Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XCIV

Mestre Laurimar – Santarém, PA

Descendo o Rio Madeira ‒ XXV  

Santarém e a Volta à Realidade   

O Tenente-Coronel Sérgio Henrique Codelo, Comandante do 8° BEC, nos alojou nas confortáveis instalações da Casa de Hóspedes de Oficiais do Batalhão. Fomos convidados a participar de dois eventos no Clube de Oficiais, um deles, de congraçamento, com os novos militares e familiares transferidos; e o outro, um baile de carnaval para as crianças.

Conversando com o novo Comandante e amigo, pudemos verificar o quanto ele se preocupa com o bem-estar de seus comandados e familiares, corrigindo alguns vícios de origem, principalmente no setor de saúde.

Visita ao Centro Cultural João Fona 

Fui fazer uma visita ao amigo Mestre Laurimar dos Santos Leal no Centro Cultural João Fona. O acervo do Centro é composto de cerâmicas tapajônicas, objetos históricos da Câmara de Santarém do início do século passado e o esqueleto de uma baleia Minke que, perdida, encalhou, no dia 14.11.2007, num banco de areia do Rio Tapajós. Laurimar lembrou-se de minha última visita e ficamos conversando durante algum tempo até que dois turistas se aproximaram e pediram, a ele, autorização para fotografar as peças do Centro.

Afirmei que eles deveriam começar o “tour” fotográfico com aquele que é, sem dúvida, o maior dos Mestres das artes santarenas. Despedi-me do Mestre e fiz uma breve visita ao museu.

Passei pela Praça Frei Ambrósio que permite uma bela e privilegiada visão da Foz do Tapajós. A Praça foi construída no local da antiga Fortaleza do Tapajós que sucumbiu sem jamais ter cumprido sua missão. Hoje não existe qualquer traço remanescente da Fortaleza, apenas as peças de artilharia distribuídas, aos pares, na Praça do Centenário, no Aeroporto e na Sede da Sudam.

Visita a Belterra  

Belterra, PA

No ano passado, tivemos a oportunidade de conhecer o senhor Valdemar Sanches da Silva, Chefe de Gabinete do Prefeito de Belterra, Geraldo Irineu Pastana de Oliveira, que discorreu, com entusiasmo, sobre a história e os projetos que estavam em andamento na sua Cidade, visando a recuperação de seu patrimônio e sua história.

Belterra, PA.j

O Projeto pretende mudar, parcialmente, a face da Cidade, fazendo-a retornar ao seu antigo visual. Voltamos este ano para verificar o que tinha sido feito. Fomos direto ao Centro de Memória de Belterra onde encontramos, novamente, o Professor Osenildo Maranhão.

Belterra, PA.

O Centro estava totalmente tomado por estudantes onde o entusiasmado Osenildo discorria sobre a história de Belterra e os projetos em curso, mas, infelizmente, ele nos informou que até agora só o tombamento do patrimônio foi realizado e nenhum recurso foi alocado.

Belterra, PA.

Colhemos algumas sementes de seringueira para levar para a Vanessa e partimos para Alter do Chão.

Visita a Alter do Chão  

Fomos três vezes a Alter do Chão durante nossa breve estada em Santarém e, em uma delas, surpreendidos, negativamente, com a impossibilidade de usar o cartão de crédito para pagar o almoço no “Restaurante Tribal”. A reticente funcionária informou que a orientação da casa era que o garçom deveria ter nos alertado antes, o que, definitivamente, não fora feito.

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É um triste artifício que já havíamos observado em Parintins, considerada uma das mais importantes cidades turísticas do Estado do Amazonas. Ainda em Parintins, sofremos este tipo de constrangimento em farmácias, livrarias, hotéis e até na moderna pizzaria “Mr. Pizza”.

Alter do Chão está situada na margem direita do Rio Tapajós, a aproximadamente 32 km de Santarém, pela PA-457. As praias de areias brancas, as águas cor de esmeralda do Tapajós, o lendário Lago Verde, que muda da coloração verde para azul durante o dia, ou Lago dos Muiraquitãs e a Serra da Piroca são apenas alguns dos magníficos atrativos naturais que atraem turistas e navios de cruzeiros marítimos.

No aprazível balneário, além das diversas alternativas de lazer, existe uma produção artesanal bastante diversificada. O jornal inglês The Guardian, em 2009, classificou a Praia Alter do Chão como uma das 10 melhores do Brasil. No inverno amazônico (época das chuvas), a Praia e a Floresta Encantada (mata de várzea) ficam submersas.

Morro de Alter do Chão

Escalei, com meu filho João Paulo, o Morro de Alter do Chão, conhecido como Serra da Piroca. O acesso até o sopé do Morro é suave e, a partir daí, a subida se torna bastante íngreme aumentando o grau de dificuldade à medida que se sobe. No alto do morro, existe um cruzeiro de ferro em treliça que aí foi colocado em homenagem à chegada dos colonizadores a Santarém. A partir das barracas, o percurso pode ser vencido em pouco mais de 30 minutos. O esforço é recompensado pela vista magnífica de Alter e do Tapajós.

