará. Em junho, uma equipe do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) esteve em Óbidos (PA) para medir a vazão hídrica do rio Amazonas. Os dados foram coletados no período em que a região passava por uma inundação severa e a cidade convivia com diversos pontos de inundação.
A medição foi realizada em duas etapas, com o objetivo de gerar dados de cotas e vazão precisos para aprimorar o monitoramento hidrológico na região amazônica. A vazão registrada no dia 1º de junho foi de 270.392,8m³ por segundo, a maior da série de dados. Já em 12 de junho, a vazão média era de 267.674,7m³ por segundo. A comparação entre os dados da série histórica confirmou as cotas recordes. No período, o nível do rio baixou de 8,60 metros em 1º/06 para 8,35 metros em 12/06. A cota de inundação em Óbidos é atingida aos 7,40 metros. Para termos uma ideia da variação de níveis, em época de vazante, para o mês de Junho, o rio Amazonas normalmente registra 7,15 metros. Nesta sexta-feira, 06 de agosto, a estação de Óbidos registra 7,32 metros.
Momentos de cheia são ideais para calibrar os modelos hidrológicos, pois geram dados de cotas e vazões que são imprescindíveis, por exemplo, para previsão de eventos extremos, como grandes cheias e inundações. O Serviço Geológico do Brasil opera 16 sistemas de alerta hidrológico no Brasil. Segundo Alan Sousa, técnico em Hidrologia do Serviço Geológico do Brasil, o registro das vazões é importante para o estudo da disponibilidade hídrica na região. “Além de monitorar in-loco eventos que afetam as comunidades ribeirinhas, aumentam o risco de desbarrancamentos de margens, problemas com saneamento, mobilidade, e para o comércio, com impactos na rotina da região amazônica, onde os rios são as principais vias de transporte da população e de todos os bens necessários para a vida das pessoas”, afirma.
O estreito de Óbidos foi o ponto escolhido por ser a última localidade no rio Amazonas onde se pode ir de margem a margem, e onde toda a vazão do rio Amazonas, com seus principais afluentes, passa num ponto só e sem os efeitos da maré do Oceano Atlântico. A velocidade máxima do deslocamento da água era de 3.74 metros por segundo em 12 de junho. O valor máximo entre as quatro medições que o SGB-CPRM fez na data foi de 278.042,7 m³ por segundo, sendo considerada a maior da série de dados, desde que o registro é feito com equipamento de medição acústica. Com este valor de vazão poderia ser abastecida uma cidade como São Paulo, em sua necessidade hídrica de um dia, em 15 segundos.
Medição
Para medir a vazão do rio, o SGB-CPRM utiliza o método acústico, a partir de um equipamento chamado Acoustic Doppler Current Profiler (ADCP) de 600 kHz. O aparelho mede o retorno do eco emitido por ele mesmo a partir da velocidade do deslocamento das partículas em cada coluna de água. Os pesquisadores comparam a medição a um ecocardiograma, sendo que o ouvido humano capta em média ondas sonoras de 20 Hz a 20 kHz, frequências bem mais baixas que a do ADCP e exame sonoro do coração.
O método foi escolhido, segundo o técnico em Hidrologia Leandro Guedes, porque os ventos estavam muito fortes na hora da medição, prejudicando o deslocamento do barco e dificultando uma travessia contínua e mais reta. Apesar disso, os registros ficaram de acordo com os valores medidos na série histórica para a estação de Óbidos.
A estação de monitoramento compõe a Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) e operada pelo SGB-CPRM.
Janis Morais – Bettina Gehm – Colaborou Victor Paca (Sureg-Belém)
Assessoria de Comunicação (ASSCOM)
Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM)
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