Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte LVII 

Patrulhão da Cidade, Santarém, PA

Partindo para Santarém 

14.03.2013 – Partida para Itacoatiara, AM 

Partimos, às 05h40, embarcados na lancha “Mirandinha” rumo a Itacoatiara, AM. Logo que entramos no Rio Amazonas, o tempo começou a mudar e enfrentamos chuva, vento e banzeiros a maior parte do tempo. Chegamos, por volta das 11h00, no Porto do amigo José Holanda e ligamos para o empresário Roni, amigo do irmão Beto Moreno, que nos disponibilizou gratuitamente mais 100 litros de combustível, o sufi­ciente para chegarmos até Santarém, PA.

15.03.2013 – Partida para Santarém, PA 

Patrulhão da Cidade, Santarém, PA

Partimos antes do alvorecer, enfrentando as mesmas condições climáticas adversas do dia anterior. Para neutralizar os efeitos da chuva fria que resfriava nossos corpos, volta e meia eu enchia um balde com água do Rio Amazonas e molhava o corpo para aquecê-lo.

Ao passarmos por Parintins, AM, pelas 11h00, telefonei para o Coronel Sérgio Henrique Codelo, Comandante do 8° BECnst, avisando que decidíramos tocar direto para Santarém sem pernoitar em Parintins. Ao penetrar as águas verdes e cálidas do Tapajós, avistamos ao longe Santarém – a “Pérola do Tapajós”.

Ao aportarmos em Santarém, novamente, a fidalguia dos meus caros irmãos de armas se fez presente em cada momento de nossa breve passagem pela bela Cidade de Santarém.

De Volta à Realidade! 

O corpo exausto, o pensamento cansado, meu raciocínio pedindo demissão e a insônia me fazendo de vítima mais uma noite. Uma madrugada reticente, agoniada. As horas que passavam, pareciam não passar. […] Viajei pelo espaço sideral, visitei satélites, fui a lugares onde as palavras não alcançam e até a lugares onde só a imaginação consegue ir. Solta como quem possui asas. Sem termo, sem limite, tudo ao acaso e sem pretensão de volta à realidade. Sonho ou fantasia? Sei eu! Aos poucos, as estrelas foram perdendo o brilho e sumindo do céu uma por uma. A lua deu bom-dia ao Sol enquanto dezenas de passarinhos alvoroçados vieram até minha janela contar-me seus sonhos e avisar que mais um dia raiou. Só então, depois de sonhar acordada, acordei sonhando. (Ismara Alice)

A missão de reconhecimento do Juruá findou, a 17 de fevereiro, mas só agora, me sinto à vontade para arvorar remos. Cheguei à Foz do Juruá 44 dias depois de partir de Cruzeiro do Sul, AC, havíamos remado freneticamente durante 28 dias e desfrutado do conforto das cidades de Ipixuna, Eirunepé, Itamarati, Carauari e Juruá onde, graças às autoridades municipais e à Polícia Militar, pernoitamos em hotéis durante 16 dias recuperando-nos do excessivo desgaste, coletando novas informações e repercutindo-as.

Conseguimos manter uma média diária de mais de 74 km, mas, a um alto custo, perdi 15 quilos neste difícil percurso, perdendo mais de 530 gramas por dia de remo em decorrência não só do esforço físico, mas, sobretudo, da alimentação inadequada. As curtas passagens por Manaus, AM, Santarém, PA e Natal, RN, serviram para trazer-me, progressivamente, de volta à realidade. Uma realidade mesclada de alegrias e tristezas, de júbilo por ter conseguido, apesar das dificuldades impostas pela logística, terreno, clima e condições meteorológicas, cumprir todas as metas propostas no mais curto espaço de tempo e amargura de verificar que alguns companheiros colocavam em cheque ou escarneciam do trabalho que havíamos executado.

