Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXXIV 

Mal Thaumaturgo, AC

Mal Thaumaturgo

Destacamento de Fronteira 

El día 4 de noviembre quedará como testimonio de que los hombres íntegros no saben temer el peligro y que por consecuente sus distinguidas atenciones serán para mí un grande recuerdo que llevaré al seno de mi familia. A Usted mi querido amigo, le ofrezco, como siempre, mi más sincera amistad para que pueda ocuparse con la confianza del verdadero amigo en el Callao Perú. (Carta do Maj Ramirez Hurtado ao Cap D’Ávila – Arquivo Histórico do Itamarati)

19 a 22.12.2012 ‒ Destacamento de Fronteira 

Resolvemos permanecer no Destacamento de Fronteira até sábado, 22 de dezembro. A educação, profissionalismo e cortesia dos militares cativaram-nos.

Mal Thaumaturgo, AC

Mal Thaumaturgo, AC

O Angonese conseguiu, finalmente, satisfazer seu desejo de pescar. Sua incursão ao Rio Arara proporcionou-lhe a captura de uns belos surubins ([1]), de mais de 80 cm, e eu e os outros membros da equipe desfrutamos do convívio salutar destes gentis guerreiros além de termos a possibilidade de conhecer a Cidade de Thaumaturgo e arredores. O Destacamento é um polo de excelência plantado numa região desprovida dos confortos da vida moderna.

Mal Thaumaturgo, AC

Os militares destacados, que aqui permanecem entre 2 e 3 meses, voltam-se não só para sua atividade fim, mas também cuidam de uma pequena horta e criação de galinhas e porcos. As instalações recentemente inauguradas, são impecáveis, cuidadas com muito esmero e a área do entorno exige um cuidado especial no que se refere à manutenção tendo em vista nos encontrarmos em pleno inverno amazônico. A capina é feita semanalmente não só com o objetivo de manter o asseio das instalações, mas, sobretudo, para evitar a aproximação das temíveis surucucus pico-de-jaca ([2]) que infestam a área. O Pelotão, através do Ten Santiago e do Sgt Wanderley, conseguiu disponibilizar todos os motores rabeta que se encontravam indisponíveis além de pro­mover outras melhorias importantes no Destacamento.

Sr. Renato Bezerra Mota

Panificadora do Sr. Renato, Mal Thaumaturgo, AC

Nas nossas incursões a Mal Thaumaturgo, sempre fizemos uma parada obrigatória na Panificadora Mota, a melhor sorveteria da Cidade, de propriedade do Sr. Renato Bezerra Mota. O velho policial possui uma magnífica coleção de facas e espadas além de um belo acervo de fósseis de preguiças gigantes ([3]), mastodontes ([4]) e purussauros ([5]) dignos de um museu.

Fósseis – Mal Thaumaturgo, AC.

Língua de Preguiça Gigante, Mal Thaumaturgo, AC.

Maxilar de Mastodonte, Mal Thaumaturgo, AC

Renato e outros populares contaram-nos como o tráfico de armas e drogas corre solto pelos afluentes do Juruá, Tejo, Acuriá, Arara, Juruá-mirim e tantos outros, sem qualquer intervenção por parte das autoridades competentes. Despertou-nos a atenção o movimento intenso de pequenas aeronaves no campo de pouso da Cidade.

Reconhecimento dos Afluentes

Tendo em vista as dificuldades encontradas no que se refere à logística de nossa Expedição, resolvi abandonar a pretensão de reconhecer os principais afluentes do Juruá. O alto consumo do motor de 40 Hp da lancha “Mirandinha” e a impossibilidade financeira de adquirirmos um motor tipo rabeta, mais econômico, com essa finalidade determinou minha mudança de planos. A frustração só não é maior tendo em vista a categoria da equipe que me acompanha e o incentivo de amigos e investidores que certamente saberão compreender minhas razões. O livro que pretendíamos presentear, depois de editado, ao DCEx, CMA e DNIT terá de ser em forma de cópia digital já que a falta de recursos não nos permitem esta extravagância.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 23.02.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.  

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].

[1]   Surubins: Sorubimichtthys planiceps.

[2]    Lachesis muta.

[3]    Eremotherium laourillardi: conhecida como megatério era muito lenta, presa fácil para os predadores, alimentava-se de folhas e brotos de árvores. Viveu entre 1.800.000 e 11 mil anos.

[4]    Masthodon angustidens: parente dos atuais elefantes pesava em torno de 7 ton e tinha 3 m de altura. As presas chegavam a medir 5m de comprimento. Extinto há aproximadamente 10 mil anos.

[5]    Purussaurus brasilienses: viveu há cerca de 8 milhões de anos, semelhantes aos jacarés, atingiam 13 m de comprimento e 4 ton de peso. O primeiro fóssil foi encontrado no Rio Purus – a origem do nome.