O Esecaflor monitora há mais de 20 anos as mudanças na floresta tropical, sob condições climáticas em condições experimentais adversas. Participam da iniciativa 19 pesquisadores da UFPA, Museu Goeldi e outras organizações nacionais e internacionais.

Agência Museu Goeldi – Um dos projetos em atividade no sítio de Pesquisa de Longa Duração (PELD), situado na Estação Científica Ferreira Penna, o Estudo da Seca da Floresta (Esecaflor) é considerado único no planeta por monitorar, no decorrer de duas décadas e em escala experimental, os efeitos das mudanças climáticas sobre a floresta tropical, incluindo as interações entre solo, plantas, fauna e atmosfera. Sob a coordenação da Universidade Federal do Pará (UFPA), a iniciativa conta com uma ampla rede de parcerias nacionais e internacionais.

Para apoiar as suas ações, recentemente, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) conseguiu renovar o financiamento de um projeto de pesquisa junto ao Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Essa será a terceira vez que a pesquisa receberá apoio do CNPq/MCTI.

Com o financiamento renovado, o novo projeto, cujo título é “O impacto do estresse hídrico artificial na biota do sub-bosque da floresta amazônica no projeto Esecaflor: 20 anos de monitoramento e lições aprendidas”, deve ter quatro anos de duração. Ele foi submetido pelo pesquisador Leandro Valle Ferreira, da coordenação de Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), por Antônio Carlos Lôla da Costa e João de Athaydes Silva Júnior, professores da UFPA e coordenadores do Esecaflor.

O projeto conta ainda com a participação de mais 19 cientistas do MPEG; da UFPA; das Universidades de Exeter (Reino Unido), Nacional da Austrália (ANU, sigla em inglês) e de Hamburg (Alemanha); do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO); e da Embrapa Amazônia Oriental, entre outros parceiros.

Apesar da renovação do financiamento, os recursos aprovados são insuficientes para o desenvolvimento de todas as atividades de pesquisas propostas e, principalmente, para a manutenção da estrutura do Esecaflor.

Diante da dificuldade e para dar continuidade às ações, os pesquisadores estão buscando mais recursos financeiros em órgãos de fomento às pesquisas nacionais e internacionais.

Funcionamento – O local de realização do Esecaflor é próximo à Estação Científica Ferreira Penna, mantida pelo Museu Goeldi, dentro da Floresta Nacional (Flona) de Caxiuanã, uma unidade de conservação de uso sustentável situada no município de Melgaço, a cerca de 400 quilômetros de Belém.

O objetivo do experimento é observar quais as estratégias de utilização de água e carbono de uma floresta tropical chuvosa submetida a uma situação de escassez de água. A preocupação com o aumento da temperatura e a redução da umidade decorre das projeções de cenários climáticos futuros para a região amazônica, feitas por especialistas de todo o mundo.

A estrutura física do projeto envolve duas parcelas de 01 hectare, o equivalente a um campo de futebol em cada. Ambas as áreas são delimitadas por trincheiras cavadas com profundidades que variam de 0,5 a 1,5 metros.

A primeira área, conhecida como “parcela controle”, continua sob condições normais e é usada como referência para os experimentos realizados na outra parcela, chamada de “B”.

Na parcela B, são excluídos cerca de 50% da água da chuva, por meio de uma estrutura composta por, aproximadamente, seis mil painéis plásticos, distribuídos a uma altura que varia de 1,5 a 3,5 metros acima do solo. A água captada é, assim, transportada através de calhas para uma trincheira que a exclui por gravidade.

Cada uma das áreas possui uma torre metálica de 30 metros de altura. Essas torres permitem o acesso às árvores, facilitando as análises de fisiologia vegetal, assim como o monitoramento por estações meteorológicas automáticas. Feitas desde 2001, todas as medições são realizadas simultaneamente em ambas as parcelas.

Na prática, essas análises incluem o registro da temperatura e da umidade do solo em diversos níveis, informações meteorológicas da superfície até acima da copa das árvores e medições periódicas do crescimento da vegetação. Outros fatores como a queda das folhas, frutos e galhos; os fluxos de seiva em diversas árvores e de gás carbônico das árvores e do solo; bem como o impacto da redução hídrica na comunidade de plantas e animais do sub-bosque também são observados pelos estudiosos.

“A pesquisa possui uma grande importância, pois tentamos entender o mecanismo de funcionamento da vegetação através das medições e o que deve ocorrer se os cenários de mudanças climáticas se concretizarem”, relatam os autores do novo projeto.

Eles lembram que os resultados dos estudos e medições podem contribuir tanto para a realização de novas pesquisas quanto para nortear políticas públicas nacionais e internacionais de mitigação das alterações no clima.

“De forma geral a comunidade de plantas na parcela experimental tem menor biomassa, densidade e riqueza de espécies do que a parcela de controle, corroborando com o que os modelos de predição climática dizem a respeito da diminuição de chuvas da Amazônia, que irá transformá-la em outro tipo de vegetação”, afirmam na proposta aprovada pelo CNPq.

Serviço: Para conhecer mais sobre o Esecaflor, visite http://www.esecaflor.ufpa.br/.

Para conhecer mais sobre o Sítío PELD-FNC visite a página do projeto no Facebook.

PUBLICADO EM:    MUSEU GOELDI