Áreas alagadas periodicamente pelos rios de água branca, como várzeas amazônicas são importantes para agricultura, criação de gado, pesca, extração madeireira, além de seu valor ecológico, como alta biodiversidade e estocagem de água. Este rico ambiente, sua ocupação, usos e possibilidades é “solo fértil” para livro publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa / MCTI) intitulado Várzeas Amazônicas: Desafios para um Manejo Sustentável.

O livro marca as comemorações dos 50 anos do convênio bilateral entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do Brasil, e a Sociedade Max-Planck (MPG), da Alemanha em estudos de Áreas Alagáveis. A colaboração foi estabelecida no início dos anos 1960, mas foi oficializada em 28 de maio de 1969 e liderada por Djalma Batista, então diretor do Inpa, e Harold Sioli, Instituto Max-Planck de Limnologia do por parte da Alemanha.

A obra é assinada por 21 autores, que escreveram os 14 capítulos. Entre eles estão renomados cientistas que editaram a publicação: Wolfgang Junk, Maria Teresa Fernandez Piedade, Florian Wittmann e Jochen Schöngart. Os quatro são vinculados ao convênio Inpa/Max-Planck “Áreas Alagáveis” e possuem uma vasta experiência e conhecimento acumulado por décadas sobre as várzeas e outros ecossistemas amazônicos e tropicais. A apresentação da obra foi escrita pela atual diretora do Inpa, a pesquisadora Antonia Franco, e pela diretora do Instituto Max-Planck de Biogeoquímica (MPI-BGC) Susan Trumbore.

“Esperamos que a divulgação deste conhecimento acumulado e sintetizado no livro alcance e garanta a conservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos e a melhoria da qualidade de vida das populações humanas que habitam as várzeas desde os períodos pré-colombianos”, destaca a pesquisadora do Inpa Maria Teresa Fernandez Piedade, coordenadora do convênio pelo lado brasileiro.

A obra sobre as várzeas amazônicas trata ainda da ecologia, do clima, da hidrologia, da qualidade dos solos e da água, da vegetação herbácea e lenhosa e do aproveitamento pela agropecuária, pela exploração madeireira e pela pesca para esses ecossistemas. É possível encontrar uma análise dos prós e contras das diferentes atividades, avaliando os impactos para o meio ambiente e propondo modelos de aproveitamento mais harmônicos dos recursos naturais, em nível técnico e político-administrativo.

O livro leva a chancela da Editora Inpa. É voltado para acadêmicos, políticos, planejadores, administradores e público com interesse em conhecer mais sobre essas áreas. A versão digital está disponível para download no Repositório do Inpa. Acesse aqui. A versão impressa da obra estará disponível em breve.

Manejo Sustentável

A várzea é formada por um mosaico de diferentes tipos de florestas alagáveis (macrohabitats), responsáveis pela enorme biodiversidade desses ecossistemas. O elevado número de espécies de árvores desses ambientes e sua vegetação herbácea oferecem habitat e alimento para muitas espécies de peixes, pássaros, anfíbios, répteis e mamíferos e para organismos terrestres que vivem no solo da floresta e periodicamente ou permanentemente na copa das árvores.

Para os editores, a alta diversidade dos macrohabitats tem que ser mantida pelos diferentes sistemas produtivos. “Assim, a preservação em consonância com o manejo sustentável da floresta de várzea é um grande desafio, porque uma vez destruída, a floresta de várzea vai necessitar séculos para se recuperar”, destacam os pesquisadores.

Ainda segundo os editores, para melhorar a eficiência dos diferentes sistemas de produção, projetos pilotos são necessários, combinando desenho experimental científico com execução orientada na prática, conforme é discutido em capítulos específicos da obra. Para isso acontecer, segundos os pesquisadores, é fundamental a intensiva cooperação entre instituições científicas, os diferentes grupos de usuários e os governos dos estados.

