Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XLI
Uma Heroica Missão
Mar Português
(Fernando Pessoa)
Com duas mãos – o Ato e o Destino –
Desvendamos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o fecho trêmulo e divino
E a outra afasta o véu.
Chegamos a remar quase 100 km em um único dia, tendo em vista os grandes vazios demográficos do Rio Juruá e as poucas pesquisas que aí tivemos oportunidade de realizar. As margens inundadas e pródigas em piuns determinaram uma mudança de rotina: somente aportaríamos no nosso destino, depois de remar uma média de 08h30 diárias, ou quando precisássemos coletar informações sobre as Comunidades.
A ingestão d’água ou alimento foi feita no talvegue do Rio com o propósito de evitar, em parte, o assédio desses terríveis insetos. As Comunidades ribeirinhas são formadas por verdadeiros heróis e na acepção literal da palavra e não naquela que a mídia sensacionalista prima em empregar. Os “heróis midiáticos” não seriam capazes de suportar uma semana sequer o desafio cotidiano das barrancas da Bacia do Juruá.
A histórica insalubridade da região, agravada pela falta de políticas públicas de longo prazo que melhorem as condições de vida da população tem provocado um êxodo contínuo para os grandes aglomerados urbanos, o grande número de eleitores concentrados nessas regiões faz com que os politiqueiros de plantão não se preocupem com a rarefeita população marginal de cujo voto não dependem, absolutamente, para se eleger. A Amazônia precisa com urgência de um Órgão que trate de suas endêmicas e seculares questões. Carece de planos plurianuais e não de medidas emergenciais que atendem apenas as necessidades eleitoreiras momentâneas de seus idealizadores e que não solucionam os problemas que se arrastam há décadas. Quero deixar aqui patente meu apreço por estes homens e mulheres que nos acolheram no seio de suas casas e Comunidades, partilharam suas refeições conosco, nos contaram suas histórias de vida e ouviram emocionados nossos relatos conquistando definitivamente nossos corações e mentes.
Movimento Pró-Acre
A proximidade física de Guajará e de Ipixuna, Municípios do Sul do Amazonas, criaram uma dependência extrema ao Estado do Acre através de Cruzeiro do Sul, ligado ao resto do país, ainda que precariamente, pela BR-364. A distância dos grandes centros do Estado do Amazonas, a dificuldade de atendimento às questões sanitárias e educacionais agravadas pelos problemas de abastecimento na estiagem, vem estimulando um movimento sutil mas determinado que pretende que os Municípios de Guajará e Ipixuna venham a integrar o Acre e não o Amazonas.
É curioso verificar que um Estado que tanto lutou para que o Acre fosse anexado ao seu território se veja agora envolvido num processo que coloca em risco sua própria integridade.
09.01.2013 ‒ Ipixuna, AM
Pela primeira vez desde que iniciamos nossas amazônicas Expedições, estamos encontrando sérias dificuldades logísticas e consequentes implicações financeiras. A ausência de um suprimento de fundos para arcar com as despesas de combustível com a lancha de apoio tem sido o item mais preocupante. Felizmente, em Ipixuna, a promessa feita pelo empresário Sr. Abraão Cândido, em Manaus, AM, se concretizou e, além de conseguirmos autorização para aportar nossas embarcações no seu porto flutuante, fomos abastecidos com 115 litros de gasolina (R$ 460,00) gratuitamente.
Estes “ermos sem fim” determinam que só tenhamos a possibilidade de abastecer daqui a 570 km em Eirunepé, dificuldade que se estende até a Foz do Juruá. A quantidade de combustível que precisa ser carregada a bordo aumenta consideravelmente o consumo do motor de popa. Este fator acrescenta uma dificuldade maior ainda a essa já tão complexa e difícil missão de descer de caiaque os quase 3.000 km do Juruá e os 900 km de sua Foz, pelo Solimões, até Manaus.
Mais uma vez agradecemos à pronta e gentil acolhida, em Ipixuna, de nossos caros amigos da Polícia Militar do Estado do Amazonas, na pessoa do seu Comandante o Primeiro Tenente Rodney Barros Ferreira, que providenciou hotelaria, abrindo mão de seu próprio quarto no hotel e o de um de seus auxiliares para nos acomodar, além de providenciar três refeições diárias aos membros da Expedição durante esses dois dias de permanência na sua Cidade. Faço votos para que em Eirunepé tenhamos a ventura de encontrar outros amigos de mesmo quilate.
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 04.03.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
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