O alerta foi feito tanto para a necessidade de organização dos dados para uma maior transparência quanto para eventuais problemas que possam atrasar a vacinação no Marajó

Postada em: Museu Goeldi

Agência Museu Goeldi – Três integrantes da Campanha Marajó Vivo lançaram um alerta sobre o ritmo de vacinação na região paraense do Marajó. Usando como referência os dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde do Pará (SESPA), a nota técnica ressalta que, entre os dias 19 de janeiro e 1º de julho deste ano, o Marajó recebeu 238.224 de doses, mas somente 146.407 vacinas foram aplicadas.

Os autores do levantamento são a pesquisadora Ima Célia Guimarães Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o consultor de projetos socioambientais Carlos Augusto Ramos e Fabiana Pereira, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais.

Território de 10,4 milhões de hectares, o Marajó é composto por 16 municípios e população de 564 mil habitantes em 2019. É o maior arquipélago fluviomarinho do planeta. Formada por inúmeras ilhas, a região concentra um vasto cenário de riquezas naturais, de história e de patrimônios culturais, mas possui indicadores socioeconômicos muito abaixo das médias do estado e do país.

O Marajó registrou no dia 14 de abril de 2020 o primeiro caso de COVID-19, no município de Afuá. A pandemia trouxe à tona os grandes problemas enfrentados pela população local, como o baixo acesso a serviços de saúde e saneamento básico, a escassez de renda e trabalhos informais desempenhados na rua, entre outros.

Vacinação – Segundo a nota da Campanha Marajó Vivo, quando considerada a aplicação da primeira dose da vacina até 1º de julho, apenas 19,8% da população marajoara foi contemplada. A média de aplicação da primeira dose é inferior a do estado do Pará (30,25%) e a do país (34,21%).

Em relação ao número total de vacinados com as duas doses, apenas 4,6% da população marajoara foram alcançados, o que corresponde a cerca de 26 mil habitantes. Esse percentual é considerado muito abaixo do apresentado pelo estado do Pará (13,19%) e do Brasil (12,55%) para o mesmo período.

As análises apontam ainda diferenças entre os municípios em relação à aplicação de vacinas. Segundo os dados analisados, apenas cinco municípios aplicaram mais de 80% das doses enviadas pelo governo estadual: Melgaço (94,88%), Breves (92,30%), Soure (87,16%), Bagre (84,98%) e Portel (82,17%). Em pior situação, encontram-se os municípios de Afuá e Salvaterra, ambos abaixo de 40% de doses aplicadas.

Segundo a nota, os municípios que possuem as maiores taxas de vacinados com as duas doses no Marajó são: Soure, Gurupá, Ponta de Pedras e Breves. Já as menores taxas foram detectadas nos municípios de Chaves, Anajás, Muaná e Santa Cruz do Arari.

Os autores ressaltam a possibilidade de divergência entre os dados publicados pela SESPA e a realidade da vacinação em cada município da região, na medida em que são distintas as condições de envio das informações para o sistema estadual.

Eles explicam também que consideraram os percentuais de vacinação em relação à população total por ser a métrica mais adequada para avaliar a chamada imunidade coletiva, que pressupõe a vacinação de pelo menos 70% de toda a população, fundamental para reduzir a circulação do vírus e a retomada de uma maior “normalidade”, com as devidas precauções.

Prefeituras – As prefeituras dos 16 municípios do Marajó foram procuradas mas apenas quatro responderam sobre a quantidade de vacinas aplicadas. Os contatos foram feitos pelo radialista Dário Pedroso, que trabalha em Salvaterra e também colabora com a Campanha Marajó Vivo.

O vice-prefeito de Afuá, Sandro Cunha, alega que o atraso na alimentação do sistema decorre da logística de vacinação no interior.

“O problema é que o nosso município, geograficamente, é de difícil acesso. Vacinamos no interior e precisamos retornar com todas as nossas fichas para a cidade para poder alimentar o sistema do vacinômetro. Mas a nossa realidade vacinal é bem diferente”, afirmou. As informações atualizadas sobre as vacinas administradas no município não foram enviadas até o fechamento deste texto.

O secretário de saúde de Ponta de Pedras, Leonardo Lobato, questiona a adoção do percentual de vacinados em relação à população total, prática adotada por pesquisadores e veículo de comunicação de todo o país. Segundo ele, esses cálculos devem ser feitos apenas sobre o total da população adulta. “Os que tem menos de 18 anos não estão nas relações de quem será vacinado, portanto não entram nessa conta”, defende.

No entanto, epidemiologistas afirmam que o percentual em relação à população vacinável não serve como parâmetro para o cálculo de imunidade coletiva, pois embora os menores de 18 anos tenham uma letalidade menor do que outros grupos, como o de idosos, eles também podem contrair e transmitir a doença.

A Prefeitura de Soure informou que, até o dia 5 de julho, aplicou 13.447 doses, entre as 24.168 recebidas.

A Prefeitura de Muaná apontou apenas que segue com a vacinação do público de 18 a 59 anos.

Preocupação – “A baixa cobertura vacina no Marajó (detectada com os dados disponibilizados pela SESPA) preocupa porque para termos o controle da pandemia do Covid-19, precisamos que toda a população esteja vacinada, reduzindo assim o número de casos, internações e óbitos”, ressaltam os autores da nota.

“Frente ao excesso de notícias falsas e da negativa de uma parcela da população brasileira quanto ao caráter de imunização da vacina contra o novo coronavírus, precisamos entender melhor esse cenário no Marajó, esclarecer as nossas dúvidas e compartilhar dados científicos sobre o tema”, afirmam.

Para ofertar informações confiáveis à população, a Campanha Marajó Vivo organizou a publicação “Vacina para todos: o que precisamos saber sobre a vacina da covid-19”, que pode ser baixada aqui.

Os autores da nota também sugerem algumas ações que ajudem a acelerar o processo de imunização dos marajoaras, como a cobertura de mais faixas de idade, a busca ativa e até o sorteio de prêmios para estimular as pessoas a tomarem a segunda dose da vacina.

A mobilização da população com campanhas nas ruas e nas comunidades rurais, a produção de material contra fake news e a organização para uma maior transparência dos números de vacinação são outras medidas recomendadas por eles diante do contexto de baixa vacinação.

Marajó Vivo – Diante da pandemia de COVID-19, integrantes do Museu Goeldi, do Museu do Marajó, da Prelazia do Marajó, da Diocese de Ponta de Pedras, da Irmandade do Glorioso São Sebastião, da Fundação pela Inclusão do Marajó, do Observatório de Direitos Humanos e Justiça Social do Marajó, vinculado à Universidade Federal do Pará (UFPA), e do Instituto Iacitata Amazônia Viva uniram-se na Campanha Marajó Vivo, que hoje agrega mais de 20 instituições.

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