Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XXVII
Rio Branco, Acre I
A morte é um fenômeno tão natural como a vida, e quem tem sabido viver, melhor saberá morrer. Eu só lamento é que, havendo tanta ocasião gloriosa de morrer e esses cavalheiros me matam pelas costas! Enfim, em Canudos fizeram pior. Logo que puderes, retira daqui os meus ossos, reúne-os aos de Brandão e Baptista, meus dois leais amigos da revolução, e leva-os para Petrópolis. Direi como aquele General africano: “Esta terra que tão mal pagou a liberdade que lhe dei, é indigna de possuí-los”. Ah, meus amigos, estão manchadas de lodo e de sangue as páginas da história do Acre! (José Plácido de Castro)
01.12.2012 – Partida do Porto dos Casais
Mais uma vez parto, como diz um querido mestre e amigo, grande incentivador do projeto, Luiz Carlos Bado Bittencourt, para cumprir outra etapa de minha difícil, mas altamente gratificante “Missão Auto-atribuída”. Levantamos voo eu e minha cara parceira Rosângela, do Aeroporto Internacional Salgado Filho, às 06h30, depois de me despedir de minhas queridas filhas Vanessa e Danielle e de meu genro Samure. Felizmente os três puderam acompanhar-nos ao aeroporto e nos ajudaram guardando lugar na interminável fila até que realizássemos o chek-in. O caos era geral, filas quilométricas, informações conflitantes e atendentes mal-humorados, é difícil crer que estes problemas estejam resolvidos até a Copa do Mundo.
Partindo para minha 5ª jornada em quatro anos verifico, constrito, que nada mudou.
Em Rio Branco, recebemos apoio irrestrito dos nossos irmãos engenheiros. O Tenente-Coronel José Luís Araújo dos Santos, Comandante do 7° BEC, foi incansável em nos apoiar.
Município de Rio Branco
A bela capital acreana é cortada pelo Rio Acre. Sua população é de 342.298 habitantes (IBGE, 2011), colocando-a como a sexta maior Cidade da Região Norte. A população ordeira e simpática é muito prestativa e sabe receber os visitantes com uma cortesia de fazer inveja aos meus conterrâneos gaúchos. O Ciclo da Borracha e as secas motivaram uma intensa migração de nordestinos. A grande maioria destes sertanejos era de cearenses, estado que mais sofreu os efeitos das estiagens. Estes valentes desbravadores estimularam o desenvolvimento do Município e promoveram uma intensa miscigenação com nativos locais dando origem a “raça acreana”, que carrega nos seus genes tanto o potencial de sobreviver à inclemência da árida caatinga como aos obstáculos da hileia indomada.
Seja de Bronze a Sombra dos Heróis!
Pátrio Dever
(Quintino Cunha)
Não basta adoração, amor não basta,
Vênias augustas, méritos reais,
Para a grandeza imensamente vasta
Dos belicosos seres imortais.
O ferro, o bronze, que a Ciência gasta
Nos vultos dos heróis que a vida faz,
Ah! nunca mais que, tu, morte nefasta,
Nunca mais o consomes, nunca mais!
Escreva pois a Pátria esta sentença,
Grande na forma, de pensar extensa,
Escreva a Pátria, em tímidos alardes,
Em nossa História ‒ espaço de mil sóis:
– Seja de lodo a sombra dos covardes,
Seja de bronze a sombra dos heróis!
