Momentos Transcendentais no Rio Madeira
Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte II
CMPA – Homenagem Especial – I
A descida nesta 4ª Fase do Projeto Aventura Desafiando o Rio-Mar, pelos Rios Madeira e Amazonas, homenageia o querido Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), Colégio dos Presidentes, o nosso Velho e querido Casarão da Várzea que comemora, em 2012, o seu Centenário. Um Colégio que faz parte de um Sistema de Ensino que serve de modelo em um país onde a educação não recebe a devida consideração por parte do poder público.
Este preito ao CMPA é também um tributo ao meu pai Cassiano Reis e Silva, meus dois irmãos Luiz Carlos Reis e Silva e Carlos Henrique Reis e Silva e meus três filhos Vanessa Mota Reis e Silva, Danielle Mota Reis e Silva e João Paulo Reis e Silva que tiveram a grata honra e o privilégio de transitar, como alunos, as centenárias e tradicionais arcadas do Velho Casarão da Várzea, modelar estabelecimento de ensino do nosso querido Brasil.
Solicitei ao meu grande amigo e Ir:. Coronel Leonardo Roberto Carvalho de Araújo que nos brindasse com uma síntese histórica do melhor educandário do Rio Grande do Sul e um dos mais destacados de todo o Brasil.
O Mano Araújo, além de ser o mais credenciado Historiador do CMPA, desempenha as funções de Coordenador do Museu Casarão da Várzea, Chefe do Projeto de Potencialização e Enriquecimento (PROPEN) e Oficial de Comunicação Social.
CMPA – Síntese Histórica
O Colégio Militar de Porto Alegre [CMPA] foi criado pelo Decreto n° 9.397, de 28.02.1912, sendo Presidente da República o Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, e Ministro da Guerra o General-de-Divisão Adolfo da Fontoura Menna Barreto. Seu aniversário é comemorado em 22 de março, data em que aconteceu a primeira aula.
O portentoso prédio em que funciona faz parte do patrimônio histórico da Cidade de Porto Alegre desde sua fundação em 1872. A bela arquitetura que o caracteriza, onde predomina o estilo neoclássico, mudou a “fisionomia” da várzea onde foi construído, criando um espaço onde questões ligadas ao ensino e à vida da Cidade, do Estado e do Brasil foram intensamente vividas por aqueles que circulavam pelas arcadas do “Velho Casarão da Várzea”.
Constituído, inicialmente, de um quadrilátero térreo e cinco “castelos” de dois pisos, o prédio foi aumentado de um piso em três fases distintas: 1914-1915, 1936-1937 e 1969-1970. As estátuas de Marte/Ares [deus da guerra] e Minerva/Atena [deusa guerreira da sabedoria], existentes no seu frontispício, são as maiores estátuas de adorno de Porto Alegre e foram colocadas quando da primeira ampliação em 1914-1915.
O torreão existente sobre o Salão Nobre do CMPA é chamado de torre-lanterna, ou simplesmente de lanterna, tendo sido colocado para simbolizar “a lanterna do saber com que os antigos Mestres conduziam seus discípulos pelas trevas da ignorância”. A iluminação colocada em fins de 2006, ressaltando a lanterna, os deuses e a Bandeira Nacional, tornou-se um espetáculo noturno na Cidade.
Várias instituições de ensino funcionaram no edifício da atual Avenida José Bonifácio: a Escola Militar da Província do RS [1883-1888], a Escola Militar do Rio Grande do Sul [1889-1898], a Escola Preparatória e de Táctica [1898 e 1903-1905], a Escola de Guerra [1906-1911], o Colégio Militar de Porto Alegre [1912-1938], a Escola Preparatória de Porto Alegre [1939-1961] e, novamente, o Colégio Militar de Porto Alegre, desde 1962.
É necessário esclarecer que as origens da Escola Militar remontam ao ano de 1851, quando foi criado o Curso de Infantaria e Cavalaria da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Esta escola passou por várias denominações e sedes provisórias, até se fixar no local então conhecido como Várzea, Campos da Várzea, Várzea do Portão ou Potreiro da Várzea.
