Na década de 80, século passado, pude realizar viagens de estudos e de levantamento estratégico de áreas operacionais de interesse militar, Brasil afora, conduzindo alunos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – SE5/Estratégia e Assuntos Culturais.

Certa vez, saímos de Tabatinga rumo a uma tribo indígena na região fronteiriça com a Colômbia, navegando pelo Rio Solimões e tendo a reboque uma pequena canoa de um seringueiro.

Algumas horas depois, o seringueiro foi deixado com sua canoa, próximo à margem alagada do Rio Solimões, munido com pregos, estilete, uma machadinha artesanal, pequenas cuias com alças para extrair o látex e três rádios de pilha. No caule de uma árvore frondosa que aflorava na floresta alagada, ele cravou um prego, fixou um rádio e ajustou na emissora de Tabatinga.

Em seguida, embrenhou-se na imensidão da floresta tropical e, sem colocar os pés em terra firme, foi cravando seus rádios em outras árvores a fim de estabelecer uma “rede” de comunicação sonora para facilitar a volta à margem do grande rio e retornar para Tabatinga.

Passados tantos anos, o amigo Waldemar de Oliveira Jr levantou a ideia de se monitorar a floresta pelo som, cravando chips em árvores preciosas a fim de atuar à distância, tal qual se faz com aves raras e animais marinhos. Waldemar percorre os rincões do Brasil instalando painéis de energia solar e, assim, com experiências diversificadas e ensinamentos dos “povos da floresta”, juntamos luz e som e resolvemos contar alguns “causos” relacionados com o uso de chips para monitorar florestas e pântanos de modo complementar à exercida pelos satélites.

Talvez, disse ele, fosse mais prático colocar uma rede de chips em árvores preciosas e atribuir o controle remoto a pessoas e instituições com passivos ambientais. Seria um bom teste para o seu projeto – Amigos do Brasil – de monitoramento à distância de grandes ecossistemas ambientais, sem ferir a soberania brasileira na Amazônia Legal, por exemplo.

E, assim, resolvemos contar “causos portadores de futuro”. Iniciei com uma “estória” de pescador, pois tive a oportunidade de passar dois anos no Pantanal, adestrando soldados na maior planície alagada do mundo, com o foco operacional nas bacias dos rios Miranda, Aquidauana e Paraguai. Nestes rios, e seus caudalosos afluentes, os pescadores profissionais estendiam duas redes semelhantes às de jogos de vôlei, sustentadas em ambas as margens por cabos de aço.

O intervalo entre as duas redes variava entre 300 e 500 m e no trecho selecionado os pescadores executavam diversos “cavalos-de-pau” com um barco para juntar os peixes nos cercos das redes, tal qual se faz com manadas de gado rumo a um curral. Se a fiscalização os flagrasse – o que era raro – eles soltavam os cabos de aço e passavam a pescar com caniço e samburá. Acredito, disse eu, que um sistema de chips em árvores ribeirinhas talvez pudesse assustar os infratores, pela incerteza da presença de uma vigilância sonora.

A dúvida sobre a existência de controle sonoro na redondeza desestimularia os mais cautelosos? Não sei!… Mas, com certeza seria um bom castigo para quem tem passivo ambiental a pagar. Funcionará? Não sei! E vocês, que nos honram com esta leitura, o que acham?

Elcio Rogerio Secomandi / Coronel de Artilharia Rfm / Professor Emérito da UNISANTOS

Waldemar de Oliveira Jr / Mestre em Educação pela UNISANTOS, ex-Gerente de Projetos Especiais do SENAI-SP.