A criação de abelhas tem mudado a rotina de agricultores familiares em vários estados da Amazônia. Para alguns o manejo com o animalzinho é novidade, outros, velho conhecido na propriedade, mas todos estão convencidos que as abelhas são aliadas importantes na geração de renda, melhoraria da qualidade de vida no campo e ainda, peça fundamental para preservar e restaurar a floresta.

A família Pinon, de Breu Branco (PA), apostou na criação de abelhas para incrementar a produção de açaí. – Foto: Arquivo Família Pinon

Essa é a receita que vem sendo proposta e adotada a partir do projeto Agrobio – Abelhas, variedades crioulas e bioativos agroecológicos: conservação e prospecção da biodiversidade para gerar renda aos agricultores familiares na Amazônia Legal. Liderado pela Embrapa Amazônia Oriental e presente nos estados Pará, Amazonas, Roraima, Maranhão e Mato Grosso, faz parte do Projeto Integrado da Amazônia (PIA), é financiado pelo Fundo Amazônia e operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente.

O pesquisador se apoia em números e casos de sucesso para reiterar sua avaliação. Ele conta que mesmo com os entraves causados pela pandemia, o projeto conseguiu se reinventar e se não era mais possível realizar treinamentos presenciais, apostaram nas formações online, e mais uma vez, como os insetos sociais que trabalham juntos, viram nas parcerias a força necessária para seguir em frente. Daniel Santiago, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e líder do projeto, reconhece que os desafios de implantação são grandes, dada a realidade da região, e foram intensificados pela pandemia da Covid-19 – que alterou cronogramas e as formas de trabalho. Mas, tal como as abelhas, um dos focos do projeto, a experiência tem revelado que a união e resiliência têm sido fundamentais para levar o projeto adiante e colher benefícios.

E assim conseguiram contabilizar, somente em 2020, cinco eventos online, beneficiando cerca de 1500 pessoas. “Em dois anos de Agrobio superamos nossas próprias expectativas em público e número de eventos e o mais interessante é a adesão dos produtores que passaram também a demandar novos cursos e a multiplicar, em suas regiões, o troca e o enriquecimento do conhecimento propiciado pelas ações do projeto”, afirma o pesquisador.

Família adota abelhas e diversifica a produção rural

Há cerca de um ano, a família Pinon fez uma aposta que assustou até os vizinhos ao trocar a lida com o gado pela criação de abelhas para incrementar a produção de açaí. Em uma propriedade de cerca de 60 hectares no município paraense de Breu Branco, dona Carmélia, 42, seu marido Rubeci, 53, mais conhecido como Rubinho, e o casal de filhos Maria Eduarda, 7 e Luiz Mário, 11, viram nas abelhas a fórmula para gerar renda e assim seguir com o sonho de reflorestar parte da propriedade e preservar a floresta que ainda existe, aliando lucro e qualidade de vida.

A ideia surgiu de uma conversa com o Sebrae da região que orientou que procurassem a Embrapa como parceira nessa empreitada, pois a família estava trocando, já alguns anos, o gado pelo plantio do açaí, como principal atividade econômica.

Dona Carmélia contou que o marido sempre gostou de abelhas, mas não tinham colmeias na propriedade, foi então que souberam que o Agrobio estimulava a criação de abelhas nas áreas de açaí para aumentar a produtividade do fruto.

O que seria inicialmente uma experiência, transformou a rotina da propriedade e hoje, passados apenas cerca de um ano, comemoram a produtividade do açaizal e das demais fruteiras na propriedade. “As abelhas chegaram há um ano e hoje são 30 colmeias, 18 delas, com boa produção, onde tiramos até 200 litros de mel por safra”, fala orgulhosa.

E não pára por ai. A produtividade do açaí, atual carro-chefe na renda familiar quase dobrou. “As abelhas são mais. Mais açaí, mais mel, mais dinheiro e mais saúde para minha família e para a floresta”, brinca a agricultora. Até sobrou dinheiro para voltar a investir e recompor o rebanho de gado, confessa.

Por meio do Agrobio, a família quer que o entusiasmo pelo novo arranjo produtivo chegue também aos vizinhos, transformando a propriedade em vitrine tecnológica para mostrar na prática e nos lucros, que é possível ganhar dinheiro, preservar e até restaurar a floresta. Tudo ao mesmo tempo. “Somos um sítio agroecológico e se os vizinhos aderirem às praticas sustentáveis, todo mundo ganha”, idealiza.

Janela de sustentabilidade para o mundo

O exemplo e a alegria dos pais pela vida no campo também é compartilhado pelos filhos, Maria Eduarda e Luiz Mário. Eles adoram ajudar nas tarefas, devidamente trajados com equipamentos e demais itens de segurança, e decidiram, com a ajuda dos pais, mostrar ao mundo a vida na propriedade e a importância de proteger a floresta.

E assim eles criaram o canal Ambientalistas Mirins e mamãe e possuem mais de 5 mil seguidores, a maior parte deles, de outras regiões do país.

Abelhas são parcerias na proteção e restauração da floresta

Na cidade de Iranduba, distante cerca de 30 quilômetros da capital do Amazonas, Joaquim Alberto da Silva levanta a bandeira da meliponicultura como aliada da produção sustentável e da preservação e restauração da floresta amazônica.

Ele coordena o Doce Refúgio Meliponário Escola (Dramel), no qual, por meio de parceria com o projeto Agrobio, está sendo construído um jardim do mel. “Estamos com 17 canteiros, em uma área atrás do meliponário, com o plantio de espécies nativas florais, no intuito de aproximar a matéria-prima de produção de mel e pólen das colmeias,” explica o meliponicultor.

No local funciona ainda um centro de capacitação em meliponicultura no qual foram realizadas capacitações do projeto Agrobio no ano de 2019, por meio da Embrapa Amazônia Ocidental. As atividades produtivas do sítio interligam a produção de mel, pólen e colmeias, às áreas com permacultura, sistemas agroflorestais e agricultura sintrópica. “Toda nossa atividade, além de produtiva, visa difundir e trocar experiências com outros produtores, além de crianças e adolescentes que recebemos em visitas ecopedagógicas”, explica Joaquim.

Mais que propagar a meliponicultura como atividade produtiva aliada à produtividade rural sustentável, Joaquim também defende a prática como forma de preservar e até restaurar a floresta. “Sabemos que as abelhas são responsáveis pela propagação de inúmeras espécies vegetais, por meio da polinização. Por isso são importantes para que as florestas prosperem”, enfatiza.

Kélem Cabral (MTb 1981/PA)
Embrapa Amazônia Oriental – PUBLICADO EM:    EMBRAPA