“Essa integração permitirá a viabilidade econômica, um baixo impacto ambiental e uma elevada aceitação social, aumentando a produtividade da terra e do trabalho, além de justificar economicamente o melhoramento da infraestrutura na várzea, para o bem da população local.

Cooperação Científica

Em 2019 foi comemorado os 50 anos da Cooperação Inpa/Max-Planck da Alemanha, acordo que no decorrer das décadas foi firmado com vários Institutos da Sociedade Max-Planck, representada pelos Institutos Max-Planck de Limnologia (MPIL) em Plön (1969-2007), Química (MPIC) em Mainz (2008-2017) e Biogeoquímica (MPI-BGC) em Jena (desde 2018).

A cooperação é uma referência internacional, além de ser a mais longa cooperação científica do Brasil entre os dois países. Os trabalhos produzidos expandiram o conhecimento sobre as formas de uso sustentável das áreas úmidas amazônicas e brasileiras, permitindo a manutenção de sua integridade e a melhoria da qualidade de vida das populações humanas que as habitam.

Outro resultado importante da colaboração é o significativo contingente de profissionais especializados formados em estudos de áreas úmidas, atuando em diversas instituições do Brasil e do mundo. Para ampliar a socialização desse conhecimento com crianças, jovens e adultos, o grupo vem utilizando diversos meios (escritos e mídia), além de participação em eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Atualmente as atividades do Convênio Inpa/Max-Planck “Áreas Alagáveis” são voltadas ao entendimento da dinâmica e da multiplicidade de funções e relevância das áreas úmidas amazônicas. O grupo desenvolve estudos da ecologia, ecofisiologia e composição de espécies desses ambientes, sua tipificação, monitoramento e avaliação continuada.

As áreas úmidas cobrem cerca de 30% da região amazônica e muitas delas vêm sofrendo impactos antrópicos de diversas magnitudes, além de impactos derivados das mudanças climáticas. “Então, os estudos desenvolvidos no âmbito da cooperação são cada vez mais relevantes, e sua continuidade fundamental para a sociedade e para a formulação de políticas públicas para uso e restauração adequados das áreas úmidas”, destacou o pesquisador do Inpa Jochen Schöngart.

Editores

Prof. Dr. Wolfgang J. Junk, líder emérito do Grupo de Trabalho Ecologia Tropical do Instituto Max-Planck de Limnologia, Plön, Alemanha. Colaborador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) atuando no grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas). De 2008 a 2015 foi colaborador da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus. Desde 2009 é coordenador científico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INCT-INAU), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá. Tem ampla experiência em ecologia e manejo de áreas úmidas

Profa. Dra. Maria Teresa Fernandez Piedade, bióloga. Doutora em Ecologia. Pesquisadora Titular Inpa, onde lidera o grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas). Tem experiência na área de ecologia de áreas úmidas e seu manejo sustentável, com ênfase em macrófitas aquáticas, florestas alagáveis, produção primária e interações entre organismos. Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), atualmente pesquisadora Nível 1A do CNPq e membro de vários comitês de órgão públicos.

Prof. Dr. Florian Wittmann, geógrafo. Pesquisador do Karlsruher Institut für Technologie – KIT, Alemanha, onde lidera o Departamento de Ecologia em Áreas Úmidas do Instituto de Geografia e Geoecologia. Integrante do grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas), com experiência na área de ecologia e manejo sustentável de áreas úmidas, em particular sobre a distribuição e diversidade de florestas alagáveis.

Prof. Dr. Jochen Schöngart , doutor em Ciências Florestais. Pesquisador Titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) atuando no grupo de pesquisa MAUA (Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas) com experiência na área de clima, hidrologia, ecologia e manejo florestal de áreas alagáveis, em particular com aplicações dendroecológicas. Membro do Painel Científico para Amazônia (Painel Científico para a Amazônia – SPA) e de outros comitês científicos e atualmente pesquisador do CNPq – Nível 1D.

A publicação pode ser acessada gratuitamente no Repositório Digital do Inpa. Veja aqui

Da Redação – Inpa

Fotos – Acervo Dr. Jochen Schongart