Da capital roraimense a Barcelos, já no estado do Amazonas, a equipe de saúde da Organização Internacional para as Migrações (OIM) se desloca para ministrar capacitações sobre malária na região. O intuito é reforçar os conhecimentos dos Agentes de Saúde Indígena que atendem a população brasileira em Terra Yanomami.
O percurso para a comunidade Xihopi dura cerca de 1h20, entre o embarque em uma aeronave de pequeno porte em Boa Vista até a Serra Demini, no limite dos estados de Roraima e Amazonas. Com apoio da Hutukara Associação Yanomami, Distrito Sanitário Indígena Yanomami (DSEI-Y) e do Instituto Socioambiental (ISA), os médicos e a promotora de saúde aterrissam em terras onde o acesso é limitado.
A ação foi pensada no fim do ano passado, quando a liderança yanomami Davi Kopenawa solicitou à OIM o desenvolvimento de um curso para capacitar agentes indígenas de saúde (AIS) e microscopistas da comunidade sobre malária, uma vez que houve aumento no número de casos na localidade em decorrência da vulnerabilidade da população de quase 350 pessoas, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI).
A partir do pedido, a equipe se mobilizou para organizar com segurança uma capacitação de 10 dias sobre a doença, explicando sobre a transmissão, sintomas e meios de evitar a contaminação com o uso de mosquiteiros e borrifo de substâncias que eliminam o vírus transmissor, assim como a importância da busca ativa de casos e identificar pessoas que não têm sintomas.
Para a liderança yanomami Davi Kopenawa, o treinamento é a possibilidade de controlar a malária dentro das comunidades. “O curso vai fortalecer os Agentes Indígenas de Saúde. A ação é importante para a formação e o apoio à saúde para os povos da floresta. Eu fiquei muito feliz com esse abraço de vocês, de saber que vocês querem ser amigos do meu povo yanomami”, disse.
Durante a capacitação, a equipe de saúde ensina sobre a praticidade do teste rápido para detecção da doença quando não há microscópios disponíveis, e para indicar a medicação para o tratamento efetivo. O ensino é didático e se adapta às ferramentas locais disponíveis. Em uma das aulas, para demonstrar como a doença age nos órgãos, os médicos desenharam no próprio corpo ilustrações para identificar os órgãos atingidos pela malária.
“É muito importante essa capacitação porque os agentes indígenas de saúde e de saneamento são profissionais de saúde, mas também são representantes da comunidade onde moram. Na região, são mais de 300 comunidades e como a equipe médica não está presente o tempo todo, é o agente de saúde que é capacitado para entender como administrar a medicação e acompanhar o tratamento dessas pessoas”, disse o médico da OIM, Luís Otávio Barros.
Além da capacitação dos 37 agentes de saúde, aconteceu também um treinamento com 12 microscopistas indígenas para atualização de conhecimento da especialidade.
Para fortalecer os conhecimentos sobre a COVID-19, houve ainda uma capacitação, detalhando o funcionamento do vírus, meios de transmissão e medidas para evitar o contágio. “Há pessoas que estão sendo contaminadas pelo novo coronavírus e a malária ao mesmo tempo, por isso, pensamos em uma metodologia intercultural para que eles pudessem associar a temática com a vivência deles dentro das comunidades”, explicou a promotora de saúde da OIM, Nicole Cruz.
De acordo com a profissional, a capacitação se estendeu para aulas de português e matemática básica, uma vez que alguns moradores trabalham em distritos indígenas e têm dificuldades com a língua fora da comunidade. “Eles são cobrados por isso durante o trabalho. São todos profissionais excelentes e, pensando no aprimoramento profissional deles, fizemos essas aulas”, disse.
Durante a capacitação, as medidas de segurança para a proteção contra à COVID-19 foram tomadas pela equipe que esteve no local.
Essas atividades contam com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
POSTADO EM: ONU NAÇÕES UNIDAS
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