Traçar novos passos e construir outras experiências de vida se tornaram rotina para quem deixou o país de origem em busca de oportunidades em um território longe de casa.
A mudança repentina de um lugar para outro e a necessidade de se adaptar a uma língua diferente podem impactar na saúde mental de milhões de refugiados e migrantes que vieram para o Brasil.
Com objetivo de amenizar as dificuldades e de auxiliar nos aspectos emocionais, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) realiza nas últimas semanas de dezembro atividades lúdicas com venezuelanos que estão na Área de Pernoite da Rodoviária de Boa Vista. As equipes atendem mulheres, homens e idosos para que possam se expressar por meio da arte, conversa e imaginação.
Segundo a consultora de saúde mental da OIM, Juliana Oliveira, a proposta surgiu devido ao contexto da pandemia e à aproximação do final do ano, quando as pessoas tendem a se sentir mais sozinhas e distantes da família.
“Já realizamos seis oficinas com públicos diferentes para as pessoas que estão na Rodoviária. Tudo pensado em como conciliar as emoções nesse momento difícil. Tivemos uma boa recepção com o público refugiado e migrante. Foi muito emocionante, pois muitos se permitiram falar dos sentimentos causados pela mudança de país. Mesmo com a diferença entre as línguas, pudemos nos entender”, disse.
As atividades englobam rodas de conversa sobre estresse num período de pandemia, planos para o futuro por meio de pintura e fotografia, danças e workshops com projetos de vida. Devido ao contexto da pandemia de COVID-19, os profissionais seguiram todas as recomendações de saúde e realizaram as oficinas em área externa e com uso obrigatório de máscaras, além de limitar o número de participantes em cada turma.
Entre as beneficiárias, estava a professora Judith, que deixou toda a família na Venezuela e se viu sozinha em um país diferente. “Entrar no Brasil, para mim, foi um prêmio. Sair de casa causa angústia, mas há também o sentimento de alegria em chegar aqui, ser bem recebida e ver que tem pessoas interessadas em ajudar, em saber dos nossos sentimentos e emoções. Para mim, foi uma benção. Estou muito feliz! Na oficina, liberei muitas emoções que estavam presas”, relatou.
Durante a oficina, para trabalhar aspectos que queria deixar no passado, Yonaiker coloriu um luar sobre as montanhas. Para o futuro, ilustrou um caminho ensolarado. “O primeiro representa a solidão que sinto sem a minha mãe, que está em Manaus. Penso todos os dias no reencontro e, por isso, o sol significa como vai ser nossa vida juntos e com a família reunida novamente”, contou.
O jovem reside na capital com a avó e pretende seguir o processo de interiorização para se reunir com a família no estado vizinho. “Essa atividade foi muito importante para mim, pois agora vejo que o futuro será muito feliz”, complementou.
As oficinas de apoio à saúde mental ainda serão realizadas nos dias 28 e 30. Elas contam com o apoio financeiro do Governo do Canadá.
PUBLICADO EM: ONU NAÇÕES UNIDAS
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