A invasão e o desmatamento de florestas públicas não destinadas na Amazônia jogaram 1,871 bilhão de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera entre 2003 e 2019, agravando assim o efeito estufa e as mudanças climáticas globais e aumentando a pegada de carbono do Brasil.
O problema se intensificou nos dois últimos anos do período estudado, como mostra artigo científico publicado nesta semana na revista “Frontiers in Forests and Global Change”. As florestas públicas não destinadas são áreas que pertencem à União e aos Estados, e que deveriam ser destinadas para a conservação ou o uso sustentável, de acordo com lei de 2006 – como não o foram, são alvo constante de grilagem.
A equipe de pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woodwel Climate Research Center, dos Estados Unidos, descobriu que as emissões associadas a distúrbios na floresta somaram quase 11 bilhões de toneladas de CO2 equivalente nos anos estudados – 44% delas relacionadas à degradação e 56%, ao desmatamento.
Apenas esse último tipo de mudança no uso do solo, o desmatamento com corte raso, quando o solo é exposto, é contabilizado nas estimativas oficiais de emissões de gases do efeito estufa, devido a dúvidas metodológicas sobre o que é resultado da degradação florestal; contudo, pesquisas recentes já trazem segurança sobre como esse processo funciona. Mesmo sem contar degradação, o desmatamento responde por 44% da contribuição total do Brasil para a piora climática, segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases do Efeito Estufa).
“A ameaça climática não vem apenas do desmatamento na Amazônia mas do processo de degradação de suas florestas remanescentes”, explica o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho, um dos autores do artigo. “Parar o desmatamento imediatamente e recuperar florestas em grandes áreas é a única via para que esta ameaça climática não se concretize.”
Os “donos” das emissões
Outra questão levantada pelos cientistas é a influência positiva da destinação de florestas para proteção, na forma de unidades de conservação e terras indígenas. As duas categorias fundiárias, juntas, responderam por 18% de todas as emissões contabilizadas, mesmo cobrindo 46% da área estudada.
Por outro lado, as florestas públicas não destinadas tiveram quase a mesma participação (17%), mas cobrindo somente 15% da área – e isso considerando que parte do desmatamento que acontece em territórios indígenas é decorrência de invasões, como mostra outro estudo divulgado pelo IPAM em março.
“Terras públicas sem destinação parecem ter o estigma de terras de ninguém, e isso tem que mudar. É preciso que essas áreas sejam logo destinadas para um uso florestal e assim sair do mercado ilegal de terras, que só tem gerado emissões por desmatamento e fogo”, afirma a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, também autora do artigo.
Imóveis rurais e outras categorias são o grosso das emissões, 66%, entre 2003 e 2019. “O tipo de categoria fundiária tem um papel decisivo em explicar essas perdas de carbono”, escrevem os cientistas. “O desmatamento ilegal e a grilagem em florestas públicas não destinadas difundidos e crescentes são importantes vetores das emissões de carbono da floresta na região.”
PUBLICADO POR: IPAM AMAZÔNIA
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