Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXXI
Descendo o Rio Madeira ‒ XII
Walter Karl Link
Abro um necessário e oportuno parênteses para fazer uma pequena referência ao “Relatório Link” cujo nome foi dado pela imprensa brasileira às cartas escritas pelo geólogo Walter Karl Link que fora contratado pela PETROBRAS para avaliar as possibilidades de ocorrência de petróleo no Brasil.
A imprensa esquerdista da época, criticou severamente as conclusões de Link acusando-o de ser um espião a serviço dos interesses capitalistas norte-americanos.
Estes foram os Conselhos do geólogo americano:
- As bacias terrestres brasileiras paleozoicas como Marajó, Acre, Baixo Amazonas, Médio Amazonas, Paraná e Parnaíba não tinham possibilidades petrolíferas mostradas. Elas deviam ser descartadas para novas perfurações, pelo menos temporariamente.
- O mar, e não a terra, é que seria a nova fonte de petróleo e gás natural do Brasil, no futuro.
- A PETROBRAS devia investir na prospecção e produção no exterior, desde que houvesse boas condições políticas e geológicas.
- A bacia terrestre de Sergipe devia ser prospectada nos anos seguintes de 1961 em diante.
- Dentre todas as bacias paleozoicas brasileiras, apenas a bacia do Alto Amazonas devia ser prospectada com mais afinco, após aperfeiçoamentos na geofísica. Esta tinha mostrado uma única camada de rochas geradoras de petróleo.
O Jornal, n° 10.589 – Rio de Janeiro, RJ
Sexta-feira, 18.03.1955
Depõe uma das Maiores Autoridades
Mundiais em Petróleo
Brasil Virá a Conquistar
Autossuficiência em Petróleo
Trouxe para o nosso país uma experiência de 29 anos como geólogo da Standard Oil e está convencido de que há mais petróleo em nosso país – Anos para desenvolver uma área altamente compensadora […] – Revelações do Sr. Walter K. Link, um dos pesquisadores de Nova Olinda
O geólogo norte-americano Walter K. [Karl] Link, chefe do Departamento de Exploração da Petrobras, pode ser apontado como um dos fatores do êxito das sondagens do Amazonas. Logo depois de sua chegada ao Brasil, realizou uma viagem pela Bacia Amazônica tendo manifestado parecer favorável à continuação dos trabalhos naquela região, onde reinava acentuado desânimo entre os pesquisadores.
O petróleo-champagne que jorrou em Nova Olinda, na noite de sábado passado, comprovou o acerto de seus prognósticos. O Sr. Walter Link trouxe para o Brasil, ao aceitar o convite que lhe fazia a Petrobras, uma experiência de 29 anos como geólogo da Standard Oil. Nessa qualidade percorreu quase todo o mundo, dirigindo as pesquisas ou estudando áreas petrolíferas.
– Ao vir para cá, entretanto, não tinha muitas informações sobre o Brasil, exceto das que dispunha a Standard. Até hoje não se sabe muito sobre o Brasil e até domingo a situação não me parecia muito boa – disse-nos.
Há mais Petróleo
Partindo do princípio de que nas zonas produtoras de petróleo [Venezuela, Texas, Califórnia, Arábia, etc.], as áreas ocupadas pelos campos petrolíferos de importância comercial correspondem de um a dois por cento da área total, o Sr. Link acredita que os campos petrolíferos do Vale do Amazonas cobrem uma área de 15 mil a 30 mil quilômetros quadrados dentro da área total de um milhão e meio de quilômetros.
– A situação geológica do Brasil é muito peculiar e difere da de outras regiões do mundo, somente podendo ser comparada à da área Centro continental dos Estados Unidos. O fato é que quando se acha um pouco de petróleo, muito mais poderá ser achado, contanto que a exploração seja feita com propriedade, técnica, persistência e, sobretudo, muito trabalho, declarou–nos.
A demora nos trabalhos de sondagem na Amazônia, o Sr. Link atribui ao “handicap” físico da região, dificultando-os enormemente.
O transporte do equipamento pesado apresenta-se como um problema quando feito por terra, devido aos pantanais e espessa floresta.
– Além desse problema, há outro de natureza geológica, pois lidamos com grandes áreas de rochas sedimentarias que são das mais antigas do mundo, com milhares de milhões de anos de idade. E não será em quatro ou cinco anos que as teremos explorado, afirmou ainda.
Explicação Necessária
– Em geral o público leigo em assuntos de petróleo é muito otimista quanto a descoberta, como a de Nova Olinda, e acredita que grandes quantidades podem e devem ser conseguidas em curto espaço de tempo. Mas não é tão fácil assim e mesmo sob as melhores condições, às vezes, são necessários anos para desenvolver uma área petrolífera altamente compensadora.
Acredito firmemente que o Brasil pode e eventualmente será autossuficiente em produção de petróleo, mas não afirmaria, agora, em quantos anos se conseguiria esta situação, – declarou-nos o Sr. Link. […]
Daqui Ninguém me Tira
É ele, presentemente, um dos homens mais bem remunerados do país, recebendo elevado ordenado anual da Petrobras, à qual está preso por um contrato de cinco anos, com direito mútuo de opção. O convite para trabalhar na Petrobras lhe foi feito pelo Coronel Juracy Magalhães. Não se mostrou inicialmente muito inclinado a transferir sua residência para o Brasil, só o fazendo porque o país lhe parecia um problema interessante além de um desafio geológico.
