Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXXV

Última Hora, n° 462, 29.11.1960

 Descendo o Rio Madeira ‒ XVI 

Última Hora, n° 462 ‒ Rio de Janeiro, RJ Terça-feira, 29.11.1960 

Fleiuss Contesta Link: Há Petróleo Comerciável 

– “Como Presidente do Conselho Nacional do Petróleo, sustento que existe óleo no Brasil com possibilidades de aproveitamento comercial, em condições econômicas” – afirmou à ÚLTIMA HORA o Brigadeiro Henrique Fleiuss, referindo-se à entrevista concedida, ontem, a um vespertino carioca, pelo Geólogo norte-americano Walter Link, que afirma não dispor o óleo encontrado no Brasil daquelas possibilidades de aproveitamento. Mr. Walter Link Chefe do Departamento de Exploração da PETROBRAS foi acusado pelo Deputado Gabriel Passos [UDS-Minas] de fornecer pretextos para uma campanha de destruição da PETROBRAS, do que resultou uma entrevista do Presidente da PETROBRAS, General Sardemberg, segundo a qual aquela companhia estatal assume uma orientação contrária ao ponto de vista de Mr. Link. Informou-nos, a seguir, o Brigadeiro ainda não ter recebido o relatório Link. Quanto ao relatório do Coronel Ernesto Geisel, frisou o Presidente do CNP que também não o recebeu e não é verdade que tenha sido, por sua iniciativa que o relatório Geisel foi retirado da pauta da Câmara dos Deputados.

Aduziu o Brigadeiro Fleiuss que, em relação às possibilidades do aproveitamento comercial do óleo brasileiro, a política petrolífera do CNP é muito clara:

–  A Refinaria Landulfo Alves refina, em cem por cento, óleo brasileiro, com aproveitamento comercial e em condições econômicas. Também a Refinaria Presidente Artur Bernardes refina óleo brasileiro nas mesmas condições. Eis as provas das possibilidades do óleo brasileiro.

A uma pergunta, esclareceu:

–  Se for convocado pela Câmara Federal para prestar esclarecimentos, naquela Casa do Congresso, não terei dúvidas em comparecer. Creio que o General Sardemberg também fará o mesmo.

Betume em Pindamonhangaba 

Finalizou o Brigadeiro Henrique Fleiuss, a propósito da mais recente descoberta petrolífera no País:

– Realmente, os jornais estão noticiando uma recente descoberta de um lençol de petróleo sólido [betume] em Pindamonhangaba, São Paulo, cujas amostras, analisadas em laboratórios de Moscou, foram reconhecidas como sendo betume. É preciso não desconhecer que essa questão do xisto betuminoso se divide em duas fases, uma antes, e outra depois do monopólio estatal.

É possível, pois, que se trate de uma notícia procedente, mas o Conselho Nacional do Petróleo oficialmente, não tem conhecimento desse fato. Os resultados desses exames não foram enviados ao Conselho Nacional do Petróleo. (UH, n° 462)

Correio da Manhã, n° 20.768 Rio de Janeiro, RJ – Quarta-feira, 07.12.1960 

Trabalhadores Examinam Hoje Relatório Link 

Será realizada hoje, às 18h00, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Refinação de Petróleo, urna assembleia para exame do Relatório Link e suas consequências e, ainda, orientar a classe sobre o assunto. A entidade sindical congrega trabalhadores cariocas e fluminenses. (CM, n° 20.768)

O Semanário, n° 243 ‒ Rio de Janeiro, RJ 01 a 07.01.1961 

João Neves, Mr. Link, Ferro Costa e Capuava 

O Sr. João Neves é positivamente um homem de má-fé e não foi à toa que o saudoso Presidente Vargas e o honrado Marechal Dutra tiveram de demiti-lo sumariamente do cargo de Ministro, para o qual o haviam convidado na presunção de que esse velho profissional da intriga resolvesse no fim da vida reabilitar-se, fazendo algo de útil pelo país. Advogado ostensivo e confesso de interesses estrangeiros, Neves não perde ocasião de ser agradável aos trustes principalmente os do petróleo e de eletricidade, que tem nele, como sempre tiveram, um de seus mais fiéis e sabujos servidores. Ainda agora, anda o anãozinho de “O Globo” e da Praça Serzedelo Corrêa a soltar foguetes ao relatório de Mr. Link, feliz porque, segundo escreve:

os anos vão decorrendo e, não obstante um razoável acréscimo no tocante ao rendimento do recôncavo baiano, continuamos ainda LONGÍSSIMO [o grifo é nosso] da prometida autossuficiência.

