Arqueologia busca na materialidade dos vestígios recuperar narrativas originais

As ondas de ocupação e colonização de promoção estatal em Rondônia levaram à fabricação de uma ideia de pioneirismo atribuída a imigrantes em prática racista contra as populações indígenas habitantes originais da área artificialmente estabelecida por uma cartografia ocidental arbitrária.

O conjunto de estudos reunidos no dossiê “A arqueologia do Alto Rio Madeira” publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (http://editora.museu-goeldi.br/humanas/) se concentra na ideia de que essa disciplina tem “papel fundamental em oferecer ferramentas para uma contranarrativa, através do estudo da materialidade.”

As tentativas de apagamento da herança indígena às quais os resultados de pesquisa apresentados no dossiê se contrapõem está relacionada a imposição de uma noção de moralidade pelo trabalho e de ocupação de um alegado “vazio amazônico”, por projetos de infraestrutura como a estrada de ferro Madeira-Mamoré no início do século XX e, na década de 1960, com a abertura da BR-364. A colonização do hoje estado de Rondônia, amparadapelas elites locais, definiu, que a ocupação do território ignorasse a diversidade ambiental e sociocultural igualmente.

Muitos pioneiros são lembrados na história da região: pioneirismo dos que chegaram ainda no século XVII para explorar as drogas do sertão, no caso, o cacau. Pioneirismo da onda que chegou no início do século XX para explorar recursos como a borracha; pioneirismo dos colonos dos anos 1960 chegados no rastro da abertura da BR-364 em estímulo à ocupação do “vazio amazônico”, programa do governo militar brasileiro. Mas ainda houve a exploração da cassiterita nos 1970 até se chegar ao pioneirismo mais recentemente fabricado.

De acordo com Fernando Almeida e Guillermo Mongeló (https://doi.org/10.1590/2178-2547-bgoeldi-2019-0080 ) que organizam o dossiê: ” Os estudos têm demonstrado que, durante a longa história de ocupação humana, as dinâmicas sociais do alto rio Madeira estiveram conectadas com o restante da Amazônia (Neves et al., 2020). Para eles, o significado e a persistência de lugares se revelam com potência na região ao alto rio Madeira. E usam o exemplo do sítio arqueológico Teotônio, às margens do rio Madeira, lugar de interações humanas com a natureza e com o sobrenatural, responsáveis pelo estabelecimento de ” uma série de referentes espaciais que ajudaram na cognição das experiências vividas.” Importante para os coletivos indígenas em tempos remotos, mas também significativos para os próprios pesquisadores: ” o sítio já recebeu [em dez anos] seis campanhas de escavação e caminha para ser um dos mais pesquisados da história da arqueologia da Amazônia.” Os estudos se multiplicaram na região com pesquisas em sítios como o sambaqui do Monte Castelo, no rio Guaporé e nos sítios do rio Ji-Paraná.

A ausência indígena, o seu silenciamento, foi e ainda é parte da estratégia de Estado para instalar empreendimentos, explorar recursos e ocupar terras. A arqueologia expõe esse fenômeno e demonstra através da materialidade a história pretérita de presença humana e da ação antropogênica em regiões como o oeste amazônico.

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Texto: Jimena Felipe Beltrão, jornalista, editora científica do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, Pará, Brasil. Email <[email protected]>

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