Proximidade de humanos e animais silvestres de espécies desconhecidas preocupa especialistas, que apontam saídas para o controle do ecossistema
A pandemia da covid-19 mostrou como a relação do homem com o meio ambiente pode ser nefasta. Se confirmadas as evidências, o sars-cov-2 chegou até os humanos pelo contato com animais silvestres. Vírus, fungos, parasitas e bactérias são apenas microrganismos, dividindo com os humanos o mesmo ecossistema. Se são bons ou ruins para a saúde, as circunstâncias da interação podem responder.
Sobre o contato com microrganismos desconhecidos, o professor e especialista em Estudo e Avaliação em Impacto Ambiental, Marcelo Marini Pereira de Souza, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, alerta para os riscos dos desmatamentos florestais e consequentes desequilíbrios ambientais no surgimento de novas doenças e pandemias. E cita o caso da Amazônia, que abriga inúmeras espécies ainda desconhecidas, como exemplo. Somente no mês de julho de 2020, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou a destruição de mais de 1.500 km² da floresta.
Pesquisadores de todo o mundo concordam com a necessidade de medidas para frear a degradação do meio ambiente por deixar a população exposta a microrganismos desconhecidos. Como realidade, o professor Souza lembra do surto de febre amarela ocorrido em 2015, logo após o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG). A degradação provocada pelo desastre alcançou os Estados brasileiros do Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e chegou até o Pará, tendo sido responsável pela contaminação e morte, por febre amarela, de 400 macacos de uma espécie em extinção.
Como alternativa para evitar o desmatamento e garantir desenvolvimento econômico, o professor acredita no investimento tecnológico estratégico e sustentável, mantendo o limite ambiental e reduzindo danos ao ecossistema. O desenvolvimento desenfreado da economia poderia dar lugar ao “uso da tecnologia para a produção de grãos e proteína animal e com isso desmatar muito menos”.
Mapeamentos de risco contra novos vírus
O professor da área de Saúde Pública Amaury Lelis Dal Fabbro, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, avalia como positiva a maneira rápida como a ciência aprendeu e respondeu à pandemia da covid-19. Para o professor, os processos devem ser mais acelerados numa eventual nova pandemia. Mas alerta que a produção de vacinas e medicamentos demanda um prazo de segurança que não pode ser desprezado.
Assim, acredita na importância das informações obtidas pelos mapeamentos de risco ambiental, como os realizados pelo Instituto Evandro Chagas. “Eles têm um centro de estudo sobre arboviroses e dengues hemorrágicas que já identificou uma série de vírus que vive na Amazônia.”
Para Dal Fabbro, esses mapeamentos de risco são de extrema importância para pensar ações contra a disseminação acelerada de doenças que podem gerar epidemias ou pandemias. Mas, acredita o professor, é necessário aumentar o contato entre esses institutos, para abreviar e aumentar a eficiência de projetos de prevenção a doenças potenciais.
PUBLICADO EM: JORNAL DA USP Atualidades / Campus Ribeirão Preto / Jornal da USP no Ar / Rádio USP – Post published:17/05/2021 – https://jornal.usp.br/?p=413263
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