As regiões da Amazônia com desmatamento em torno de 30% ou superior apresentaram uma importante alteração na estação seca (principalmente agosto, setembro e outubro), ficando mais seca, mais quente e mais longa, representando um período de grande estresse para a floresta. Estas regiões apresentaram uma emissão de carbono 10 vezes maior que as regiões com desmatamento inferior a 20%.

Postada em: INPE

O Artigo intitulado “Amazonia as a carbon source linked to deforestation and climate change” desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), pela pesquisadora Luciana V. Gatti, publicado na revista Nature e teve participação de outros cientistas do Instituto e também do CEMADEM e IEA-USP. O Estudo contou também com a parceria de cientistas de universidades e instituições de pesquisa estrangeiras, entre elas a UERJ, o IPEN, a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), USA, a University of Leeds – UK, também o National Isotope Centre, GNS Science, New Zealand, a Wageningen University, Department of Meteorology & Air Quality, Wageningen, Netherlands e a University of Groningen, Centre for Isotope Research, Groningen, Netherlands.

O Estudo apresenta resultados de nove anos de pesquisa com aproximadamente 600 voos utilizando avião de pequeno porte (aproximadamente 8 mil amostras em coletas desde 4,4 km de altura até 300 m da superfície), em quatro localidades da Amazônia, representando as regiões nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste da Amazônia, mostrando a variação das emissões de carbono entre as 4 regiões e sua relação com o desmatamento e as mudanças climáticas na região.

O grupo de pesquisa teve a estratégia de utilizar um tipo de medida que tem uma representação em escala regional, onde foram utilizadas coletas com avião desde 4,4 km de altura até próximo a superfície e ao longo de 9 anos (2010-2018), para permitir a obtenção de uma média consistente sobre o que a Amazônia representa no balanço global de carbono. O longo período de estudo escolhido foi devido a observação, em estudos anteriores, de que a Amazônia apresenta grande variabilidade ano a ano no balanço de carbono. Os 4 locais de estudo com avião foram escolhidos para representar a maior parte da região Amazônica.

A pesquisa mostra que o desmatamento florestal diminui a condição da Floresta Amazônica de absorver CO2 da atmosfera. Nas quatro regiões estudadas foram encontradas magnitudes diferenciadas de desmatamento. As regiões mais desmatadas (> 30%) apresentaram uma estação seca mais estressante para a floresta: mais seca, mais quente e mais longa. Este estresse está fazendo com que a Amazônia, nestas regiões, emita 10 vezes mais carbono (lado Leste: estados do Pará e Mato Grosso), do que nas áreas com desmatamento inferior a 20%. Esta emissão muito maior ocorre tanto por apresentar grande emissão por queimadas, como por uma menor absorção de CO2 pela floresta. Durante os meses de agosto, setembro e outubro a redução de chuva (> 25%) é muito acentuada nestas regiões e apresenta aumento de temperatura > 2 ˚C, além da duração da estação seca estar maior. Esta condição promove um aumento da inflamabilidade da floresta e da mortalidade das arvores típicas de uma floresta tropical úmida.

A região sudeste da Amazônia (sul do Pará e norte do Mato Grosso) apresentou o pior cenário, onde a floresta já representa uma fonte de carbono para a atmosfera e a cada ano maior, além de apresentar as maiores extensões de área queimada de floresta. Esta região da Amazônia é a que mais gera preocupação, pois a degradação é extrema levando ao aumento da mortalidade das arvores. Durante os meses de estresse hídrico e temperaturas mais altas, além da ocorrência de queimadas nas áreas desmatadas, o fogo adentra na floresta que não foi desmatada, porem está muito seca e mais inflamável. Durante este período, também ocorre maior emissão de carbono do que absorção por parte da floresta, devido ao estresse climático. Isto significa que, além do desmatamento representar uma emissão de carbono para atmosfera, ele altera a condição climática na Amazônia e faz com que a floresta não desmatada também se torne uma fonte de carbono pra atmosfera, além de aumentar sua inflamabilidade.

O estudo mostra que a Amazônia representa uma fonte de carbono para a atmosfera, devido principalmente as queimadas, as regiões dentro da Amazônia Brasileira representam as maiores emissões de carbono para a atmosfera. O balanço de carbono (saldo final entre absorções e emissões) da Amazônia Sul-Americana (7.25 milhões de km2) determinado no período de 2010 a 2018, apresentou uma emissão de 1,06 bilhões de toneladas de CO2 lançados para a atmosfera por ano, e da Amazônia Brasileira (4.2 milhões de km2) foi de 0,87 bilhões de toneladas de CO2 por ano.

As emissões por queimadas representam a grande fonte de carbono, sendo uma emissão de 1,51 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera na Amazônia Sul-americana (1,06 milhões de toneladas de CO2/ano pela Amazônia Brasileira). Isto significa que na Amazônia as absorções pela floresta representam apenas 30% do total de emissões por queimada e na Amazônia Brasileira as absorções representaram apenas 18% das emissões por queimada. Se não houvessem as queimadas e o desmatamento, a Amazônia Pan-Americana removeria 0.45 bilhões de toneladas de CO2/ano da atmosfera, enquanto a Amazônia brasileira removeria 0.19 bilhões de toneladas de CO2/ano, pois é nela que se concentra a maior parte do desmatamento e queimadas.

Zerando o desmatamento e as queimadas, além de reduzirmos as emissões de CO2, também aumentaria a capacidade da floresta Amazônica de absorver carbono, contribuir com aumento da chuva e redução da temperatura, que por sua vez aumenta mais ainda a capacidade de absorver carbono formando um ciclo positivo, não só para a Amazônia, também para o restante do Brasil, da América do sul, e do planeta, pois estamos todos interligados. Não existem paredes na atmosfera.

O artigo estará disponível no link abaixo a partir do dia 15/07.
https://www.nature.com/articles/s41586-021-03629-6
Referências: Gatti, L. V. et al. Nature 595, 388-393 (2021)

PUBLICADO POR:    INPE