A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) entregou dois barcos e itens de pesca à comunidade indígena Warao em situação de refúgio que vive no Curuçambá, às margens do Rio Maguari em Ananindeua, na região metropolitana de Belém. A iniciativa é parte do apoio à resposta humanitária emergencial ao fluxo de venezuelanos no Pará.

Indígenas Warao buscam canoa no Pará – Foto | Victoria Hugueney/ACNUR

No último dia 9 de dezembro, oito voluntários da comunidade foram com a equipe do ACNUR e do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Ananindeua buscar uma encomenda que faria toda a diferença na vida da comunidade de aproximadamente 100 pessoas, muitas crianças e idosos.

“Ficamos muito felizes de receber os barcos e os motores, os materiais de pesca, tudo isso… me sinto muito feliz, todos estamos felizes aqui”, afirmou o Aidamo (líder comunitário) Luis Jose Arzolay, que vive no Brasil há dois anos e meio.

Violência e fome foram os motivos que fizeram com que ele e seus familiares não encontrassem nenhuma solução a não ser sair do seu país de origem em busca de proteção no Brasil. O ACNUR estima que 3.200 dos 5 mil indígenas venezuelanos vivendo atualmente no Brasil são solicitantes da condição de refugiado. Deste total, 65% são indígenas da etnia Warao.

“Os Warao, cujo significado é “povo da água”, têm a pesca como elemento muito forte da cultura e de identidade com suas terras originárias. Eles estão tendo essa oportunidade de restaurar uma maneira tradicional de viver nesse novo espaço”, afirmou a assistente sênior de campo do ACNUR em Belém, Julia Capdeville.

Os dois barcos foram produzidos por pescadores brasileiros locais, a partir de uma demanda da própria comunidade indígena ribeirinha, como parte de uma estratégia comunitária de segurança alimentar e geração de renda. “Com a chegada dos botes estaremos melhores, quando sairmos para pescar e voltarmos com o pescado, teremos o suficiente para vender para comprar pão, e disso viveremos aqui”, explicou o Aidamo.

A região amazônica onde vivem traz para o povo Warao muitos dos recursos que eles tinham no Delta do Orinoco, no leste da Venezuela. Nesta área encontraram sua árvore sagrada, o buriti, do qual obtém matéria-prima para produção de moradia, alimentos e medicamentos. Da palha do buriti, as mulheres da comunidade produzem artesanato, enquanto o rio Maguari lembra o rio Orinoco.

Indígenas Warao retornam para comunidade em barco doado pelo ACNUR em Ananindeua, no Pará – Foto | Victoria Hugueney/ACNUR

Apoio da prefeitura – A ação contou com o apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social de Ananindeua, que acompanha a comunidade ribeirinha brasileira e venezuelana da região e atua por meio de agentes comunitários na promoção de direitos humanos e acesso a serviços básicos.

“Essa é uma conquista muito gratificante para nós, é uma luta que teve começo, meio e fim”, disse Lucinene Moraes da Silva, auxiliar administrativa da equipe volante do CRAS Curuçambá. “Como moradora da ilha, conheço a realidade e as dificuldades de quem vive aqui”, acrescentou. “Por isso viemos facilitar esse processo da contratação dos barcos. Essa é a função do CRAS, estar sempre de portas abertas para trazer melhores condições àqueles que mais necessitam.”

O Pará atualmente acolhe cerca de 900 indígenas venezuelanos que buscam a condição de refugiado no Brasil. O ACNUR acompanha e atua em prol desta e de outras comunidades indígenas venezuelanas no Pará desde 2018, quando abriu o escritório em Belém.

As ações do ACNUR incluem a promoção do acesso à documentação, aos serviços público e garantia de direitos, além do apoio técnico no abrigamento, fortalecimento das capacidades da rede local e do engajamento de base comunitária, fornecendo itens de higiene e limpeza no combate à pandemia da COVID-19.

PUBLICADO EM:    ONU NAÇÕES UNIDAS