Alegria por ter sido recepcionado em Tefé como um Bandeirante do século XXI, com direito à escolta fluvial, foguetório e banda de música, alegria de encontrar, na figura do Gen Bda Paulo Sérgio, Comandante da 16ª Bda Sl, uma liderança atuante capaz de conduzir seus homens pelo exemplo e pelo dinamismo como nossos grandes chefes militares do longínquo pretérito. Tristeza de verificar que, em Manaus, a quantidade de representantes da mídia era muitíssimo maior do que o número de militares presentes na nossa chegada, considerando que a Expedição era uma missão oficial do Comando Militar da Amazônia. Alegria de ter sido recebido pelo 2° Grupamento de Engenharia, Manaus, AM e pelo 8° BEC, Santarém, PA, com a cordialidade e o carinho tão característicos dos discípulos de Villagran Cabrita. Desencanto quando, de Santarém, ao telefonarmos para o Gen Villas Bôas avaliamos por suas lacônicas e evasivas respostas que seu espírito tinha sido corrompido por um de seus mais caros subalternos.

Aprendi, desde cedo, que qualquer decisão por parte de um verdadeiro líder deve ser tomada após uma análise isenta dos fatos e ouvidos todos os atores envolvidos. Que um compromisso assumido deve ser respeitado e não olvidado por quem quer que seja. Alegria por reencontrar, em Porto Alegre, os familiares, amigas e velhos amigos, mas uma profunda tristeza por reencontrar minha esposa encarcerada ao catre e presa a uma carcaça martirizada pela enfermidade. Alegria de ser abraçado carinhosamente por meus ex-alunos e tristeza em verificar que o valor do contracheque continua sendo muito inferior às despesas mensais.

24.03.2013 – Chegada em Porto Alegre, RS 

Pousamos no Aeroporto Salgado Filho, pontualmente, às 09h35. Fiquei surpreso ao constatar que apenas a Rosângela e sua mãe, Dona Maria (a Mama de Bagé), e o Coronel Angonese e esposa Sra Eliana lá estavam para me recepcionar, afinal eu estivera ausente por quase 4 meses. O fato de não encontrar nenhum familiar no aeroporto me entristeceu. O Angonese convidou-nos para almoçar no restaurante Grelhatus, eu não podia declinar do convite do caro parceiro, que nos acompanhara, a remo, no trecho da Foz do Breu até Cruzeiro do Sul. Fomos até minha casa, tomei um banho para espantar o sono, passara a noite em claro e, pontualmente ao meio-dia, nos dirigimos ao restaurante acompanhados da Vanessa e do João Paulo. A Rosângela estacionou o carro numa rua lateral onde encontramos o Coronel Regadas, achei estranha a coincidência e só me dei conta de que havia uma “trama” em andamento quando topei com o Coronel Araújo na função de Mestre de Cerimônias na porta de entrada do restaurante.

Grelhatus, Porto Alegre, RS

Havia duas enormes mesas reservadas aos familiares e amigos mais diletos, a indignação de antes cedeu lugar à emoção que mexeu com o coração e a alma deste velho soldado. Consegui manter heroicamente o equilíbrio emocional até a chegada do meu caro amigo Pastl, Dona Anaclaci e seus filhos Guilherme e Emanuel que se recuperaram bravamente dos ferimentos causados pelo incêndio da boate Kiss, de Santa Maria, RS. Não consegui conter a emoção e chorei como uma criança. De cada Cidade do Juruá eu ligara para saber notícias dos meninos e acompanhara a par e passo a evolução de seu estado. Ter, agora, a oportunidade de abraçar meus ex-alunos e seus queridos pais fez com que eu afrouxasse a couraça espartana que tenho carregado desde o AVC de minha esposa. A Rosângela e o Araújo souberam guardar segredo, eu não imaginara, jamais, tamanha surpresa.

Grelhatus, Porto Alegre, RS

Tapajós 

Estamos tentando viabilizar, para setembro deste ano, o reconhecimento do Rio Purus e Acre para dar continuidade à história do Acre tão vinculada aos Rios Purus e Juruá. Caso não se concretize esta possibilidade, vamos percorrer o Rio Tapajós, partindo de Santarém, a remo, pela margem esquerda até Itaituba, de voadeira até Jacareacanga e daí descendo pela margem direita, de caiaque, até Santarém.

Livro do Juruá 

Dois dias depois da chegada e de tomadas algumas providências administrativas, iniciamos o lançamento dos dados coletados nos mapas que posteriormente entregaremos ao DNIT.

O Professor Sérgio Pedrinho Minúscoli entregou-me o livro “Descendo o Madeira”, totalmente revisado, fazendo-me abandonar os trabalhos do Juruá, temporariamente, para finalizar a 4ª etapa do Projeto Desafiando o Rio-Mar.

DESCENDO O JURUÁ   

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 26.03.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].