Cruzeiro do Sul (AC), 12/11/2020 – Das margens do rio Envira aos imponentes buritis que guardam os afluentes do rio Moa, o Governo Federal realizou 3,1 mil atendimentos nas terras indígenas do Alto Juruá, no Estado do Acre.
Realizada entre os dias 02 e 11 de novembro, a operação dos Ministérios da Saúde e da Defesa de combate à Covid-19 teve a finalidade de reforçar a atuação das equipes multidisciplinares de saúde indígena, sobretudo em locais de difícil acesso.
Durante dez dias, a missão interministerial a mobilizou uma equipe de 30 profissionais de saúde das Forças Armadas que atuaram nas aldeias de Morada Nova, Formoso, Nova Floresta, São Vicente, Sete Estrelas, Boa Vista e Barão.
Além de todo suporte logístico, as Pastas enviaram mais de duas toneladas de insumos, entre medicamentos, testes rápidos e equipamentos de proteção individual.
Ao longo da missão, os indígenas que apresentavam dificuldade respiratória e os que apresentavam quadros suspeitos do novo coronavírus eram encaminhados para avaliação médica e testagem. De acordo com o Major William Lyra Rocha, Bioquímico do Ministério da Defesa, a ação serviu para comprovar a queda na taxa transmissão da Covid-19.
“Diante da ausência de quadros clínicos da doença, apenas trinta pacientes foram testados ao longo de toda a missão. Nesses casos, a maioria dos resultados detectou IgG positivo. Isso significa que o paciente teve infecção há pelo menos três semanas e, muito provavelmente, pode estar imunizado”, disse
Coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Juruá, Iglê Monte da Silva, corrobora com a percepção de um cenário de imunização. Supervisionando a atenção à saúde em 162 aldeias e priorizando atendimento humanitário que acolhe os indígenas em seu próprio ambiente, para a assistente social o pico da Covid-19 já passou.
“A contaminação pelo novo coronavírus caiu de maneira expressiva na região do Alto Juruá. Nossa preocupação agora é lidar com as sequelas que a doença deixou. É por isso que a ação interministerial foi de fundamental importância, uma vez que acolhe os indígenas dentro de suas tribos, ao lado de seus familiares”, ponderou.
Atendimento Domiciliar
Considerando o momento de fragilidade e recuperação dos indígenas, a missão procurou ampliar os esforços de assistência à saúde. Apesar dos atendimentos terem sido realizados nas próprias aldeias, muitas vezes, os pacientes que estão acamados necessitam de um suporte diferenciado. A oportunidade de prestar este apoio foi especial para a Primeiro-Tenente Letícia Moreira de Castro. A clínica médica do Exército disse que as visitas domiciliares tiveram um impacto importante na vida das famílias indígenas.
“Foi uma experiência muito gratificante. As visitas me permitiram olhar nos olhos do paciente e receber em troca o reflexo da esperança naqueles rostos. Muitas vezes não havia nem a necessidade de prescrição de um novo medicamento, mas o simples fato de conversar, ouvir a dificuldade do outro já são atitudes transformadoras. Para mim, é este o legado da missão”, destacou.
Consolidado ao longo da operação, um dos dados estatísticos que mais impressionam é o fato de que 54% dos adultos atendidos apresentaram excesso de peso. Desse total, a obesidade já atingia 22% dos indígenas. Segundo a nutricionista do Exército, a Aspirante Adriana Leão de Miranda Ferreira, o fenômeno está associado à proximidade de centros urbanos e a mudança dos hábitos alimentares.
“No contexto dos índios aculturados, que vivem próximo à cidade, como é o caso da aldeia de Morada Nova, a introdução de alimentos industrializados e o sedentarismo levam ao desenvolvimento das doenças crônicas. Já no caso dos indígenas que vivem mais isolados, como os de Nova Floresta, as atividades de cultivo e caça são predominantes. No entanto, se por um lado inexistem doenças crônicas, por outro, conseguimos identificar casos de desnutrição infantil”, avaliou.
Narrativas pessoais
Por trás de toda estatística gerada pelo balanço final de uma operação sempre estão presentes milhares de histórias humanas. Afetos que não podem ser verificados por um estetoscópio, sentimentos incapazes de serem revelados por meio de uma ultrassonografia. São pequenos dramas cotidianos de pais, mães, filhos e irmãos que, ao largo da tabulação dos dados, ficarão eternizados na memória de toda a equipe de profissionais de saúde.
Histórias como a da indígena de Morada Nova. Viúva há doze dias e sentindo fortes dores abdominais, ela se apresentou à médica do Exército Segundo-Tenente Bruna Pimenta Valente. Ocasião na qual foi diagnosticada gravidez. A paciente ficou bastante emocionada ao relembrar que, pouco antes do falecimento do marido, o casal já planejava a possibilidade de um terceiro filho.
Não faltam histórias para Segundo-Tenente Bruna. “Em Nova Floresta, descobrimos uma gestação gemelar. Imediatamente procuramos conversar com a equipe de saúde e toda a família, uma vez que nessa gravidez a mulher precisa ser acolhida integralmente por centros hospitalares com condições adequadas ao acompanhamento”, relembrou.
Operação Covid-19
O Ministério da Defesa ativou, em 20 de março, o Centro de Operações Conjuntas, para atuar na coordenação e no planejamento do emprego das Forças Armadas no combate ao novo coronavírus. Nesse contexto, foram ativados dez Comandos Conjuntos, que cobrem todo o território nacional, além do Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), de funcionamento permanente. A iniciativa integra o esforço do governo federal no enfrentamento à pandemia.
As demandas recebidas pelo Ministério da Defesa, de apoio a órgãos estaduais, municipais e outros, são analisadas e direcionadas aos Comandos Conjuntos para avaliarem a possibilidade de atendimento. De acordo com a complexidade da solicitação, tais demandas podem ser encaminhadas ao Gabinete de Crise, que determina a melhor forma de atendimento.
Por Tenente Otavio Vieira
Fotos: Divulgação/ Ministério da Defesa
Para acessar fotos da Operação COVID-19, visite os Flickrs da Operação. (Link1/Link2/Link3)
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