Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXXII

Cel Hiram em seu caiaque

Felizmente o carinho e apoio irrestrito de familiares e amigos “de outras eras” nos animaram diante de todas as adversidades impostas pelos fariseus hodiernos. Um deles prefaciou nosso segundo Tomo do Descendo o Juruá:

Por General-de-Divisão Jorge Ernesto Pinto Fraxe 

Remar 3.950 km no coração da Amazônia nos faz navegar por cerca de quatro séculos de história, com sentimento de que pouco mudou naquele universo verde, regado por inquietos e caudalosos Rios, onde o ribeirinho, generoso e paciente, apresenta-se fidalgo na sua simplicidade de quem sabe esperar e conviver com o “ir e vir” do ciclo das águas no grande espetáculo da vida selvagem.

Juruá, narrativa instigante de uma Expedição arrojada, revela-nos o quanto é complexa e desafiadora a Amazônia, particularmente no que concerne à logística em seu significado mais abrangente, que vai desde itens básicos de suprimento que fazem o cotidiano das cidades, como combustível, grãos, legumes, verduras, sal, açúcar, medicamentos e vestuário, até serviços de primeira necessidade como atenção médica e odontológica, radiografias e tomografias, entre tantos outros serviços corriqueiros disponíveis nos centros urbanos das demais regiões do Brasil, a milhares de quilômetros da realidade daqueles ribeirinhos carentes, onde as distâncias são medidas por tempo de viagem fluvial.

Hiram Reis, canoeiro perseverante e corajoso, singrou com seu caiaque 30 municípios amazônicos, desde a Foz do Breu até Manaus, unindo sua inquebrantável vontade à força da natureza, durante 83 dias, remando mais de oito horas diárias. Nesse tempo, revelou-nos cartas náuticas e mapas da região desatualizados e, mais ainda, vazio de ações e de planos futuros a serem executados em prol dos ribeirinhos, ávidos por um futuro melhor que lhes ofereça acesso ao conhecimento de como viver bem e prosperar no bioma amazônico.

Não se trata de desenhar projetos grandiosos, mas inexequíveis, bonitos no papel e no “Power Point”, sendo ineficazes para o ambiente amazônico, com suas fortalezas e vulnerabilidades, enquanto detentor de uma das maiores riquezas da biodiversidade do Planeta Terra, onde a vida pulsa nas atividades pesqueira, extrativista, turística, folclórica, de manejo da terra e dos indivíduos que compõem a fauna e a flora regional, projetando sua influência no clima e na meteorologia do continente. A eficiência e eficácia desses projetos devem buscar simplicidade de entendimento e de execução pelos ribeirinhos.

Desenvolver projetos para a micro região percorrida pelo canoeiro Hiram Reis na calha do Juruá deve, prioritariamente, focar o ribeirinho com sua realidade cultural, tendo em seu entorno bioma rico em oportunidades, mas interagindo com o desafio das grandes distâncias e seus imensos vazios demográficos. A Expedição de apenas três homens, liderada por Hiram Reis, é um exemplo da simplicidade a que me refiro, bastante diferente da Expedição comandada por Pedro Teixeira, que contou com cerca de 2.000 integrantes entre soldados portugueses e indígenas remadores e flecheiros, ainda na primeira metade do século XVII, na expansão de nossas fronteiras para o Oeste.

A gestão e o gerenciamento de qualquer projeto de desenvolvimento para a região em pauta, deve partir da premissa que o Fator Crítico de Sucesso consiste na presença de pesquisadores, técnicos, orientadores e facilitadores nas comunidades ribeirinhas para, no prazo que se fizer necessário, implementar nessas comunidades novos procedimentos e até mesmo novos comportamentos que proporcionem sustentabilidade nas atividades socioeconômicas, assegurando às gerações do amanhã, o patrimônio natural e cultural com qualidade de vida.

Trata-se, portanto, de Ações Estratégicas que devem constar das Políticas de Governo a serem definidas com clareza e exatidão, assegurando implementação e manutenção das ações, independentemente de mandatos eleitorais, a médio e longo prazo.

A iniciativa do canoeiro Hiram Reis deve, pelo menos, instigar e motivar líderes de organizações governamentais, inclusive de Universidades e Fundações, para que eles se aproximem dessa desafiadora região, a Amazônia Brasileira, munindo-se de perseverança, vontade e coragem, a fim de desenvolver e implementar projetos compatíveis com o cenário ora vivenciado e com a estatura do ambiente amazônico, que abrange os anseios de nossa gente ribeirinha, os povos da floresta, forças e interesses divergentes dos objetivos nacionais que conformam nossa soberania.

Em síntese, “Descendo o Rio Juruá I e II” é um convite irrecusável às lideranças brasileiras para que reflitam e ajam na busca de projetos e programas que proporcionem soluções simples e duradouras, para os ribeirinhos da Amazônia alcançarem nível de qualidade de vida compatível com a dos nossos compatriotas das demais regiões do país, onde usufruem dos recursos e facilidades tecnológicas disponíveis em pleno século XXI.

Gen Div Jorge Ernesto Pinto Fraxe

 Jorge Ernesto Pinto Fraxe: o meu caro amigo, irmão e colega de turma (AMAN, 75) nasceu em 1953, em Boa Vista, RR, é General de Divisão Combatente do Exército, oriundo da arma de Engenharia, tendo ingressado nas fileiras do Exército em 1972, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde se diplomou Oficial de Engenharia no ano de 1975. Durante sua carreira, serviu em diversos locais da Amazônia, do Nordeste e da Região Centro Sul.

Entre outras funções, exerceu a de Comandante de Destacamentos de Engenharia de Construção, Comandante de Companhia de Engenharia de Combate, Comandante de Batalhão de Engenharia de Construção, Chefe de Estado-Maior e Comandante de Grupamento de Engenharia, e Diretor de Obras de Cooperação do Exército. No exterior, comandou a missão internacional de remoção de minas na América Central sob a égide da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Exerceu também o cargo de Adido do Exército e Naval junto à Embaixada do Brasil do Equador. Fala, lê e traduz em espanhol, e possui os cursos de Mestrado e Doutorado na área Militar, pós-graduação na área de educação e curso de “Master of Business Administracion” em gerenciamento de projetos realizados na Fundação Getúlio Vargas. Possui vinte e duas condecorações nacionais e estrangeiras, entre as quais a de Mérito Militar, Serviço Amazônico, Corpo de Tropa e Defesa Civil Nacional.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 19.02.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].