Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XLV  

Comunidade Praia Alta – Com. Gaviãozinho.

Eirunepé, AM – Itamarati, AM II  

24.01.2013 – Com. Praia Alta – Gaviãozinho 

Mantivemos nossa rotina, o dia transcorreu agradável e sem novidades. Quando nos aproximamos do Arrombado da Volta do Coringa ([1]) a correnteza nos arrastou violentamente, forçando-nos a usar de toda perícia para manter o controle das embarcações.

Comunidade Praia Alta – Com. Gaviãozinho.

O Arrombado diminuía em sete quilômetros nosso trajeto. Quando nos aproximamos do Arrombado Altamira ([2]), informei ao Marçal que era preciso ter cautela, afinal agora o atalho era de 14 km e se a declividade continuasse a mesma desde a Volta do Coringa, a correnteza seria bem maior. Para nossa surpresa a transição foi bastante tranquila. Aportamos na Comunidade Gaviãozinho ([3]), por volta da 15h20, depois de remar 100 km, e acantonamos na escolinha da Comunidade.

Comunidade Gaviãozinho.

25.01.2013 – Com. Gaviãozinho – Cantagalo   

O dia amanheceu claro e sem nuvens, prenun­ciando uma canícula que incrementaria uma maior dificuldade a um trajeto bastante longo (120 km).

Comunidade Gaviãozinho – Com. Cantagalo.

Os moradores de Gaviãozinho haviam nos informado da existência de um Furo a pequena distância da Comunidade. Resolvemos aproveitar o atalho en­quanto o Mário percorreria o caminho normal para georeferenciar a Comunidade ali existente. Percorremos com cautela a margem direita tentando vislumbrar o Furo do Gaviãozinho. Embora tivéssemos confirmado com um ribeirinho, que navegava nas proximidades, a localização do Furo, mesmo assim passamos por ele sem notá-lo. O amável ribeirinho, verificando que ultrapas­sáramos a entrada do Furo, foi até nós e nos rebocou com sua canoa até a boca do atalho. Uma grande quanti­dade de toras de madeira bloqueava e camuflava seu acesso, por isso passara despercebido. Piquei a voga e investi sobre a entrada, acabei ficando preso sobre as toras, mas com algum esforço me liberei e adentrei no furo, o Marçal procedeu de idêntica maneira.

Comunidade Gaviãozinho – Com. Cantagalo

As Comunidades de Veneza e Gaviãozinho fazem a manutenção do furo que mais parece um jardim de tão bem cuidado, livre de qualquer tipo de entulho e roçado em ambas as margens, dentro em breve será mais um Arrombado a encurtar distâncias para todo tipo de embarcação neste tumultuário Juruá, que se modifica constantemente pela ação de suas próprias águas, mas que tem, sem sombra de dúvida, como agente catalisador os ribeirinhos. Mais adiante encontramos o Arrombado Cubiu ([4]), moldado pela cheia de 2005, e o Arrombado Valter Buri ([5]), criado na cheia de 2009. Graças a esses providenciais atalhos, conseguimos chegar, com tranquilidade, à Comunidade Cantagalo ([6]), muito bem instalada na Terra-firme.

Comunidade Cantagalo

O Mário estava realizando os devidos contatos quando lá chegamos de maneira que Estacionamos os caiaques junto a uma embarcação da Fundação Nacional da Saúde (FNS) depois de remar 120 km. Após o Mário ter confirmado onde ficaríamos acantonados, puxamos os caiaques para terra. Como de rotina cuidamos, antes de tudo, de nossos caiaques, limpando e retirando a água e depois começamos a levar a tralha para a casa dos professores. Entrei na casa, coloquei o material em um dos quartos e, quando voltei para ajudar a carregar o resto do material, verifiquei, surpreso, que o Sr. Antônio Cavalcanti de Souza e seus filhos Elisson, Dione, Nunes e Cláudio já o haviam trazido, inclusive os pesados corotes ([7]) de 50 litros de combustível. Desde que iniciei minhas descidas pelos imensos caudais amazônicos, eu só presenciara tamanha solicitude em uma Comunidade indígena chamada Prosperidade, da etnia Cocama, quando lá aportei em 14.12.2008. O pessoal da FNS estava presente na Comunidade coletando sangue e fazendo sua análise já que três membros da Comunidade tinham sido contaminados com o vírus da malária. À noite, toda a área foi pulverizada com o conhecido “fumacê” para combater o transmissor da doença, o mosquito anófeles. Um dos membros da equipe da FNS apontou a falta de equipamentos e pessoal como um dos grandes empecilhos para que se combata com mais efetividade as endemias. Nas áreas indígenas, este combate se torna ainda mais difícil, pois os mesmos raramente seguem o tratamento até o fim, além do que sua alta mobilidade dificulta ou até mesmo impossibilita o acompanhamento dos nativos infectados pelos vírus que acabam servindo de vetores da doença transportando-a para outras Aldeias.

Comunidade Cantagalo – Itamarati

A região do Cantagalo é bem agradável e se pode percorrer a Comunidade sem ficar pisando na mistura de lama e dejetos como nas Comunidades dos Municípios de Guajará, Ipixuna e Eirunepé.

Comunidade Cantagalo – Itamarati.

A maioria das Comunidades do Município de Itamarati está assentada em terra firme o que contribui para uma maior salubridade e consequentemente melhor estado de saúde e humor de seus concidadãos. Esperando um sono reparador, deitei-me cedo. Na noite anterior, os porcos não permitiram isso, desta feita foram os galos, talvez venha daí o nome da Comunidade Cantagalo. Os galináceos assíncronos passaram a noite inteira cantando como se o dia já estivesse raiando. Foi mais uma noite difícil e nada reparadora.

Itamarati

26.01.2013 – Com. Cantagalo – Itamarati  

Acordamos mais tarde (06h30), o curto percurso de sessenta e poucos quilômetros poderia ser vencido em seis horas sem grande esforço e precisávamos descansar. O dia amanheceu claro e com muitas nuvens, marcamos as poucas Comunidades que nos separavam de Itamarati, todas em terra firme.

Itamarati

Nas proximidades de Itamarati ([8]), avistamos os grandes morros que a caracterizam e aportamos nas instalações portuárias construídas pelo DNIT, por volta das 13h00, depois de navegar por 63 km. Contatamos o Sgt PM Barbosa e este com a cortesia que caracteriza nossos amigos Policiais Militares encaminhou-nos até a Pousada Itamarati, de propriedade da Sra. Francisca Cristina Pinheiro de França e do Sr. Manuel Raimundo Medeiros Campelo, irmão do Prefeito da Cidade.

Itamarati

²Total Parcial:     Eirunepé ‒ Itamarati =                       494,0 km

²Total Geral:          Foz do Breu ‒ Itamarati =            1.777,5 km

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 10.03.2021 –  um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].

[1]    Arrombado da Volta do Coringa: 06°34’54,7” S / 69°00’08,0” O.

[2]    Arrombado Altamira: 06°33’00,8” S / 68°54’01,0” O.

[3]    Comunidade Gaviãozinho: 06°31’22,7” S / 68°48’13,3” O.

[4]    Arrombado Cubiu: 06°27’31,0” S / 68°34’54,9” O.

[5]    Arrombado Valter Buri: 06°28’06,5” S / 68°28’34,3” O.

[6]    Comunidade Cantagalo: 06°32’10,4” S / 68°24’42,6” O.

[7]    Corotes: recipientes de plástico.

[8]    Itamarati: 06°26’27,5” S / 68°14’43,5” O.