Essa foi a primeira vez em que um grupo de cientistas avaliou a diversidade de abelhas com o esforço de coleta padronizada em áreas abertas e isoladas da floresta amazônica. Todos os exemplares obtidos em campo foram incorporados à Coleção de Entomologia do Museu Goeldi.
Agência Museu Goeldi – Uma recente publicação chama a atenção para a diversidade de abelhas presentes no bioma amazônico. Ao identificar 118 espécies pertencentes a 37 gêneros de abelhas em uma das regiões mais preservadas dentro do Arco do Desmatamento, os autores apontam que esse foi apenas um primeiro esforço e está aquém de representar toda a biodiversidade das áreas estudadas.
Publicado na revista Environmental Entomology, da Sociedade Entomológica da América, o artigo Forest Matrix High Similarity in Bee Composition Occuring on Isolated Outcrops Within Amazon Biome foi assinado por um grupo de pesquisadores de diversas instituições de pesquisa e ensino. Os biólogos Ulysses Madureira Maia, vinculado ao programa de pós-graduação em Zoologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), em convênio com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG); e Leonardo de Sousa Miranda, que é pesquisador pelo Programa de Capacitação Institucional do MPEG, foram dois dos oito coautores da pesquisa.
Com uma população cada vez mais ameaçada e reduzida em todo o mundo, as abelhas estão entre os polinizadores mais importantes para as espécies de plantas em florestas nativas. Apesar de importantes, ainda se sabe muito pouco sobre a presença, diversidade e as suas relações com a flora em regiões tropicais, o que torna os estudos desse tipo mais urgentes e significativos.
Localizadas em duas áreas protegidas na porção sudeste da Amazônia – a Floresta Nacional de Carajás e o Parque Nacional dos Campos Ferruginosos -, as áreas pesquisadas situam-se dentro do chamado Arco do Desmatamento da Amazônia, uma região altamente pressionada e impactada por atividades econômicas, como a agropecuária.
A pesquisa consistiu na análise da composição e diversidade de abelhas encontradas em seis afloramentos rochosos, conhecidos popularmente como “corpos de canga”. Fragmentos naturais de vegetação característica de ambientes abertos, essas áreas ficam isoladas entre si e, ao mesmo tempo, circundadas pela floresta típica amazônica, como “ilhas”.
Essa foi a primeira vez em que um grupo de cientistas avaliou a diversidade de abelhas em áreas abertas e isoladas nas cangas da floresta amazônica, utilizando técnicas de amostragem complementares e com esforço de coleta padronizado. Mais de 1.700 exemplares de abelhas coletados em campo foram depositados na coleção de entomologia do MPEG.
“Utilizamos diferentes metodologias complementares (a busca ativa com redes entomológicas e três tipos de armadilhas), realizando o esforço padronizado de coletas ao longo de um ano. No total foram registradas 118 espécies de abelhas, contudo esse esforço ainda não foi suficiente para representar a biodiversidade dessas áreas”, conta Ulysses Maia.
O pesquisador Leonardo Miranda também relata que “a riqueza, a abundância e a diversidade das abelhas não puderam ser explicadas pelo tamanho dos afloramentos estudados”.
“Além disso, a similaridade na composição das espécies é relativamente alta e também não pode ser explicada pelo grau de isolamento ou tamanho dessas áreas”, comenta o biólogo.
Na prática, esses resultados sugerem que a floresta amazônica não é uma barreira para as abelhas encontradas na área de estudo. Segundo o artigo, uma possível explicação é que a presença das áreas florestais no entorno das cangas pode representar o habitat adequado para a maioria das espécies de abelhas amazônicas. Dessa forma, as abelhas podem viver na floresta, encontrando recursos florais e ninhos na vegetação densa, mas também usam as áreas de cangas para coletar néctar e pólen.
Os autores apontam que os dados ainda precisam ser complementados e novos trabalhos devem ser realizados, a fim de aumentar as amostragens e reforçar os resultados obtidos. Eles também sugerem que novas áreas dentro das cangas sejam investigadas, para que se conheça mais a comunidade de abelhas, além da ampliação das pesquisas para a floresta ao redor das cangas.
“Esses estudos são extremamente importantes para preencher lacunas básicas de conhecimento sobre a biodiversidade, que são chave para ações de manejo e conservação”, completa Leonardo Miranda.
Coautoria – O artigo “Forest Matrix Fosters High Similarity in Bee Composition Occurring on Isolated Outcrops Within Amazon Biome” foi assinado pelos pesquisadores Ulysses Maia, Leonardo Miranda, Beatriz Coelho, José Santos Junior, Rafael Raiol, Vera Imperatriz-Fonseca e Tereza C Giannini. Entre as instituições de pesquisa às quais eles pertencem estão o Instituto Vale, as Universidade Federais do Pará (UFPA), de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de São Paulo (USP).
O trabalho pode ser encontrado em http://bit.ly/abelhascangasamazonicas.
PUBLICADO EM: MUSEU GOELDI
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