Durante essas várias fases, a contribuição de alunos e professores à comunidade Rio-grandense foi intensa. Dos primórdios da antiga Escola Militar até o ano de 1911, pode-se destacar a atuação de várias personagens dessa instituição nas mais diferentes áreas.
Nas décadas de 70 e 80 do Século XIX, alunos, professores e instrutores da Escola Militar, direta ou indiretamente tiveram participação ativa em questões ligadas à Abolição da Escravatura e à Proclamação da República.
Entre estes, mencionam-se os então Marechal José Antônio Corrêa da Câmara [redator da Lei Áurea], Coronel Fernando Setembrino de Carvalho, Coronel José Simeão de Oliveira, Coronel Dionísio Evangelista de Castro Cerqueira, Tenente-Coronel Joaquim de Salles Torres Homem, Major Ernesto Augusto da Cunha Mattos, Major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro e Capitão Adolfo da Fontoura Menna Barreto.
Professores da Escola Militar como Antônio Augusto de Arruda, Henrique Martins e Lannes de Lima Costa foram precursores na publicação de livros didáticos de suas disciplinas, na década de oitenta do século XIX.
Também na área da educação, é impossível deixar de mencionar a relevante atuação do Capitão João José Pereira Parobé, Professor da Escola Militar do RS. Além de ter sido Deputado Estadual e Secretário de Obras do RS, esteve diretamente ligado à fundação da Escola de Engenharia em 1896, precursora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS], onde foi diretor por dezessete anos. O Capitão Parobé também foi o fundador do Colégio Júlio de Castilhos, da escola técnica que hoje leva seu nome e de vários dos institutos da atual UFRGS. Por sua enorme colaboração para a educação do Rio Grande do Sul, o Capitão Parobé constitui-se no maior expoente gaúcho nessa área.
Da Escola Militar do RS também saíram, em 1896, os cinco Tenentes Professores que fundaram a Escola de Engenharia. De maneira semelhante, o primeiro Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul [PUC-RS] [anteriormente também Reitor da UFRGS], Armando Pereira da Câmara, foi aluno do CMPA.
Ainda no campo da Educação, é lícito ressaltar que a Escola Militar foi o primeiro curso de ensino superior do Estado e que contribui de forma decisiva, através de seus fundadores e primeiros professores, para a criação e a evolução da UFRGS.
Nos campos do tradicionalismo e da etnografia, é notória a participação do Major João Cezimbra Jacques, Instrutor da Escola Militar, idealizador e fundador do Grêmio Gaúcho em 1898, primeira entidade destinada ao estudo e ao culto das tradições Rio-grandenses, motivo pelo qual foi consagrado como Patrono do Tradicionalismo Gaúcho. Cezimbra Jacques, autor de dezesseis livros que variaram entre a etnografia, antropologia, política e linguística, produziu, ainda em 1883, a obra “Ensaio sobre os Costumes do Rio Grande do Sul”, estudo pioneiro sobre o assunto e base fundamental para aqueles que se dedicam a hoje estudar e pesquisar a etnografia gaúcha.
É com orgulho, pois, que o Casarão da Várzea reivindica ser o berço do Movimento Tradicionalista Gaúcho [MTG].
Para continuar o culto às tradições gaúchas e honrar a memória do Major João Cezimbra Jacques, em 1985, sob a inspiração do então Capitão e tradicionalista Ivo Benfatto, foi fundado o CTG Potreiro da Várzea.
Também deve ser lembrado o 1° Tenente Otávio Francisco da Rocha, outro aluno e Professor da Escola Militar que se destacou na administração pública como Intendente de Porto Alegre, sendo dele os primeiros trabalhos de urbanização do Parque Farroupilha.
