Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte I  

Engenharia – Combater e Construir

Descendo o Juruá ‒ I

Prefácio do Tomo I 

Por General-de-Exército Ítalo Fortes Avena 

A Região Amazônica sempre me despertou uma enorme admiração. Criança ainda, minha imaginação navegava pelas águas de seus impetuosos Rios e penetrava floresta adentro na busca de uma aventura cujos perigos eram mitigados pela inexperiência de uma vida ainda nos primórdios de sua existência. Incontáveis vezes a gurizada se reunia para planejar uma aventura amazônica, uma incursão à imensidão verde para conhecer seus mistérios e desvendar suas lendas. Apesar de nunca concretizada, permaneceu latente em nossas mentes, como chamariz para futuros passos.

Quando ingressei no Exército, pensava que minha vocação seria para a Artilharia. Em Cachoeira do Sul – RS, minha cidade natal, admirava os tiros das armas pesadas do então 3° Grupo de Obuses 155. Entretanto, no momento da escolha de arma, foi fundamental o trabalho desenvolvido pelo 5° Batalhão de Engenharia de Construção, “Pioneiro da Amazônia”, para que eu marchasse, sem hesitação, para a mesa onde se encontrava o estandarte da Engenharia, escolha da qual jamais me arrependi. Meses antes, o então Capitão Lauro Pastor passara pela AMAN recrutando os futuros Aspirantes para servirem na Unidade que estava se instalando em Rondônia.

Esta se destinava a escrever uma grandiosa história na Amazônia, inflamando os corações dos jovens Cadetes que ansiavam em participar ativamente de um projeto pioneiro e patriótico de conquista e desenvolvimento desta instigante região do território nacional.

Ao ser declarado Aspirante-a-oficial, fui impedido de servir na Amazônia pelos que me antecederam na escolha. Devido a isso, decidi preencher uma vaga no Nordeste, mais precisamente no 3° BEC, onde aprendi os fundamentos básicos para a implantação e pavimentação de rodovias. Lá fiquei até cursar a EsAO. Após este curso, chegou o momento de concretizar o sonho amazônico, região onde viria a servir durante quatorze anos, seis deles às margens do Juruá, Rio que teria uma presença fundamental na minha vida.

Incontáveis vezes singrei, em embarcações toscas, suas barrentas águas e planejei inúmeras expedições das mais diversas naturezas – logísticas, operacionais, humanitárias – tanto no curso principal quanto nos afluentes de sua extensa Bacia.

Faço esta digressão para afirmar que, por conhecer bem o Juruá, posso avaliar a grandiosidade desta Expedição realizada pelo Coronel Hiram. Arrisco a dizer que talvez tenha sido a mais difícil realizada em seu périplo amazônico. Não pela dificuldade de navegação, porque já enfrentou Rios mais cauda­losos e mais acidentados, mas principalmente pelas características da região que teve de atravessar, pela complexa missão que se propôs a cumprir. Engana-se quem pensa que a Amazônia é uma região uniforme, com os mesmos parâmetros em toda a sua extensão. Ao contrário, cada lugar envolve características específicas e peculiaridades que o distingue dos demais.

Ao ler os seus escritos, percebo claramente que se houve magnificamente bem. Seu relato, claro e fluente, é uma lição de história em um espaço geo­gráfico que foi palco de muitas operações heroicas, nas quais se sobressaíram homens de vontade fér­rea, de caráter pétreo, que permitiram a incorpo­ração de uma extensa e opulenta região ao território brasileiro.

A Bacia do Juruá foi testemunha de um período épico de nossa história, de intenso sacrifício, no qual patriotas venceram inclusive a incompreensão daqueles que não conseguiam entender a impor­tância de lutar por uma região que poderia ter-se transformado em um enclave britânico em nossa fronteira Ocidental.

Da mesma forma, o Cel Hiram tem enfrentado um cipoal de dificuldades para realizar suas históricas Expedições.

Muitas vezes fico sem entender o porquê de não receber o merecido apoio oficial para a realização voluntária de um trabalho que deveria ser incentivado pelos órgãos que executam ações institucionais na região. 

Fico pasmo ao ver seus apelos para completar um orçamento enxuto, no qual constam apenas os custos essenciais.

Por outro lado, há um valor imenso naquela lista de contribuintes espontâneos que se cotizam para apoiar seus empreendimentos, proporcionando um caráter exclusivo em relação a outras iniciativas da mesma natureza. O trabalho desenvolvido por este destemido explorador não é para qualquer um. Ouso dizer que é para poucos, porque envolve minucioso planejamento, desprendimento, coragem e habili­dade pessoal.

Tenho certeza de que, ao apreciar o conjunto de sua obra, as gerações atuais e futuras vão render a devida homenagem a este intrépido desbravador, ao corajoso pioneiro, ao nobre cidadão, que não hesita em enfrentar as enormes limitações que se antepõem à realização de seus projetos. Estes não envolvem qualquer interesse pessoal mas a rija determinação de deixar para a posteridade um trabalho que só pode ser feito por pessoas especiais como ele.

Portanto, caros leitores, passem a partir de agora, a absorver o conteúdo deste importante livro, que vem a acrescentar relevantes conhecimentos sobre uma região pouco conhecida da maioria dos brasileiros.

Ao autor, deixo o meu incentivo, lembrando o brado de honra da nossa Engenharia de Selva:

Avante… remar… SEEELVA!!!

General-de-Exército Ítalo Fortes Avena

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 07.01.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].