Após três anos de estudos e de diálogo com produtores rurais, o projeto Conserv sai do papel e é lançado oficialmente pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com o EDF (Environmental Defense Fund) e com o Woodwell Climate Research Center. Contando com o apoio dos governos da Noruega e dos Países Baixos, a iniciativa transforma a conservação de florestas privadas da Amazônia Legal em renda extra ao produtor.

O Conserv é um mecanismo privado, de adesão voluntária, que compensa médios e grandes produtores dos biomas amazônico e do Cerrado por manterem em pé uma área de vegetação nativa dentro de sua propriedade que poderia ser suprimida legalmente.

Para apresentar o funcionamento desse novo modelo de negócio, um webinário foi realizado na quarta-feira (7/10) e transmitido pelo canal do IPAM no YouTube. Ao vivo, autoridades, parceiros e especialistas do agronegócio discutiram sobre o papel e os impactos do Conserv em um contexto regional, nacional e internacional.

Dinâmica

Inaugurando o evento, o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho, afirmou que o mecanismo é inovador por reconhecer, de maneira direta, os esforços do produtor em avançar com uma produção mais sustentável na Amazônia, ao mesmo tempo em que promove a conservação ambiental.

Para o diretor executivo do instituto, André Guimarães, também presente no lançamento, “o paradigma de que é preciso expandir a fronteira para crescer está comprovadamente equivocado e não é mais atual. É preciso olhar para um novo modelo: o da intensificação e o da conservação em terras privadas, que é o que o Conserv se propõe a fazer. ”

Em uma breve apresentação, logo no início do webinário, o coordenador do projeto, o pesquisador do IPAM, Marcelo Stabile, explicou porque a preservação das áreas consideradas pelo Conserv é importante não só para auxiliar na mitigação das mudanças climáticas, como também para a continuação da produção agropecuária. “A nossa produção agropecuária depende muito da regularidade de chuvas e temperatura. Para que possamos continuar produzindo mais e melhor, precisamos manter estas florestas em pé, e reconhecer o produtor engajado na produção sustentável.”

Ainda na abertura do evento, foi exibido um vídeo de um dos produtores rurais que já faz parte do mecanismo, Redi Biezus, contratado em agosto deste ano. “Espero que este projeto piloto [Conserv] sirva de estímulo para que muitas iniciativas dessa natureza se multipliquem em nosso país. O desafio é grande, mas possível”, afirmou em seu relato.

Início dos debates

Com o tema “Produtor em foco” e moderação de Stabile, a primeira mesa contou com a participação do presidente do GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável) e do Imac (Instituto Mato-grossense da Carne), Caio Penido, e do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes.

Durante a conversa, Penido destacou que os produtores brasileiros têm vontade de crescerem sem desmatar, mas que é preciso monetizar a preservação, uma vez que a regulação do clima diz respeito ao mundo inteiro.

Para Penido, o Conserv está na vanguarda. “[O mecanismo] certamente servirá de inspiração para outras iniciativas que virão na sequência. O setor produtivo e o setor ambientalista juntos numa estratégia de conservação justa que reconheça as características brasileiras.”

Em seguida, o governador de MT disse ver com bons olhos o projeto. “Ele começa a dar efetividade a esses longos anos de espera, onde muito tem se falado sobre pagamento por serviços ambientais, e pouco ou quase nada aconteceu ao redor do planeta.”

Ao final da primeira mesa, um novo vídeo foi exibido, agora com o produtor Pedro Malacarne Filho, também integrante da iniciativa. “Com o Conserv, além de termos a consciência tranquila de que estamos fazendo a nossa parte, receberemos um incentivo para continuarmos o nosso bom trabalho, efetivando assim o princípio do protetor/recebedor.”

Conserv no Brasil e no mundo

A segunda mesa, com facilitação de Moutinho, trouxe o projeto em um panorama nacional. Os convidados dessa rodada foram o diretor de Sustentabilidade da Bayer Crop Science, Eduardo Brito Bastos, e o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP).

Segundo Bastos, é possível aumentar a produtividade agrícola sem precisar derrubar a floresta. “Podemos seguir produzindo alimentos para os brasileiros e para o mundo (…), gerando riquezas, acessando cada vez mais mercados exigentes, e tudo isso dá para fazer junto, mantendo o Brasil como potência ambiental. (…) Todo mundo ganha se aprendermos a conciliar as duas frentes.”

O deputado Arnaldo Jardim acredita que é necessário demonstrar, cada vez mais, que vale a pena manter a floresta em pé. “A sustentabilidade ambiental precisa se articular com a sustentabilidade financeira. Além disso, hoje temos uma demanda do consumidor (…) pelo compromisso ambiental e pela qualidade dos alimentos.”

Antes da terceira e última mesa iniciar, o diretor executivo do Woodwell Climate Research Center, Philip Duffy, por meio de vídeo, reforçou a importância ambiental do Conserv. “Como cientista do clima, posso dizer que o programa é uma excelente forma de desacelerar o progresso das mudanças climáticas, preservando florestas em pé”, disse.

Em seguida, a mesa “Conserv em um contexto internacional”, moderada por Guimarães, teve a participação do diretor sênior do EDF, Steve Schwartzman, do embaixador dos Países Baixos, Kees Van Rij, e do embaixador da Noruega, Nils Martin Gunneng.

Em uma de suas falas, Schwartzman endossou a visão de Duffy ao afirmar que o mecanismo é um instrumento essencial para se chegar à solução no que diz respeito às mudanças climáticas. “A falta de incentivos é um fato fundamental. Aí entra a importância do Conserv, sendo um dos pouquíssimos exemplos concretos a criar estímulos para premiar quem está fazendo a coisa certa no setor agrícola”, defendeu.

O embaixador Kees Van Rij complementou: “As florestas tropicais são onde as questões de clima, natureza e biodiversidade ganham vida – protegê-las é essencial para um futuro sustentável e regulação do clima.”

Ao final, Guimarães reforçou o potencial da iniciativa e convidou a comunidade financeira e o setor privado a fazerem parte dessa construção: “Esperamos que o setor financeiro olhe, entenda e amplifique essa oportunidade que é o Conserv, para que, juntos, possamos transformá-lo em um negócio ambiental, no qual preservar florestas passa a ser simplesmente um bom negócio, assim como produzir agricultura.”

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