Criada em 2010 para atender aos indígenas aldeados, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) é responsável, atualmente, por 755 mil indígenas em mais de 6 mil aldeias de todo o país. São mais de 14 mil profissionais de saúde para prestar atendimento de atenção primária a indígenas de 305 etnias e que falam 274 línguas.
As dificuldades para realizar os atendimentos são diversas: clima chuvoso, áreas de difícil acesso e a disseminação de notícias falsas são alguns exemplos. Mesmo diante de tantas adversidades, a vacinação contra a Covid-19 continua avançando rapidamente. Atualmente, 75% dos indígenas aptos a tomarem a vacina nos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) já receberam a primeira dose do imunizante. O índice da segunda dose da vacina está em 59%.
Em entrevista exclusiva, o Secretário Especial de Saúde Indígena, Robson Santos da Silva, conta o dia a dia do trabalho da SESAI e como está sendo esse período de pandemia e vacinação. Confira!
Como a SESAI se relaciona com o indígena hoje em dia? Há uma relação de confiança? O indígena confia no trabalho da SESAI?
Como os próprios indígenas se referem à Secretaria, a SESAI é uma conquista dos povos indígenas. Apesar de ter sido criada em 2010, a história da SESAI remonta o ano de 1910, com a criação do Serviço de Proteção ao Índio, depois com a criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em 1967, e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).
A SESAI é a grande responsável pela gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Nosso trabalho é realizar atendimento de atenção primária dentro das aldeias. A SESAI é saúde da família, ela está no cotidiano das pessoas. Então, é responsável, por exemplo, por exames primários para aferição da diabetes, verificação da situação das gestantes, das crianças e tudo aquilo que cabe o atendimento direto na saúde da família.
Quando o indígena precisa de uma atenção especializada, a gente precisa, então, do apoio da média e alta complexidade. O que significa isso? Que todos os três entes da Federação: Municípios, Estados e o Governo Federal têm responsabilidade junto a essa população.
O senhor está à frente da SESAI há pouco mais de um ano, como gestor, qual tem sido o seu sentimento em relação às experiências vividas?
Assumi a SESAI já na época da Covid-19. Fui nomeado em 12 de fevereiro e de lá para cá a gente viveu toda essa correria, todo esse desespero. Talvez, os mais idosos tenham ouvido falar sobre alguma situação parecida, mas essa nova geração de crianças, jovens, adultos e até gestores nunca passou por isso. Então foi muita correria, muitas necessidades surgiram e o Governo Federal agiu prontamente.
Mesmo antes da decretação da pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da Saúde, em 28 de janeiro, expediu o primeiro documento e, de lá para cá, tudo aquilo que deveria ser feito, foi feito. É claro que tivemos perdas de pessoas, de lideranças importantes, mas o Ministério da Saúde/SESAI e os DSEI agiram com rapidez e eficiência, inclusive em relação à compra de equipamento de proteção individual, testes e envio de mais recursos para que os distritos pudessem trabalhar.
Também fizemos várias parcerias importantes com Organizações Não Governamentais. Um outro grande parceiro durante a pandemia foi o Ministério da Defesa. Realizamos, juntos, 20 missões interministeriais e cuidamos, não só da Covid-19 com testagens e busca ativa, mas também com outras especialidades como ginecologia e pediatria. Existem outras necessidades além da pandemia. Então, temos consciência de que tudo aquilo que poderia ter sido feito, foi efetivado.
Quais são os desafios em relação à vacinação dos povos indígenas?
O Governo Federal enviou, já no primeiro lote recebido, as duas doses da vacina contra a Covid-19 para toda a população indígena que é atendida pela SESAI.
Foram mais de 910 mil doses para atender aproximadamente 400 mil pessoas que têm acima de 18 anos, ou seja, estão dentro do público alvo. O Governo colocou como prioridade nº 1 essa população. A vacinação está num índice bem elevado. A gente tem conseguido alcançar as metas, mas temos algumas interferências, principalmente em relação ao clima. Nas regiões Centro-Oeste e Norte, têm chovido muito. A SESAI dispõe de barcos, carros e aviões e, mesmo assim, há dificuldade. A SESAI está no cotidiano de 6 mil aldeias e não é brincadeira cuidar de mais de 755 mil pessoas em tantas comunidades.
A SESAI só atende indígena aldeado. O que isso significa?
Nós temos diferentes realidades pelo Brasil. São 305 etnias e 274 línguas diferentes.
A SESAI realiza um trabalho muito próximo do que uma prefeitura faz. Ela tem Polos Base e postos de saúde, que são as Unidades Básicas de Saúde Indígena (UBSI) nos territórios abrangidos pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Não é um privilégio, é uma necessidade tendo em vista as dificuldades de locomoção e as especificidades culturais.
Quantos trabalhadores são necessários para prestar esse atendimento?
Considerando servidores e terceirizados, nós temos aproximadamente 20 mil profissionais. Desses 20 mil profissionais, 14.200 são profissionais de saúde. Desse universo, aproximadamente, 6.800 são indígenas. Vamos pegar, por exemplo, o Distrito Xavante. Se eu trabalho lá e sou indígena, eu sou daquela etnia.
Então, eu pertenço a isso. A gente tem ouvido muitas pessoas mal-intencionadas dizendo que há um genocídio. Não há genocídio nenhum. Quando você fala isso, está dizendo que o próprio indígena está matando seu povo. Isso é um absurdo! Um discurso vazio!
Como está a vacinação contra a Covid-19?
Já alcançamos 90% em alguns distritos. Nossa meta foi plenamente atendida e continua. Em outros distritos, os índices estão entre 57% e 75%. O que atrapalhou um pouco foram as notícias falsas de que as vacinas teriam algum tipo de consequência. Estamos fazendo vários trabalhos e campanhas de conscientização.
Existem também várias iniciativas dos DSEI com busca ativa, ou seja, indo de casa em casa e conversando com lideranças e, assim, estamos avançando.
Temos também aqueles problemas que já abordamos, como o clima e a dificuldade para chegar, com as distâncias que chegam até alguns dias de barco. As perspectivas são boas e as medidas restritivas de não aglomerar, usar máscara devem continuar. A vacina protege, mas a gente precisa fazer a nossa parte.
PUBLICADO EM: Notícias Sesai — Ministério da Saúde (www.gov.br)