Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XXXII  

Projeto-aventura Desafiando o Rio-mar

Viagem ao Redor do Brasil (1875-1878) – IV 

Desde 01.10.1880, fazia o Dr. João Severiano parte desse Instituto, do qual foi sócio correspondente, efetivo e honorário, chegando a ocupar os cargos de 2° e 1° Secretário e 1° Vice-Presidente. Aliás, pertenceu a várias outras agremiações literárias e científicas, entre as quais o Instituto de França, que lhe conferiu as Palmas Acadêmicas. Por Portaria de 04.01.1890, tornada pública pela Ordem do Dia n° 25, de 21.01.1890, foi nomeado para fazer parte da Comissão encarregada de elaborar um projeto de reorganização do Exército, consoante os modernos princípios das ciências militares, com prejuízo de suas funções hospitalares.

A 03.03.1890, foi mandado assumir as de Diretor interino do supra aludido Hospital Militar da Guarnição do Rio de Janeiro. Por Decreto de 27 de março, publicado na Ordem do Dia n° 49 de 31 do mesmo mês, era promovido a Coronel-mor de 1ª classe. Por esse motivo, deixou, a 16 de abril, a direção do Hospital, entrando, a 17, no exercício de Inspetor do Pessoal do Serviço Sanitário do Exército.

Por Decreto de 01.05.1890 foi promovido a General-de-Brigada graduado o que consta da Ordem do Dia n° 59, de 3 desse mês. Da Ordem do Dia n° 78, de 28 de junho, consta haver sido jubilado, a pedido, sem vencimentos no lugar de Professor da cadeira que lecionava no Colégio Militar [Decreto de 25.06.1890].

De outra Ordem do Dia n° 85, de 29 de julho, consta lhe haver sido feita a entrega da Medalha da Argentina, comemorativa da guerra contra o Paraguai. A 16 de setembro assumia interinamente as funções de Inspetor Geral do Serviço Sanitário do Exército. Por Decreto, de 4 de outubro, constante da Ordem do Dia n° 116, de mais dois dias, era efetivado no posto de General-de-Brigada. A 24 do mês em curso, era condecorado com o grau de Oficial da Ordem Militar de São Bento de Aviz [Ordem do Dia n° 126, de 29.10.1890].

Em decorrência do artigo 80 do Regulamento aprovado pelo Decreto n° 307, de 10 de maio, tomou assento no Conselho Supremo Militar de Justiça conforme Aviso do Ministro da Guerra, de 20 de dezembro, para elucidar as questões de Medicina Legal nos processos de justiça.

A 25.02.1891, era eleito Senador da República, representando o Distrito Federal. Encerrados os trabalhos do Congresso, reassumiu o seu cargo militar, ainda que por pouco tempo, em virtude de parte de doente que, a 13 de abril apresentou. Restabelecido de sua rápida enfermidade retornava a atividade, reassumindo as funções de Inspetor Geral, as quais deixou em 16 de junho por voltar a ocupar sua cadeira de Senador a 1ª Constituinte Republicana. Em 12 de setembro, a Ordem do Dia n° 245 publicava sua nomeação para Membro da 4ª Seção da Comissão Técnica Militar Consultiva e a 5 de novembro reassumia o ilustre General as funções de Inspetor Geral.

Em 1892, a 8 de fevereiro, dava parte de doente, até que por Decreto de 7 de abril, publicado na Ordem do Dia n° 319, de 10 do mesmo mês, era reformado.

Sua reforma não foi voluntária, todavia. É que, com o golpe de Estado desferido por seu mano, o Generalíssimo Manuel Deodoro da Fonseca e sua consequente renúncia em favor do Vice-Presidente da República o General Floriano Peixoto, 13 Oficiais-Generais de terra e mar exigiam, mercê de manifesto a esse último, entregue pelo Marechal José de Almeida Barreto, se procedessem a novas e imediatas eleições. Um dos signatários desse importante documento era o General Dr. João Severiano. No dia seguinte, 4 de abril, todos os treze Oficiais-Generais eram reformados, sendo que o médico no posto de General-de-Divisão.

No dia 10.02.1892, seria ele preso juntamente com os Drs. José Joaquim Seabra, Artur Fernandes Campos da Paz, Clímaco Barbosa e Manuel Lavrador, no prédio n° 21 da Rua da Relação pelo próprio Chefe de Polícia Dr. Goldsmith, em virtude da notícia que tivera de que ali se achavam, armados de revólveres, conspirando.

A 04.11.1895, reassumia o cargo de Inspetor Geral, em virtude de, por Decreto de 31 de outubro, publicado na Ordem do Dia 5 daquele mês, o Presidente da República haver revogado o Decreto, de 07.04.1892, julgado ilegal e inconstitucional pelo Acórdão do Supremo Tribunal Federal, de 19 de setembro do corrente ano.

A 3 de agosto de 1896, falecia sua esposa, Dona Anália d’Alincourt Fonseca, no Rio de Janeiro, tendo ele apresentado a certidão de óbito de 14 de setembro. Sempre no exercício de suas altas funções.

A 15.03.1897, contraia segundas núpcias com a Srª Horminda dos Santos Cruz de Figueiredo, de cujo enlace houve um filho Carlos, nascido a 02.11.1897.