Leiam, releiam e nos digam se essa é a linguagem de um patriota, ou a linguagem de um traidor, se é a linguagem de um brasileiro, ou se a linguagem de um funcionário norte-americano da “Standard Oil” nascido entre nós por acaso.

Ainda que isso fosse verdade, ainda que a autossuficiência não se baseasse em probabilidades encorajadoras de um esforço perseverante de nossa parte, o seu dever não era partilhar do pessimismo de encomenda de Mr. Link, nem muito menos louvar-lhe em tom apologético as conclusões apressadas e tendenciosas, mas ajudar a vencer as dificuldades de toda ordem ‒ sabotagem dos gringos, fraqueza dos dirigentes da PETROBRAS, displicência do Governo etc. ‒ surgidos tanto no setor das pesquisas como em outras áreas de atividade da empresa estatal, a fim de que o Brasil possa resolver no mais breve espaço de tempo o seu problema petrolífero, de capital e decisiva importância para o seu progresso econômico e à sua defesa militar.

João Neves não ignora que as pesquisas no Canadá demandaram decênios para atingir resultados satisfatórios e que, por isso, não há como aceitar a sentença condenatória de uma área sedimentar de 2 milhões de quilômetros quadrados como a que Link lavrou para a região amazônica, sob os protestos de geólogos que não eram brasileiros, mas canadenses e alemães insuspeitos, portanto, de “jaconinismo”. Meia dúzia de furos em zona tão vasta não é suficiente, convenhamos, para que se chegue à “conclusão pessimista” a que chegou o geólogo da “Standard” trazido por Juraci Magalhães, que não se sabe porque com tanto ardor o defende, quando faria melhor se penitenciando de o haver contratado a peso de ouro [cem mil dólares anuais para impedir que se descobrisse petróleo no Brasil].

Mas qual o objetivo dos novos “tijolos” do Neves no “O Globo”? Derivar as atenções do caso Link para o caso, inventado por ele, das refinarias particulares. O barulho que os nacionalistas estão fazendo em torno do relatório do gringo da “Standard” não passa de acordo com o anãozinho da “Gás Esso”, de “uma nova campanha armada para fins demagógicos ‒ a encampação das refinarias particulares”. E o aí que sua má-fé novamente se manifesta.

Na semana atrasada, no mesmo dia em que Neves soltava pela primeira vez, essa bola, destinada a despistar a opinião pública, “O SEMANÁRIO” reduzia-a a “pé de traque”: no momento, dizíamos, o que interessava aos nacionalistas não era a extensão do monopólio estatal, mas o completo e definitivo esclarecimento da obra de sabotagem levada a efeito, dentro da PETROBRAS, contra a área monopolística fixada pela Lei 2004. Era, em suma, não a revisão da Lei, para ampliá-la ‒ e lá um dia, breve, sem dúvida, chegaremos ‒ mas a sua incompatibilidade, para defendê-la dos perigos, não pequenos que ora a ameaçam.