Até hoje não conseguiu retirar sua bagagem da Alfândega e quando o fizer será meu dia mais feliz no Brasil depois do dia em que jorrou petróleo em Nova Olinda. Mora em Copacabana, onde comprou um apartamento.
– O que significa que vão ter um trabalhão dos diabos para me tirar daqui.
Gasto um Milhão de Dólares
nos Trabalhos de Perfuração
Entusiasmo em Todo o Vale Pelo Êxito dos Trabalhos no Poço de Nova Olinda
MANAUS, 17 [Meridional] – A reportagem dos “Diários Associados” foi informada em Nova Olinda, pelos técnicos que dirigiram a perfuração dos poços petrolíferos, que foram empregados nos trabalhos de perfuração do solo do Amazonas cerca de um milhão de dólares, em busca do “ouro negro”, salientando-se que todo o material empregado é norte-americano. Divulga-se, também, que o Sr. Richard Reniers, engenheiro ianque responsável pelos trabalhos de prospecção do solo, na Amazônia chorou de alegria ao ter notícia do aparecimento de petróleo, gritando: “Sou o homem mais feliz do mundo”, abraçando, logo, todos os seus companheiros de trabalho.
Petróleo: uma Realidade
O engenheiro José Levino Carneiro, de Nova Olinda, declarou que “o petróleo no Amazonas é agora uma realidade” o que doravante a direção da Petrobras tomará enérgicas providências para impedir qualquer prejuízo na perfuração de novos poços.
Os “Diários Associados” Fretaram um Avião
A fim de melhor servir o público, ao saber das, primeiras notícias do aparecimento de petróleo em Nova Olinda a reportagem do “Jornal do Comércio”, órgão Associado de Manaus, fretou um avião tipo Catalina, sendo a primeira a chegar ao local.
Esperados os Técnicos
BELÉM. 17 [Meridional] ‒ Estão sendo esperados nesta capital os técnicos da Petrobras que vem examinar a região onde em Nova Olinda surta o petróleo, tendo como objetivo determinar a profundidade do veio.
Em Exposição o Petróleo
Foram expostos nas redações de “A Vanguarda” e de a “Província”, órgãos Associados, vários vidros contendo petróleo jorrado em Nova Olinda. Tão logo foi divulgada a notícia pela Rádio Marajoara, milhares de pessoas, de todas as ciasses sociais, acorreram ao local da exposição, desejosas de conhecerem o “ouro negro” do Amazonas.
Enviou Cumprimentos à Petrobras
O Coronel Omar Emir Chaves, superintendente do Plano de Valorização Econômica do Amazonas, visitou, também, as redações dos jornais “Associados”, interessado em ver o petróleo de Nova Olinda.
Deixando o local da exposição aquela autoridade dirigiu um telegrama de congratulações com a Petrobras, regozijando-se com o importante acontecimento.
O Petróleo é Nosso
MANAUS, 17 [Meridional] ‒ “O Petróleo é Nosso” ‒ esta foi a manchete da primeira página do órgão “Associado”, “Jornal do Comércio”, que desenvolveu um grande feito jornalístico, quando da aparição do petróleo na região do Madeira. Vencendo inúmeras dificuldades, conseguiu a reportagem do periódico amazonense chegar ao local, depois de ter viajado num avião Catalina, da Panair, pilotado pelo comandante Beirão.
Foi o maior feito da imprensa amazonense e, talvez um dos maiores do Brasil. Deve-se assinalar, também, que o local próximo do poço onde jorrou o petróleo é selva virgem. Na conclusão da manchete do “Jornal do Comercio” lê-se:
Muitas páginas escreveríamos sobre a viagem. A sua síntese, porém, é esta: vimos o petróleo de perto, o que brotou da terra de Nova Olinda. Dali sairão os dias ricos e o Amazonas próspero.
Todo o Amazonas em Festas
MANAUS, 17 [Meridional] ‒ O comandante do navio “Teresina”, Sr. David Benayon, ao chegar em Manaus informou que presenciou na localidade de Nova Olinda, cenas de delirante alegria pelo aparecimento do petróleo, em quantidade apreciável. O Sr. Banayon afirmou que viu bandeirolas que marcavam o início de uma nova era para a região, de riqueza e progresso.
O comandante relatou, também, as festas na cidade de Itacoatiara, terminando por dizer que o seu navio parou, face aos acenos do povo da terra, e foi, também, participar do justo júbilo da população.
Salvação Econômica da Amazônia
MANAUS, 17 [Meridional] A população não deixa de mostrar seu contentamento, com o aparecimento do “líquido negro”, em Nova Olinda. O povo vibra de um entusiasmo incomum diante da notícia sensacional. A respeito da espetacular ocorrência, a reportagem ouviu as figuras de proeminência no Amazonas. O Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Sr. Cyamo César da Silva, manifestou-se, à respeito, afirmando:
A notícia do jorro do petróleo em Nova Olinda, é de grande valor para o Amazonas e para o Brasil. Concretizada, representará a salvação econômica do Estado e os seus renovadores apontarão rumos novos à planície. Vou ao local, a convite do Governador Plínio Ramos Coelho, ver de perto a realidade. É um fato de importância histórica. (Continua…) (O JORNAL, N° 10.589)
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 17.12.2020 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
O JORNAL, N° 10.589. Depõe uma das Maiores Autoridades Mundiais em Petróleo… – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – O Jornal, n° 10.589, 18.03.1955.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
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