Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – X
Theodore Roosevelt – IV
O Paiz, n° 10.604 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 19.10.1913
Roosevelt
A Sua Visita ao Brasil
Notas Biográficas
Theodore Roosevelt, o 26° Presidente dos Estados Unidos, nasceu em Nova York, em 1858, graduou-se, em 1880, na Universidade de Harvard. Em 1882, foi eleito membro da Legislatura do Estado de Nova York, exercendo estas funções até 1884. Em 1889 o Presidente Benjamin Harrison o nomeou membro da Comissão de Serviços Civis dos Estados Unidos. Em 1895 foi colocado à frente do Comitê de Polícia da Cidade de Nova York. As suas excepcionais qualidades de precisão e de energia, a sua extraordinária capacidade de trabalho lhe valeram o Subsecretariado do Ministério da Marinha do Governo do Presidente William McKinley, nas vésperas da guerra Hispano-americana. Ao romperem hostilidades Espanha e América do Norte, Roosevelt organizou e dirigiu o 1° Regimento de Cavalaria Voluntária dos Estados Unidos, os “Rough Riders”, cuja conduta na guerra, que se originou da explosão do Maine, lhe valeu uma extraordinária nomeada em todo o seu País.
Depois da campanha de Cuba tornou-se Roosevelt de uma intensa e extensa popularidade nos Estados Unidos, O seu nome circulava, com tanto ou maior sucesso, como os de Dewey ([1]), Hobson ([2]) e outros personagens eminentes, que se evidenciaram no sangrento conflito bélico entre a velha Espanha e a jovem América. E dentro em breve era Roosevelt feito Governador do Estado de Nova York. Em 1900, juntamente com McKinley, eleito Presidente, o Partido Republicano sufragou o nome de Roosevelt para Vice-presidente da República Americana, elegendo-o por notável maioria sobre os candidatos democratas. No ano seguinte, em 1901, McKinley sucumbia ao atentado de Czolgoss ([3]), assassinado ao inaugurar um “certâmen” internacional em Buffalo, assumindo Roosevelt as rédeas do Governo de sua Pátria. Foi como chefe de Estado que mais se acentuou a poderosa individualidade do grande norte americano, imprimindo um cunho pessoal à sua ação administrativa, tomando iniciativas grandiosas e sobremodo atrevidas e ousadas, advogando um imperialismo de acordo com as bases do Partido Republicano, dando combate enérgico aos “trusts”, propugnando pela eficiência militar da nação.
Manifestando um assinalado amor pela democracia, intervindo nas questões entre operários e patrões para resolvê-las equitativamente e de acordo com as conquistas liberais da época, procurando extinguir o secular conflito de raças dos Estados Unidos, entre brancos e negros, por tudo isso, muitas vezes afrontando possíveis impopularidades, Roosevelt firmou um conceito de homem de ação e de energia que lhe deram a admiração que lhe consagra hoje o mundo inteiro. Para dissipar as constantes explosões de odiosidade dos brancos pelos negros, rompendo com inveteradas praxes e consagrados usos, Roosevelt assentou à sua mesa os homens de cor notáveis, o que causou, ao começo, uma grande sensação e talvez um início de reprovação da gente “yankee”. Um dos mais belos gestos do grande estadista que hoje aporta à capital do Brasil, e que o há de consagrar como benemérito da humanidade, foi o da Conferência de Portsmouth, por ele promovida, para pôr fim ao colossal duelo de morte em que se empenhavam a Rússia e o Japão. Deve-se, de fato, a este homem das mais audazes iniciativas, o Tratado de Paz que se seguiu às formidáveis batalhas de Mukden e de Kharbine. Deixando o Governo da União Americana, ao findar o seu período governamental, passou-o Roosevelt ao seu sucessor, William Howard Taft, que fora seu Secretário da Guerra. Empreendeu, então, o Ex-presidente uma aventurosa viagem pelo continente negro, às mais inóspitas e escaldantes regiões africanas, onde quis se comprazer na arriscada empresa de caça de animais ferozes, que vivem naquela terra ainda não sujeita aos influxos da civilização da nossa raça.
