Área de Monocultura ao lado da Terra Indígena Uru-Eu-Wau Wau, próximo a entrada da base Bananeira da Funai, no município de Seringueiras RO. (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

A permanente ameaça do governo do Estado de Rondônia e da Assembleia Legislativa às áreas protegidas se volta agora para duas unidades de conservação: Reserva Extrativista Jaci-Paraná e Parque Estadual Guajará-Mirim. Governador e deputados pretendem entregar as áreas públicas, um bem do povo, a grileiros e desmatadores, por meio de projeto de lei que tramita com prioridade na Assembleia Legislativa e pode ser aprovado nos próximos dias. O projeto do governador e dos deputados é desmembrar cerca de 161.599 mil hectares dessas duas unidades de conservação e entrega-los à exploração, principalmente para a criação de gado.

As duas áreas têm sofrido invasões crescentes nos últimos 20 anos. Seringueiros da RESEX foram expulsos com violência por jagunços armados a serviço dos grileiros. Entregar essas áreas aos invasores é premiar e legitimar a ação do crime organizado no Estado. É assumir que o crime compensa e incentivar novas invasões em outras unidades de conservação, a exemplo do que ocorre na RESEX Aquariquara e outras reservas na região de Machadinho e Vale do Anari.

A desafetação dessas unidades impactam diretamente as Terras Indigenas Uru-eu-wau-wau, Karipuna, Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão, Karitiana e os povos que estão em isolamento voluntário na região que envolve as áreas protegidas, ameaçando a integridade física, cultural e territorial podendo levar a eminência de um genocídio de culturas milenares.

Entendemos que as unidades de conservação não são empecilho para o desenvolvimento e que, ao contrário, podem ser aliadas na geração de emprego e renda, como por exemplo, na exploração sustentável da biodiversidade. O ataque a elas mostra ao Brasil e ao mundo que o estado não está preocupado em cuidar da Floresta Amazônica, nosso maior patrimônio.

As unidades de conservação: Jaci-Paraná e Guajará-Mirim não podem perder nem um hectare e precisam ser recuperados em sua integridade, o que seria outra oportunidade de geração de emprego e renda. O povo rondoniense não precisa de menos florestas. Precisa de mais. O uso das áreas públicas para a criação de gado beneficia apenas um pequeno grupo, além de ser crime previsto em lei.

As justificativas de invasões de áreas protegidas para desafetá-las utilizadas pelo PLC: nº 80/2020, só demonstra a incapacidade do Poder Público de governar e gerir o território, deixando a mercê do crime organizado.

Diante do exposto as entidades que assinam esta nota, exigem:

  • 1. A retirada desta matéria da pauta do poder legislativo estadual;
  • 2. Retirada dos invasores de todas as áreas protegidas;
  • 3. Recondução das comunidades tradicionais aos seus territórios;
  • 4. Proteção, monitoramento e fiscalização das Terras Indígenas e Unidades de Conservação;
  • 5. Que o gado seja apreendido, leiloado e os recursos sejam aplicados na recuperação das áreas degradadas;
  • 6. Que o programa de reflorestamento do estado priorize as referidas áreas para recomposição florestal.

Porto Velho-RO, 01/12/2020.

Assinam:

  • Arquidiocese de Porto Velho;
  • Associação de Defesa Etnoambiental – KANINDÉ;
  • Conselho Indigenista Missionário/CIMI – RO;
  • ONG Raiz Nativa;
  • SOS Amazônia;
  • Grupo de Pesquisa em Gestão do Território e Geografia Agrária da Amazônia – GTGA/UNIR;
  • Associação do Povo Indígena Karipuna-APOIKA;
  • Associação do Povo Indígena Uru-eu-wau-wau/Jupaú;
  • WWF-Brasil;
  • Comitê Chico Mendes;
  • Revista Xapuri;
  • Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia – AGIR;
  • ECOPORÉ-Ação Ecológica Guaporé;
  • Fundação Luterana de Diaconia;
  • Conselho de Missão Entre os Povos Indígenas;
  • Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia-FDL;
  • COMIN – Conselho de Missão Entre Povos Indígenas;
  • CAPA;
  • OPIROMA;
  • Associação Alternativa Terra Azul;
  • Organização Indigenista da Diocese de Guajará-Mirim;
  • Pastoral Indigenista da Diocese de Ji-Paraná;
  • IMV – Instituto Madeira Vivo;
  • Associação Metareila do Povo Indígena Suruí;
  • Conselho Nacional das Populações das Populações Extrativistas-CNS;
  • Diretório Regional do Partido dos Trabalhadores-PT;
  • Rede Sustentabilidade;
  • Juventude Indígena de Rondônia;
  • FETAGRO – Federação de Trabalhadores na Agricultura de Rondônia;
  • Via Campesina RO;
  • IPÊ – Instituto de Pesquisa Ecológica;
  • FVA – Fundação Vitória Amazônica;
  • Grupo de Pesquisa Geografia, Natureza e Territorialidades Humanas – GENTEH-UNIR;
  • Fórum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Rondônia – Fórum DCA/RO.

PUBLICADO EM:    AMAZÔNIA REAL

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