Navegando o Tapajós ‒ Parte XVIII 

Rio Tapajós (margem esquerda)

Enseada da Pedra Branca/Itaituba 

Rio Tapajós

(Helvecio Santos) 

Verde Rio bravio de minha terra natal, pra quem canta o rouxinol do nascer ao pôr do Sol. Verde Rio que brilha como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, ao longo das alvas praias em seu correr indolente. Verde Rio que encrespado, soprado pelo vento Leste, brabo que nem filho da peste, brilha e rebrilha quando a luz do Sol nele se dá.

Verde Rio que ameaça o Augusto Montenegro, o Lauro Sodré, o negro navio do Loyde, desafiante no rebojo, apavora o novel marujo. Verde Rio de faceta amiga e branda pro famoso Macambira, seu amado pescador, que em frágil montaria retorna ao final do dia com sua colheita de amor. Verde Rio de alvas pérolas na crista de suas ondas, subindo, descendo, renovando em eterno chuá! chuá! Descanso da vista cansada ou mesmo só pra alongar.

Serenai, verde Rio! Por piedade, serenai! O valente caboclo se entrega em teus braços, navega em teu leito estufando o peito. Onde vai? Sobe a cortina do tempo! Filhos desse Tapajós, isso já não existe! É sonho sonhado, lembrança de um passado, sumido, desaparecido, permitido por nós!

Sobe a cortina do tempo! Tuas águas arrastam-se em desalento…. Onde está o brilho da líquida e pura esmeralda? Tua Coroa se mostra balda e o que foi somente fonte de alimento hoje desfia descontentamento e em espaço regular de tempo, por sobre a murada que mantém sua água represada, em líquido protesto, faz da rua sua morada. […]

12.10.2013 –Pedra Branca/Igarapé Moratuba  

A nostálgica tranquilidade de nossa permanência na bela Enseada da Pedra Branca só fora parcialmente quebrada, ao longe, pela frenética preparação da praia que abrigaria, no dia seguinte, os folguedos do Dia da Criança. Partimos ao alvorecer, e eu, sem saber, levava comigo algumas aborrecidas e birrentas parceiras – pequenas espículas de cauxi, que infestavam as areias e as águas da região, cravadas em minha pele. Encontramos, no decorrer do dia, diversos ribeirinhos, de comunidades próximas, que se deslocavam ansiosos para participar da festa montada na Pedra Branca. Os ventos oriundos do quadrante Este eram menos intensos que no dia anterior e fomos incomodados apenas pelo calor abrasivo do verão amazônico.

Aportamos na Foz do Igarapé Moratuba onde montamos acampamento e, a partir da tarde, comecei a sentir os intensos pruridos das espículas de cauxi que persistente e cruelmente me acompanhariam durante toda a jornada.

13 a 17.10.2013 – Igarapé Moratuba/Itaituba 

Mantivemos nossa rotina diária e pude verificar a localização completamente equivocada de comunidades e cidades como Bom Fim e Pinhel em todos os mapas disponíveis. No dia 16, aportarmos, depois de um extenuante dia de navegação de Sol a pino, no Tabuleiro Monte Cristo onde o IBAMA possui confortáveis instalações. Fomos gentilmente recebidos, convidados para acantonar e participar de um saboroso jantar à base de peixes.

Tabuleiro Monte Cristo 

O IBAMA implantou o projeto CENAQUA, na área do Tabuleiro Monte Cristo, há quase 20 anos. O Projeto tem como objetivo preservar tartarugas, tracajás, pitiús e aves como o talha-mar, a gaivota, o bacurau dentre outras.

Localizado a 6km ao Norte de Barreiras, Distrito de Itaituba, o Tabuleiro está incrustado numa extensa região formada por lagos, Ilhas e praias banhadas pelas cristalinas águas do Rio Tapajós. Anualmente, nesta época, normalmente na mudança de lua, tartarugas, tracajás e pitus desovam na praia protegida pelos olhos vigilantes e atentos dos fiscais do IBAMA. Cada animal chega a botar, por vezes, mais de 100 ovos por cova.

Festival de Barreiras 

Partimos às cinco horas do dia 17, pois a jornada até Itaituba era muito longa, quase 50km. Passamos antes do alvorecer pela comunidade de Barreiras que tem sua economia baseada no extrativismo e na pesca artesanal. O grande evento cultural da cidade baseia-se na história dos peixes Aracu e Piau que é manifestado com toda pujança no Festival que acontece no mês de julho apresentando a disputa entre os dois cardumes. O evento inclui danças e evoluções diversas, procurando representar os contos e as lendas do imaginário caboclo. A disputa empolgante entre os peixes Aracu e Piau é realizada no “peixódromo”.

REPERTÓRIO FOTOGRÁFICO

Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Boim, Santarém, PA
Boim, Santarém, PA
Boim, Santarém, PA
Ponta do Escrivão
Rio Tapajós (margem esquerda)
Rio Tapajós (margem esquerda)
Cb Eng Mário Elder (Ponta do Precassu)
Balsa do Grupo Fluvial do 8º D Sup
Fordlândia, PA

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 12.05.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected]