Tradicional, a caixa horizontal usada na criação de abelhas para produção de mel pode ser uma opção viável ao pequeno produtor. Para isso, são necessárias boas práticas para tornar a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) ‘cabocla’ fonte de renda e alternativa ao extrativismo destrutivo do mel, segundo aponta pesquisador do Inpa Johannes van Leeuwen, líder do Grupo de Pesquisa Sistemas Agroflorestais para a Amazônia.

Solução está registrada na Rede SDSN, uma plataforma de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (http://maps.sdsn-amazonia.org/pt/solution/201)

As abelhas sem ferrão são abelhas nativas, das quais o mel é muito valorizado como remédio e alimento. O mel de abelhas sem ferrão é quase três vezes mais caro que o da abelha-europeia, a abelha africanizada (Apis melífera), segundo Leeuwen.

Recentemente a solução “Boas Práticas para tornar a meliponicultura cabocla uma fonte de renda e alternativa ao extrativismo destrutivo do mel” foi inserida na Rede SDSN, uma plataforma de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (http://maps.sdsn-amazonia.org/pt/solution/201), e contou com o apoio do professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Dr. Davi Said Aidar, especialista em meliponicultura.

“O Inpa e o mundo têm muita preocupação com a manutenção da biodiversidade. Neste contexto, é importante chamar a atenção para a capacitação dos ‘meleiros’. No Nordeste, tanto os meleiros pobres quanto os prósperos se transformaram em meliponicultores”, disse Leeuwen.

Uma pesquisa realizada acompanhou um grupo de dez pequenos produtores de duas comunidades do Careiro da Várzea por 14 anos (2002-2016). “Vimos que as caixas horizontais e os cortiços (troncos ou galhos ocos) são uma boa opção para eles. É uma tecnologia fácil, simples de usar e com as técnicas corretas a produção está assegurada”, garantiu o pesquisador.

PUBLICADO: INPA

Desde meados dos anos 2000, a tecnologia mais recomendada por técnicos e pesquisadores da Amazônia é a ‘caixa vertical’, uma caixa de madeira padronizada com diferentes componentes (gavetas e alças). “O modelo vertical, porém, não combina bem com o produtor de baixa renda, que não tem condições de comprar esta caixa e não deve depender de ajuda externa para continuar com a criação. Além disso, uma tecnologia bem dominada pelo usuário é mais fácil repassada para outros”, defendeu Leeuwen.

Segundo o pesquisador, a criação de abelhas nas caixas horizontais e cortiços é mais voltada para quem tem como ocupação principal a agricultura tradicional (roça) e vai fazer a meliponicultura de forma artesanal, tendo um baixo número de colônias (menor que 50) distribuídas pelo pomar caseiro sem depender de insumos externos.

Este modelo de caixas horizontais, porém, costuma apresentar dois problemas, que podem ser superados com treinamento e capacitação, de acordo com o pesquisador. “Um é que o caboclo não domina a multiplicação de colônias, dificultando a expansão da atividade, e o outro é que se colhe o mel de forma destrutiva obrigando as abelhas a refazer suas construções em vez de buscar mais mel”, conta.

Outra questão importante é que a meliponicultura cabocla pode ser disseminada entre os meleiros como alternativa ao extrativismo destrutivo de mel. A coleta de mel na natureza pelos meleiros resulta na morte de quase todas as colônias visitadas diminuindo drasticamente a ocorrência das abelhas, com graves consequências para a composição da flora que depende dessas abelhas para sua reprodução. “O saudoso Dr. Kerr [foi um dos maiores especialistas em genética de abelhas] chamou diferentes vezes a atenção para este problema”, relembra Leeuwen.

Conforme o pesquisador, a caixa horizontal continua sendo usada em parte do Nordeste, onde um bom número de produtores profissionais (categoria quase inexistente na Amazônia) usa modelos aperfeiçoados desta caixa ‘nordestina’. “Lá há quem considera a caixa horizontal melhor para a produção de mel e a vertical para a multiplicação de colônias”.

Mais informações sobre as caixas horizontais podem ser obtidas com o pesquisador Johannes van Leeuwen, pelo telefone (92) 99126-6004 ou via e-mail [email protected], [email protected] .

O Inpa tem vasta experiência de pesquisa e capacitação de produtores para o manejo de abelhas sem ferrão usando as caixas verticais. Estes estudos são liderados pelo Grupo de Pesquisa em Abelhas (GPA).

Saiba Mais

O levantamento inicial da meliponicultura tradicional em 2003 e 2004 foi o trabalho de término de curso de biologia no Centro Universitário do Norte (Uninorte) da Ordilena Ferreira de Miranda (atualmente técnica do Inpa), orientada pelo professor Davi Said Aidar.

Leeuwen lembra que a caixa nordestina é um modelo aperfeiçoado da caixa horizontal. As caixas horizontais e verticais não estão disponíveis para venda no Inpa, que não comercializa produtos, mas podem ser encontradas na internet.

Acesse: Caixas para abelhas sem ferrão: impor o “moderno” ou melhorar o tradicional?  

Da Redação – Inpa

Fotos: Johannes van Leeuwen e Ordilena Miranda – Inpa