Navegando o Tapajós ‒ Parte VII
O Sequestro da Hevea Brasiliensis I
Perdido na mata exuberante e farta, com o intento exclusivo de explorar a Hevea apetecida, o seringueiro compreende, de pronto, que a sua atividade se debaterá inútil na inextricável trama das folhagens, se não vingar norteá-la em roteiros seguros, normalizando-lhe o esforço e ritmando-lhe o trabalho tão aparentemente desordenado e rude. (CUNHA, 1906)
Hevea brasiliensis (Seringueira)
É planta tropical de ciclo perene cultivada com a finalidade de produção de borracha natural. A seringueira é encontrada nas margens dos Rios e terrenos sujeitos à inundação da terra firme, podendo atingir, em condições ideais, trinta metros de altura. A produção de sementes inicia aos quatro anos e, pouco antes dos sete anos, a produção de látex.
O diâmetro do tronco varia entre trinta e sessenta centímetros e a sua casca é responsável pela produção da seringa. Submetida a um manejo adequado, poderá produzir, economicamente, por um período de vinte a trinta anos. A Hevea, nativa, tem como área de ocorrência toda a Amazônia Brasileira, Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Suriname e Guiana, sendo que a espécie Brasileira é a que apresenta maior produtividade.
Dentre as diversas doenças e pragas que atacam a espécie, o “mal-das-folhas”, causado pelo fungo “Microcylus ulei”, é o mais conhecido e temido, e um dos principais fatores que restringem a expansão da heiveicultura no Brasil.
A Árvore da Borracha – Seringueira
A borracha já era conhecida pelos indígenas antes do descobrimento da América. O Padre d’Anghieria, em 1525, observou Índios mexicanos fazendo uso de bolas elásticas em seus jogos. O missionário Carmelita Frei Manuel da Esperança, em 1720, verificou que os Índios Cambebas faziam uso da borracha para fabricar garrafas e bolas em forma de seringa. O Frei Manuel resolveu, então, dar à substância o mesmo nome do objeto fabricado com ela – seringa. O nome foi consagrado e, desde então, chamam-se de seringueiros aqueles que extraem o sumo leitoso da “Hevea” e a de seringais às plantações de onde ele é extraído.
Viagem na América Meridional – Descendo o Rio das Amazonas
La Condamine tinha vindo à América com a missão de medir um grau do meridiano e, ao retornar à França, levou uma amostra da goma elástica obtida na Amazônia Peruana, em 1736, para ser examinada. Na sua apresentação aos cientistas da Academia de Ciências de Paris, em 1745, informou que os Índios Omáguas davam o nome de “cahuchu” à resina retirada da “Hevea”. Na oportunidade, os membros da Academia não lhe deram a devida atenção, pois os produtos manufaturados com a substância tornavam-se pegajosos no calor e esfarelavam-se quando resfriados.
Graças a Condamine, a seiva da “Hevea” ficou conhecida, na França, como “caoutchouc”.
A resina chamada “caucho” nos países da Província de Quito, vizinhos do Mar, é também comuníssima nas margens do Maranhão, e tem a mesma utilidade. Quando ela está fresca, dá-se-lhe com moldes a forma que se quer; ela é impenetrável à chuva, mas o que a torna digna de nota é a sua grande elasticidade. Fazem-se com elas garrafas que não são friáveis, e botas, e bolas ocas, que se achatam quando se apertam, mas que retornam a sua primitiva forma desde que livres.
Os portugueses do Pará aprenderam com os Omáguas a fazer com essa substância umas bombas ou seringas que não necessitam de pistão: têm a forma de peras ocas, com um pequeno buraco em uma das extremidades a que se adapta uma cânula. Enchem-se d’água e, apertando-se quando estão cheias, fazem o efeito de uma seringa ordinária. (CONDAMINE)
O látex produzido pelo caucho ([1]), citado por Condamine, é de qualidade bastante inferior ao do produzido pela “Hevea” e a sua extração extremamente predatória. O caucheiro, após identificar a árvore, limpa um local, próximo a ela, e escava um buraco no chão para coletar o leite. Derruba a árvore e, em seguida, faz cortes profundos para extrair o leite que escorre para dentro do buraco. Quando o produto solidifica, ele o retira e dá algumas pancadas para limpar a areia e o barro aderido.
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 07.04.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
[1] Caucho: Castilloa ulei.
Deixe um comentário