Como resultado das ações de proteção adotadas em diferentes municípios, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lançou na semana passada o relatório Atuação do ACNUR junto às redes locais em apoio à população indígena Warao no sudeste e sul do Brasil: boas práticas e lições aprendidas”.

O ACNUR e Grupos de Trabalho parceiros promovem sensibilização e capacitação de atores locais para abordagens protetivas e de integração local culturalmente sensíveis – Foto | Luciana Queiroz/PARES Cáritas – Postada em: ONU

Trata-se de uma publicação que aborda estratégias e boas práticas de gestão dos diversos atores envolvidos na recepção e acolhimento dos grupos indígenas Warao no Brasil, oriundos da Venezuela.

“Esse relatório vem visibilizar e, de certa forma, celebrar, um método de trabalho que foi construído organicamente nesse período a partir dos desafios envolvidos na chegada de indígenas Warao nas regiões sudeste e sul do país. Esse trabalho inicia-se pela importância dada a esse movimento e à acolhida culturalmente apropriada a essa população, com atenção à análise de suas necessidades”, afirma a chefe do escritório do ACNUR em São Paulo, Maria Beatriz Nogueira.

Atualmente, a situação de refugiados e migrantes indígenas continua apresentando importantes desafios. O elevado nível de necessidades humanitárias e a condição de vulnerabilidade, somados às especificidades da cultura desta etnia e a imprevisibilidade de movimentação dos grupos dentro do território brasileiro requer atenção e respostas específicas relativas à saúde, alimentação, proteção e apoio.

O documento, que recolhe dados de alguns municípios brasileiros entre novembro de 2020 e março de 2021, foi apresentado ao público na última segunda-feira (31), divulgados em uma live disponível na página do Youtube do ACNUR Brasil.

O evento de lançamento, realizado e mediado pelo ACNUR, contou com a presença de uma indígena Warao residente em Belo Horizonte, e de representantes da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e de redes locais dos municípios de Belo Horizonte (MG), Montes Claros (MG), Nova Iguaçu (RJ), Porto Alegre (RS) e Uberlândia (MG).

A liderança Warao, Yolis Leon, reforçou em sua fala a importância de se ter um olhar culturalmente sensível em relação aos indígenas Warao. “Essa é uma oportunidade de compartilhar um pouco da experiência que trazemos, essa bagagem cultural e, sobretudo, de olhar nossa história de luta por direitos e igualdade do povo Warao”, afirmou.

Atuação dos Grupos de Trabalho – Com o objetivo de fortalecer uma rede de apoio que atendesse às necessidades dessa população, foram criados grupos de trabalho e implementadas ações de proteção e integração da população Warao, considerando suas necessidades específicas. O ACNUR apoiou e coordenou a criação de sete Grupos de Trabalho (GTs), que atuam na proteção e apoio aos indígenas venezuelanos.

Embora o ACNUR e os GTs atuem junto a agentes do poder público, sistema de justiça, sociedade civil e academia para promover a construção de espaços adequados para a integração dos Warao, no que diz respeito a acesso de serviços e oportunidades, ainda há grandes obstáculos dentro das comunidades das quais estão inseridos.

“Um dos grandes desafios é combater a xenofobia. Ha pessoas que não aceitam a presença desses grupos. Infelizmente, existem setores da sociedade que vão na contramão da garantia dos direitos desses povos”, relata a coordenadora do Centro de Referência em Direitos Humanos (CDRH Norte) de Montes Claros, Júlia Veloso.

Histórico da trajetória de Waraos no Brasil – Desde 2014 e, principalmente, a partir de 2016, um crescente fluxo de indígenas venezuelanos da etnia Warao chega no país.

Mas foi em 2019 que as regiões centro-oeste e sudeste começaram a registrar a chegada dos primeiros grupos Warao nos estados. O mesmo aconteceu na região sul, em 2020. O ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, estima que até março de 2021, 5.799 refugiados e migrantes indígenas venezuelanos estavam no Brasil. Quase 70% desse número corresponde a pessoas da etnia Warao, que estão presentes em 23 estados brasileiros.

No período correspondente ao recorte temporal presente no relatório, 306 indígenas Warao foram acompanhados pelos GTs de Belo Horizonte, Campinas/Hortolândia, Montes Claros, Nova Iguaçu/Japeri, Rio de Janeiro, São Paulo, Uberlândia e Porto Alegre.

PUBLICADO POR:     ONU NAÇÕES UNIDAS