Foi às vésperas da sucessão de Taft que Roosevelt se apresentou novamente ao cenário político norte americano. Despendendo as suas extraordinárias energias em todos os colégios eleitorais, o paladino esforçado da grandeza dos Estados Unidos se multiplicou e se dividiu na propaganda da sua candidatura de combate à do Sr. Taft. Foi em um desses comícios, em que a sua eloquência, então demolidora, analisava com expressões veementes a obra de seu concorrente, que Roosevelt foi ferido, não se sabe se por um adversário, mas, sem dúvida, por um louco. Não esmoreceu, com este contratempo, a combatividade incansável do ardoroso democrata. E, assim lhe permitiu o seu restabelecimento, estava ele novamente à frente da campanha presidencial, em que a sua dissidência aproveitou aos democratas, com a eleição de Woodrow Wilson para a presidência da República, conseguindo, porém, Roosevelt uma imensa e significativa maioria de votos sobre o candidato que tão tenazmente hostilizara.
Não é só orador vibrante e convincente, abundante e preciso, o Ex-presidente Roosevelt; é ainda um escritor forte, sadio, de uma eloquência sóbria e de conceitos profundos, merecendo sempre as suas produções o exame e a ponderação que suscitam as obras de valor intrínseco e de profícuas revelações originais sobre problemas de interesse geral. Entre os livros com que Theodore Roosevelt há enriquecido as letras pátrias e universais, pois acham-se propagadas as tuas ideias pelo mundo inteiro, estão “The Naval War of 1812”, “Hunting Trips of a Ranchman”, “Life of Thomas H. Benton”, “Life of Gouverneur Morris”, e, além de outros, as suas últimas publicações, de tão justa notoriedade universal, entre as quais “A Vida Intensa” proemina magnificamente. […]
Um Radiograma de Roosevelt
O Sr. Lauro Müller, Ministro das Relações Exteriores, recebeu o seguinte radiograma do Coronel Theodore Roosevelt:
Muito apreciei seu telegrama, que agradeço, Sinto-me deveras satisfeito, por já me achar no Brasil, e espero ansiosamente o momento de nosso encontro – Theodore Roosevelt.
As Festas na Bahia
O Dr. Lauro Müller, Ministro das Relações Exteriores, recebeu ontem o seguinte telegrama do Dr. J. J. Seabra, Governador do Estado da Bahia:
Tenho a honra de comunicar a V. Exª que o Sr. Roosevelt foi recebido pelo Governo do Estado com todo carinho e as maiores distinções, rendendo-se-lhe todas as homenagens. Sua família, recebida por um grande número de senhoras, sentiu-se desvanecida com a gentileza do afetuoso acolhimento. O eminente estadista americano foi saudado na Câmara Municipal, em sessão soleníssima, pelo Dr. Intendente, e em nome do povo, pelo professor Dr. Frederico de Castro Rebello. Saudei-o em nome do Estado, no banquete do Instituto. Povo por toda a parte aclamou o Sr. Roosevelt, que chegou às 05h00, desembarcando às 08h30. Partiu agora, 14h00, sendo acompanhado até a bordo do “Van Dyck” por todo inundo oficial, pessoas do povo e grande número de senhoras. O Sr. Roosevelt significou o seu contentamento e gratidão em elevadas palavras ao meu Governo, à Bahia e ao povo. Aceite V. Exª minhas afetuosas saudações.
A Mocidade
Desejando a Associação Brasileira de Estudantes tomar parte nas manifestações projetadas ao Sr. Roosevelt, em cuja homenagem pretende realizar uma sessão solene, os Srs. Bruno Lima e Renato Almeida têm se entendido com o Itamarati e a Embaixada Americana, no sentido de obterem o apoio necessário para o êxito da ideia. O Sr. Edwin Morgan prometeu ao Secretário Geral envidar esforços para a realização do desejo da Associação, pondo em contato com a mocidade estudiosa o grande estadista que, em breve, hospedaremos.