Cinco dias após o nascimento desse seu caçula, vinha a falecer na Capital da República o preclaro militar e cientista, com 61 anos, 7 meses e 10 dias de idade, de quem o Brasil esperava ainda inestimáveis serviços, ditados pelo seu sadio patriotismo, sua pujante cultura, seu acendrado amor a profissão médica e militar.

Seus reais méritos o levaram a Patrono do Serviço de Saúde do Exército, sem favor aliás, por consenso unânime dos que o integravam, por ocasião do memorável prélio.

O Dr. João Severiano da Fonseca reunia, de fato, qualidades excepcionais para merecer o justo galardão com que reconhecidos sufrágios souberam perpetuar sua memória. Poeta inspirado, escritor primoroso, historiador fecundo, naturalista exímio, a Buffon somente comparável, suas obras ai estão a atestar conhecimentos precisos, a cintilância de uma pena vigorosa:

Da Moléstia em Geral” – tese de doutoramento; “Raças e Povos”; “A Gruta do Inferno da Província de Mato Grosso”; “Origem das Sociedades de Estudo”; “Viagem ao Redor do Brasil”, também escrito em Francês, “Rico manancial de ensinamentos oportunos sobre as vastas regiões da nossa Amazônia”; “Climatologia de Mato Grosso”; “o Celibato Clerical e Religioso”; “Novas Investigações sobre Mato Grosso”; e, “Dicionário Geográfico de Mato Grosso”.

O Governo da República, tendo em conta a eleição que o Serviço de Saúde do Exército fizera de seu insigne Patrono, baixou o Decreto-lei n° 2.497, de 16.08.1940, concebido nos seguintes termos:

Decreto-lei n° 2.497, de 16.08.1940 

O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, e considerando

‒  que o General Dr. João Severiano da Fonseca, durante a sua carreira de médico militar, prestou ao Exército os mais assinalados serviços, tanto na paz como na guerra, consagrando à saúde do soldado todos os seus esforços e os maiores sacrifícios;

‒  que, por esse motivo, está seu nome vinculado às tradições do Serviço de Saúde do Exército, em cuja administração deixou um traço marcante de sua passagem;

Decreta:

Artigo Único. É considerado “Patrono do Serviço de Saúde do Exército” o General médico Dr. João Severiano da Fonseca.

Rio de Janeiro, 16.08.1940, 119° da Independência e 52° da República. Getúlio Vargas ‒ Eurico Gaspar Dutra.

A seus títulos agremiativos e culturais, outros vieram juntar-se como: Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1882), do qual foi também secretário; do Instituto Farmacêutico do Rio de Janeiro; da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro; da Sociedade de Geografia de Lisboa; da Sociedade de Geografia de Madri; do Instituto Arqueológico Alagoano; do Ateneu de Lima; e do Instituto Médico Brasileiro.

A Academia Alagoana de Letras traz em uma de suas cadeiras o festejado nome desse nordestino que, nos raros vagares de sua afanosa existência, votada a construção da paz e aos reclamos dos que sofriam, sendo um bravo na guerra, enriqueceu as letras pátrias com as gemas de seu talento de escol.

Desaparecido da lista dos vivos, suas obras beneméritas permanecem perenes a afirmar o sumo valor do primeiro médico que atingiu o Generalato do Exército.

Disse Scipião que “a morte não é senão o retorno à verdadeira vida”. Esta é, sem dúvida, perpetuada através da memória, a lembrança de feitos meritórios, a crença de que o túmulo é, na realidade, “um monumento levantado nos limites de dois mundos”.

Na duplicidade de seus árduos misteres, homem de farda e de avental níveo, pleno de bondade e de renúncia, sacerdote consolador das mágoas físicas, sempre se revelou leal e tolerante, inteligente e bondoso, digno e bravo, o mesmo homem de caráter ilibado, virtude que Gustavo Le Bon considerava fundamental na grandeza de um povo.

A nobreza de seus sentimentos humanitários, a retidão de sua conduta pela vida afora, a coragem máscula demonstrada a cada passo, o vigor de suas convicções ideológicas, fizeram-no o símbolo excelso do Serviço de Saúde do Exército ‒ exemplo magnífico e resplandecente de glórias inconspurcáveis ([1]). O maior preito que, ainda, se lhe poderia prestar era aqui transcrever trecho de seu discurso ao reassumir “o cargo de que fora violentamente espoliado em 07.04.1892”:

Venho de novo ocupar o meu lugar. Já sabeis o meu modo de servir. Na balança de meus julgamentos não tem peso igual o brio e o desleixo, e tão pronto sou em reconhecer e afagar o merecimento e os bons serviços como o sou em profligar ([2]) e punir a tibieza, a desídia e o desmazelo.

Sua escolha para Patrono foi homologada pelo Decreto n° 51.429, de 13.03.1962, do Poder Executivo Federal. (PILLAR)

O interessante Relato da “Viagem ao Redor do Brasil, 1875-1878” é de domínio público:

Editor: Rio de Janeiro: Pinheiro, 1880-1881.
Data de publicação: 1880.
Ilustrada por Pinheiro e A. Pinheiro.
Link: www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242429.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 12.10.2020 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia  

PILLAR, Olyntho. Os Patronos das Forças Armadas – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Biblioteca do Exército Editora, 1981

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;   

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].

[1]    Inconspurcáveis: imaculadas.

[2]    Profligar: vencer.