Na semana passada, Neves voltou carga com a sua manobra despistatória, mas não contava que “O SEMANÁRIO” novamente a desmascarasse, mostrando que ele batera em endereço errado, pois a sua crítica, ainda que procedente fosse, ao seu correligionário Deputado Ferro Costa, como ele “janista” de papo amarelo, é que deveria ser dirigida, e não aos elementos categorizados e responsáveis da Frente Parlamentar Nacionalista e do Movimento Nacionalista Brasileiro, cujo pensamento sobre o assunto interpretamos com fidelidade, pois antes de expor nosso ponto-de-vista tivemos o cuidado de consultá-los, verificando não haver a respeito opiniões discrepantes. E para provar que o “radicalismo” do Deputado Ferro Costa nem nos impressionava, nem influía sobre nós, nem, muito menos, nos desviaria do principal de nossa luta no momento – a sabotagem linkista – contava-nos o seguinte fato:

Quando o eminente Sr. Barbosa Lima Sobrinho relatava na Comissão de Justiça da Câmara os projetos dos Srs. Fernando Santana, Temperani Pereira e Ramos de Oliveira Júnior, dando à PETROBRAS o monopólio das importações de petróleo e seus derivados – golpe terrível no truste e fortalecimento financeiro e político de nossa grande empresa estatal – com surpresa geral o Sr. Ferro Costa pediu vista. Toda a Comissão estava de acordo com a tese pró-PETROBRAS brilhantemente exposta e justificada por Barbosa Lima. E a proposição, a estas horas, já teria sido aprovada pela Câmara, não fosse o pedido de vista feito pelo Sr. Ferro Costa. Alegou ele que o fazia para acrescer-lhe uma emenda, estendendo o monopólio à distribuição, isto é, atrapalhando-se a tramitação, em nome de um suspeito 80, que depois se constatou não chegar a um magro 0,0008, pois é de ver que o tempo se passou, a radical emenda não foi apresentada, a proposição ficou, por isso, encalhada, todo um trabalho de persuasão foi por água abaixo, O Sr. Ferro Costa – preste-se atenção a este pormenor – que acabou devolvendo o parecer sem emenda alguma, mas, nesse ínterim, a Câmara encerrava seus trabalhos… Assim, nem distribuição, nem monopólio das importações de óleo.

Mas se a questão das refinarias não constitui objeto de nossas preocupações, NO MOMENTO, nem por isso deixamos de atinar com as verdadeiras causas do interesse que João Neves vem manifestando por elas.

Por elas, é modo de dizer, porque, na realidade, do que se trata, da parte de “O Globo” e em geral da imprensa entreguista, é de defender Capuava das acusações que lhe teria feito o Coronel Ernesto Geisel, por sinal amigo e irmão em petróleo do Sr. Juraci Magalhães o amigo da Lassie, perdão! de Link. Neves quer encobrir os abusos e fraudes que Capuava, segundo Geisel, teria cometido, misturando o caso concreto dessa empresa com o caso geral das outras, quando não é isso que está em jogo.

Se Capuava deve, pague! Pague e não bufe! Se não quiser pagar, que a direção da PETROBRAS saiba cumprir o seu dever, cobrando-lhe a dívida judicialmente, executando-a, intervindo nela, se preciso for.

Não há por que, a pretexto de defender-se a santa iniciativa privada, conceder à refinaria dos irmãos Sampaios qualquer “bill” ([1]) de indenidade ([2]). Nem a ela, nem a quaisquer outras que tentem burlar a lei. Capuava terá poder bastante para fazer João Neves latir a seu favor. Jamais, entretanto, deverá tê-lo para praticar impunemente os atos de que acusou o Coronel Ernesto Geisel. Mas essa é outra história, que nada tem a ver com o peixe, como diria o Neves, o outro, o da anedota, muito mais decente e mais homem do que o do “O Globo”. (OS, n° 243)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 23.12.2020 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia  

CM, n° ° 20.768. Trabalhadores Examinam Hoje Relatório Link ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Correio da Manhã, n° ° 20.768, 07.12.1960.   

OS, n ° 243. João Neves, Mr. Link, Ferro Costa e Capuava ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ O Semanário, n° 243, 01 a 07.01.1961.  

UH, n° 462. Fleiuss Contesta Link: Há Petróleo Comerciável ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Última Hora, n° 462, 29.11.1960.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: [email protected]

[1]    Bill: proteção.

[2]    Indenidade: isenção.