Oferta de peixes em 2020 será 50% maior do que no ano passado; organização do evento adotou medidas de segurança para evitar aglomerações
Nos últimos anos, o pirarucu passou a ser ingrediente sofisticado em pratos de chefs renomados de todo o mundo e, ao lado do açaí, alcançou o status de matéria-prima culinária mais concorrida da Amazônia. Mas o que pouca gente sabe é que foram necessárias duas décadas de manejo sustentável da espécie, na região do Médio Solimões, Amazonas, para que ela pudesse chegar aos pratos de restaurantes estrelados e conquistar os paladares mais exigentes. O maior peixe de escamas de água doce do mundo também atrai por sua imponência, pode chegar a pesar duzentos quilos e atingir três metros de comprimento.
A Feira de Pirarucu Manejado, que acontece nos dias 17 e 18 de outubro, sábado e domingo, no Mirante das Mangueiras, em Tefé, celebra o final de um ciclo de dez meses de trabalho dos pescadores que atuam vigiando e protegendo os lagos contra invasores, fazendo a contagem de peixes para determinar o volume de retirada anual, pescando e fazendo o beneficiamento da carne. O resultado é que, neste ano, a pesca sustentável resultou em um aumento de 50% na oferta de pirarucus para comercialização em relação ao ano passado.
“Você trabalha durante todo o ano pra ter apenas aquele momento, depois de dez meses de muita luta, para que na feira, você possa oferecer um peixe de melhor qualidade. A feira, que representa o final da pesca, é uma festa para cada pescador envolvido nesse acordo”, diz Raimundo de Oliveira Queiroz, presidente da Colônia de Pescadores de Alvarães.
O acordo de pesca ao qual Raimundo se refere consiste no estabelecimento de normas criadas pelas próprias colônias de pescadores, com apoio do Instituto Mamirauá e reconhecidas pelos órgãos ambientais e de licenciamento, para o controle da pesca em determinada região. Os pescadores, que usufruem dos recursos pesqueiros, definem as normas que farão parte do acordo, regulando a pesca de acordo com os interesses do grupo e com a conservação dos estoques pesqueiros. O pirarucu da feira é resultado da atividade de pescadores membros do Acordo de Pesca do Setor Pantaleão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã.
Devido à pandemia de coronavírus, novos procedimentos de segurança foram adotados para a realização da feira neste ano, como o uso obrigatório de máscaras, a disponibilização de álcool em gel, o controle do acesso à área das barracas, limitado à 20 pessoas por vez, e a distribuição de senhas para evitar a aglomeração de consumidores.
As vendas devem iniciar nos dois dias às 6h30 os preços estabelecidos variam de R$2 a R$13 o quilo, de acordo com a parte do pescado. Peixes inteiros estarão disponíveis para venda apenas no barco que fará o transporte do pescado.
Para quem não puder ou não quiser sair de casa, haverá também entrega em domicílio, desde que a pessoa já tenha se cadastrado em edições anteriores da feira ou que tenha disponibilizado seu telefone.
Combate à clandestinidade e conservação da espécie
“A feira possibilita que a população tenha acesso ao produto legal, e aproxima quem produz de quem consome, é a melhor estratégia de combate ao comércio clandestino da espécie”, afirma a coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá, Ana Cláudia Torres.
A espécie chegou a sofrer risco de extinção na região na década de 1980, após sobre-exploração.
Implementado há 20 anos na região, o Plano de Manejo do Pirarucu permitiu que centenas de comunidades ribeirinhas aliassem a pesca realizada tradicionalmente pelas populações à conservação da espécie, que se encontrava ameaçada principalmente pela invasão de barcos pesqueiros ilegais na região.
O manejo sustentável estabelece critérios como cota, tamanho mínimo e período de defeso para a pesca do peixe, respeitando o ciclo reprodutivo da espécie e mantendo-a fora de perigo.
PUBLICADO EM: INSTITUTO MAMIRAUÁ
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