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Relatos Pretéritos de Alter do Chão  

José Monteiro de Noronha (1768) 

56. Na barra do Rio Tapajós, à parte Oriental dele, está a Vila de Santarém defendida por uma Fortaleza. Pelo Rio acima, há mais quatro povoações, a saber: A Vila de Alter do Chão [antiga Borary ou Iburari], na margem Oriental e superior a Santarém 8 léguas (NORONHA)

Manuel Aires de Casal (1817)  

Alter do Chão: Vila ainda pequena, mas vantajosamente situada sobre um Lago em pouca distância do Tapajós, com o qual comunica, quase na falda (encosta) dum morro, que se eleva piramidalmente a uma altura assaz considerável, fica obra de três léguas ao Sul de Santarém. O povo que a habita, composto pela maior parte de índios, cultiva variedade de mantimentos, e excelente cacau, sua principal riqueza; frequenta a caça e a pescaria. A sua Igreja paroquial é da invocação de Nossa Senhora da Saúde. A princípio chamava-se Hibiraribe. (CASAL)

Antônio Ladislau Monteiro Baena (1839)  

Alter do Chão: Vila criada em 1758 e situada seis léguas acima da Vila de Santarém, na proximidade de uma empinada Colina de agudo cume, que jaz sobre um Lago pouco afastado da margem direita do Rio Tapajós. Em outro tempo, havia sido Aldeia de Borari. A população consta de brancos e índios em número de oitocentos e dezoito, e de dez escravos. Nossa Senhora da Saúde é o Orago de uma pequena Matriz, cujo teto é coberto com telha. As casas, a cadeia e a casa da câmara, tudo tem telhado de folhagem. Os moradores não vivem naquele feliz estado, que a situação local da sua Vila e a natureza do seu terreno lhe indicam permitir; eles não tiram vantagem da grande fertilidade das terras; a plantação mais ordinária é a da mandioca. (BAENA, 2004)

Henry Walter Bates (1852)  

Alter do Chão: o pequeno povoado de Alter do Chão deve o seu nome singular à existência, à entrada da baía, de um desses curiosos morros de cume achatado, tão comuns nessa parte da região amazônica, cuja forma lembra a do altar-mor das igrejas católicas. O morro em questão era isolado e muito mais baixo do que outros do mesmo tipo existentes nas proximidades de Almeirim, não devendo elevar-se mais do que cem metros acima do nível do Rio. Era desprovido de árvores, mas coberto em alguns trechos com uma determinada espécie de samambaia. À entrada da Baía, havia uma enseada interna, que se comunicava, através de um canal, com uma série de Lagoas situadas nos vales entre morros, que se estendiam pelo interior adentro. A Vila era habitada quase que exclusivamente por índios semicivilizados, num total de 60 ou 70 famílias […] (BATES)

Domingos Soares Ferreira Penna (1869)   

VI – De Santarém a Vila Franca por Alter do Chão.  

Alter do Chão – […] A ponta Cururu determina, como uma baliza, a mudança de direção do Rio, assinala também a entrada da longa Baía de Alter do Chão que se prolonga ao SE cerca de 5 milhas. No extremo dessa baía e na sua margem Meridional, está a freguesia de Alter do Chão que apresenta uma vista agradável, de longe, com imediações mui pitorescas e aprazíveis. A Povoação compõe-se da Igreja Matriz, situada numa Praça com casas somente de um lado, e de duas ruas alinhadas a cordel, partindo ambas da mesma Praça para Oeste. Há mais duas casas, uma das quais em construção. A Igreja, da invocação do N.S.ª da Saúde, é coberta de telha. Bem que nada tenha de notável, é o edifício único que avulta, e de longe mostra um certo realce. Por falta do auxílio dos cofres provinciais ou, antes, de espírito religioso dos habitantes, as obras do altar acham-se mui danificadas e carcomidas; o resto da Igreja e de seus pertences estão em estado decente. As casas são todas mais ou menos iguais em forma, altura e material; são mui pequenas, exceto a do vigário, térreas e cobertas de palha. O número total delas é 47, das quais 36 estão em bom estado, 10 caídas ou estragadas e 1 em construção. A população é de 138 pessoas, inclusive as que habitam nas imediações. […]

Recordações históricas – As margens da pitoresca Baía de Alter do Chão parece que foram, como indiquei na parte relativa a Santarém, a principal residência da extinta família indígena, os Tapajó, tendo sido ali que Pedro Teixeira os foi encontrar pela primeira vez, em 1626. (PENNA)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 06.01.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia  

BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio Chorographico do Pará (1839) – Brasil – Brasília, DF – Senado Federal, 2004.  

BATES, Henry Walter Bates. Um Naturalista no Rio Amazonas – Brasil – São Paulo, SP – Livraria Itatiaia Editora Ltdª – Editora da Universidade de São Paulo, 1979.   

CASAL, Manuel Aires de. Corografia Brasílica – Brasil – São Paulo, SP – Edições Cultura, 1943.  

NORONHA, José Monteiro de. Roteiro da Viagem da Cidade do Pará até as Últimas Colônias do Sertão da Província (1768) – Brasil – Belém, PA – Typographia de Santos & Irmãos, 1862.   

PENNA, Domingos Soares Ferreira. A Região Ocidental da Província do Pará: Resenhas Estatísticas das Comarcas de Óbidos e Santarém – Brasil – Belém, PA – Typographia do Diário de Belém, 1869.    

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].