A Associação conferiu ao Sr. Roosevelt o diploma de Associado Honorário, diploma que pretende entregar com solenidade, na presença dos Acadêmicos desta capital. […]
Uma Opinião do “Times”
O correspondente do Times, em Washington, escreveu ao seu jornal, não há muito tempo, isto é, depois que o Sr. Theodore Roosevelt regressou da sua excursão à África, e preparava-se para pleitear a sua reeleição, uma interessante crônica a respeito da influência que o eminente estadista exercia sobre os seus concidadãos.
Disse esse correspondente:
Sr. Roosevelt representa tudo o que há de vital, tudo o que há de mais desejável, pela maioria do povo para a vida americana. A sua personalidade servia de apoio à sua política, dando-lhe popularidade; essa política, o tempo e o método de enumerá-la puseram em relevo uma personalidade sempre enfática, como os que atraem as imaginações populares.
A popularidade de Sr. Roosevelt é, na verdade, a melhor justificativa da sua presidência. Significa que os ideais por que combateu são os ideais do País inteiro. Mas, o êxito da sua propaganda não explica inteiramente a sua popularidade.
A influência do político não teria sido robustecida pela influência dessa personalidade de primeira grandeza. Os seus esforços teriam sido qualificados de grotescos, e é muito possível que o tivessem vaiado, se o caráter não tivesse inspirado respeito e carinho. O Sr. Roosevelt é um homem. Os seus próprios inimigos o reconhecem. Os seus admiradores – e são muitos – vão mais longe. Julgam-no um conjunto de tudo o que de bom tem a Nação Americana.
A sua facilidade de adaptação, a honorabilidade, a limpidez absoluta da sua vida, as rápidas etapas na sua carreira política, cada qual mais feliz do que a anterior, granjearam a estima dos seus concidadãos. Sorriam, ao verem os seus grandes gestos, mas não supunham que fossem desagradáveis. Ao contrário, não havia quem não encontrasse em Mr. Roosevelt qualquer coisa de atraente.
Para os habitantes do Leste americano, era um “Harvard man” [antigo aluno da Universidade de Harvard], e para os alunos de Harvard, o reformador de Nova York. Para os habitantes do Oeste, era um “rancher” feliz, um ousado caçador. Os soldados do Oriente e do Ocidente americanos recordam os seus “rough-riders”. Os marinheiros não esqueceram que foi ele quem preparou a frota para a vitória de Manilha.
Os literatos e os naturalistas conhecem seus livros sobre história e sobre os “sports”. Os políticos, que é um homem de grande inteligência; os diplomatas, que soube guiar, com mão firme, os Estados Unidos durante o período da perigosa transição, que se seguiu à guerra com a Espanha; os jornalistas inclinam-se ante a habilidade técnica com que redige as suas mensagens e os seus discursos, com as suas frases lapidárias e a sua força compulsiva. Se há, por acaso, alguma coisa de superficial nas qualidades de Mr. Roosevelt, nem por isso perdem de valor. Talvez não seja em gênio, se se excetua a sua infinita capacidade de trabalho e de concentração. A sua energia é tão notável, quanto o é a sua facilidade de assimilação.
Na sua presidência desempenhou o seu papel com o entusiasmo de um moço, o senso prático de um estudante e o otimismo de um idealista. E por toda a sua vida corre um sopro de invencível perseverança, de persistência ‒ persistência na sua fé no povo e na sua intenção de ajudá-lo a elevar-se por si mesmo. (O PAIZ, n° 10.605)
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 03.06.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
O PAIZ, n° 10.605. Roosevelt – A Sua Chegada Hoje ao Rio de Janeiro – Welcome Sir Theodore Roosevelt – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – O Paiz, n° 10.605, 20.10.1913.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
[1] Dewey (George Dewey): almirante americano conhecido por sua vitória na Batalha de Cavite durante a Guerra Hispano-Americana.
[2] Hobson: durante a Guerra Hispano-Americana era Assistente da Marinha dos Estados Unidos e foi encarregado de afundar o USS Merrimac no porto para bloquear a frota espanhola. A missão fracassou, e Hobson e sua equipe foi capturada. Foi consagrado herói nacional ao receber, em 1933, a Medalha de Honra.
[3] Leon Frank Czolgosz: anarquista estadunidense de origem polonesa.
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