Pelas centenárias arcadas do Velho Casarão da Várzea transitaram, como alunos, oficiais ou praças, oito Presidentes da República [João de Deus Menna Barreto, Getúlio Dornelles Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Humberto de Alencar Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista de Oliveira Figueiredo], o que o fez ser alcunhado como “Colégio dos Presidentes”, além de um Primeiro-Ministro [Francisco de Paula Brochado da Rocha], dois Vice-Presidentes [Adalberto Pereira dos Santos e Antônio Hamilton Martins Mourão].
Vários heróis militares brasileiros [Mal Câmara, Gen Setembrino de Carvalho, Brig Nero Moura, Mal José Pessoa, Mal Bittencourt, Cel Plácido de Castro, Mal Mascarenhas de Morais, Gen Góes Monteiro, Mal João N. M. Mallet, Gen Paula Cidade, Brig Gomes Jardim, Mal Valentim Benício, Mal. Mário Travassos e outros], vários Ministros, Governadores e ocupantes de outros altos cargos políticos, um elevado número de Oficiais-generais e outros militares de destaque, eminências da vida civil em todos os campos do conhecimento, como o poeta Mário Quintana, o artista plástico Vasco Prado, o escritor e advogado Darcy Pereira de Azambuja, os ex-Reitores da UFRGS Armando Pereira da Câmara e José Carlos Ferraz Hennemann, o Presidente da Intel/Brasil Oscar Vaz Clarke, entre outras destacadas personalidades do cenário nacional e internacional.
Foi igualmente importante a contribuição da Escola Militar na vida cultural da Cidade, por intermédio da circulação de revistas e pequenos jornais de estudantes, como “A Luz”, “Ocidente”, “A Cruzada” e, a mais importante delas, a “Hyloea” [ou Hileia].
É relevante ressaltar que a primeira publicação das poesias de Mário Quintana e das gravuras de Vasco Prado foi feita nas páginas da Revista Hyloea, em 1922 e 1933, respectivamente. A Hyloea – Revista Literária fundada em 1922 pelos alunos integrantes da então Sociedade Cívica e Literária – é até hoje publicada pelo CMPA.
Além de estar vinculado umbilicalmente à fundação da UFRGS e do culto às tradições gaúchas, o Casarão da Várzea tem seu nome ligado também ao nascimento do futebol e do ensino esportivo no Rio Grande do Sul. Em 1910, quando da criação da Liga de Futebol de Porto Alegre, o primeiro campeão da Cidade foi o “Militar Foot Ball Club”, time dos alunos da Escola de Guerra, então sediada no Casarão da Várzea. Foi contra este mesmo time que o Sport Club Internacional obteve sua primeira vitória em 1909. Extinto em 1913, os jogadores do Militar foram ajudar a fundar o Esporte Clube Cruzeiro. Este clube foi campeão da Cidade em 1918, 1921 e 1929 [quando obteve também seu único título gaúcho, jogando com um time misto, composto por alunos da UFRGS e do CMPA].
O Estádio Ramiro Souto, hoje situado no lado Norte do Parque Farroupilha, foi construído em 1936 pelo CMPA, aproveitando instalações da Exposição Farroupilha de 1935.
Esse estádio, com capacidade para cinco mil pessoas sentadas, era considerado o maior do RS e se situava onde está hoje o Monumento à Força Expedicionária Brasileira, dispondo inclusive de piscina para natação [atual Lago retangular]. Ainda no campo esportivo, já na década de 40, o Capitão Olavo Amaro da Silveira, instrutor da Escola Preparatória de Cadetes, junto com outros oficiais e civis, fundava a entidade que é hoje a Escola de Educação Física da UFRGS, tornando-se seu primeiro Diretor.
Outro fato que o distingue pelo pioneirismo educacional no Estado é o de, entre 1915 – ano em que a primeira turma de alunos se formou – e 1938 – quando foi transformado em Escola Preparatória de Cadetes – seus formandos receberem também o diploma de “Agrimensor”, já saindo com uma profissão definida. Assim, o CMPA antecipou-se em mais de meio século à introdução do ensino profissionalizante na educação básica do Estado.
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 31.08.2020 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
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