O herói rio-grandense foi covardemente assassinado aos 35 anos de idade, permanecendo esse crime eternamente impune. Próximo à propriedade do seu assassino, os fiéis amigos de Plácido de Castro ergueram uma lápide de mármore, assinalando o local da emboscada. Seus ossos, porém, foram sepultados no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Na fronte do pedestal, a família fez gravar o nome de seus 14 algozes. (MEIRA)
Plagas Acreanas
A capital acreana presta uma justa homenagem a José Maria da Silva Paranhos Júnior ‒ o Barão do Rio Branco. A história, porém, não pode olvidar, jamais, que os esforços diplomáticos só alcançaram sucesso porque muito antes deles um punhado de heróis defendeu a ferro e a fogo esta valorosa terra. Muitos pesquisadores divagaram, ao longo dos tempos, sobre a origem da palavra “Acre”. Se consultarmos o Volume II, página 87, da Enciclopédia Mirador Internacional uma publicação da “Encyclopædia Britannica do Brasil” Publicações, de 1987, vamos encontrar um texto da autoria de Fernando Moretzsohn de Andrade e André Passos Guimarães que argumentam que:
O nome, que passou do Rio ao território, em 1904, e ao estado, em 1962, origina-se, talvez, do tupi a’kirü “Rio verde” ou da forma a’kir, de ker, “dormir, sossegar”, mas é quase certo que seja uma deformação de Aquiri, modo pelo qual os exploradores da região grafaram Umákürü, Uakiry, vocábulo do dialeto Ipurinã. Há também a hipótese de Aquiri derivar de Yasi’ri, Ysi’ri, “água corrente, veloz”.
Na viagem que fez ao Rio Purus, em 1878, o colonizador João Gabriel de Carvalho Melo escreveu de lá ao comerciante paraense Visconde de Santo Elias, pedindo-lhe mercadorias destinadas à “Boca do Rio Aquiri”.
Como em Belém, o dono e os empregados do estabelecimento comercial não conseguissem entender a letra de João Gabriel ou porque este, apressadamente, tivesse grafado Acri ou Aqri, em vez de Aquiri, as mercadorias e faturas chegaram ao colonizador como destinadas ao Rio Acre. (ANDRADE & GUIMARÃES)
Afirmo, porém, sem sombra de dúvida, que a melhor explicação, se deve ao pesquisador, historiador e juiz José Moreira Brandão Castello Branco Sobrinho que publicou, em 1954, um artigo denominado “O Rio Acre”, no Volume 225 (páginas 294 a 298), da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
O RIO ACRE
Havendo divergência sobre a origem do nome desse famoso Rio e quanto à data do início do seu povoamento por João Gabriel de Carvalho Melo, procurei explicar o que havia a respeito, num artigo Intitulado “O Nome do Rio Acre” e na monografia “Caminhos do Acre”.
Quanto ao primeiro [O Nome do Rio Acre], historiando o que havia a respeito, aludi às versões de José Carvalho, Napoleão Ribeiro e Soares Bulcão, aqueles achando que, devido a uma carta de João Gabriel de Carvalho Melo dirigida ao Visconde de Santo Elias [Elias José Nunes da Silva], negociante em Belém do Pará, datada da Boca do Acre, logo após ao seu reconhecimento, em 1878, pedindo mercadorias para esse lugar, fez tais garatujas que ou empregados da casa, inclusive o chefe, não puderam decifrar o nome do Rio, porém, como se aproximasse muito de “acre” adotou-se esta palavra que foi pincelada nos volumes e grafado nas faturas e conhecimentos enviados ao referido João Gabriel.
No segundo [Caminhos do Acre], procurando demonstrar não ser João Gabriel tão ignorante a ponto de só fazer garatujas indecifráveis, acha que essa deturpação só podia ser obra de algum dos seus companheiros, como Alexandre de Oliveira Lima, o decantado Barão da Boca do Acre que ferrava seu nome “Lixandre Liveira Lima”, pelo que também o alcunharam de “Barão dos Três Eles”.
Acrescentava eu que os primeiros exploradores do Rio Acre, como o amazonense Manuel Urbano da Encarnação e o inglês William Chandless que o sulcaram na sétima década do XIX século, percorrendo aquele grande trecho do mesmo e este indo até as proximidades dos seus manadeiros, trouxeram-nos o nome de Aquiry. (SOBRINHO, 1954)
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 12.02.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
SOBRINHO, Dr. José Moreira Brandão Castello Branco. O Rio Acre – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – Volume 225 – Departamento de Imprensa Nacional, 1954.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
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