Momentos Transcendentais no Rio Amazonas I
Manaus, AM/ Santarém, PA ‒ Parte V

Partida para Oriximiná (14.01.2011)

Fui dormir cedo na véspera da partida, pois havia marcado minha partida para as 04h30 (horário do Pará). O enorme Estado do Pará possui apenas um fuso horário e, como o Município de Juruti se encontra no extremo Oeste dele, isto significava que eu pretendia navegar, aproximadamente durante duas horas, à noite em uma área totalmente desconhecida. Instalei minha lanterna de cabeça e parti na hora estabelecida. O porto de Juruti é muito concorrido, isso exigia medidas adicionais de segurança. Segui a corrente pelo Furo de Juruti, procurando ficar próximo da Ilha de mesmo nome, a fim de evitar a rota tradicional das demais embarcações. Como sempre, os banzeiros estavam presentes, sem dar trégua. Depois de contornar a Ilha, eu tinha de seguir rumo Norte atravessando o Canal onde trafegam os grandes navios.

Chamei pelo rádio o Sgt Barroso e pedi que ele me ultrapassasse, para que eu seguisse na sua esteira. Pretendia aproveitar a luz do holofote de popa para avistar as marolas marotas que surgiam de todos os lados. O Piquiatuba parou de repente para aguardar um grande navio que passava rumo a Manaus. Passados alguns minutos, continuamos nossa jornada e pedi que avisassem ao piloto que mantivesse a velocidade de quatro nós (7,2 km/h).

Só mais tarde soube que não dispunham de nenhum medidor de velocidade a bordo e, apesar de a Rosângela informar, insistentemente, ao piloto de que eles estavam se distanciando demais de mim, nada foi feito até a primeira parada. Embora tenha mantido um ritmo bastante forte, de 5 a 6 nós, eu não estava conseguindo seguir na esteira da embarcação de apoio e, em consequência, não podia aproveitar as luzes do holofote traseiro. O banzeiro diminuiu e, finalmente, consegui manter a estabilidade do caiaque e me comunicar com o piloto, determinando que ele parasse para me abastecer de água e tratar da forte dor muscular no trapézio.

Estava começando a clarear no horizonte e determinei que, a partir daquele ponto, o Piquiatuba é que deveria me seguir. Agora já se podia avistar, com alguma dificuldade, a silhueta da Ilha de Santa Rita, que eu contornaria antes de penetrar no Paraná de Cachoeiri, ao Norte dela. Entrei no Cachoeiri, às 07h30, e verifiquei que o Paraná possuía uma correnteza forte, graças à sua grande profundidade, em torno dos 40 metros.

Às 10h45 avistei o Rio Trombetas, rumei para a margem esquerda do Paraná para facilitar sua abordagem. Colado à margem, diminuí o ritmo das remadas, economizando energia para atravessar o belo afluente do Amazonas. Felizmente o Rio Trombetas ainda estava muito baixo e não tive qualquer dificuldade em abordar a margem esquerda.

Chegamos ao Porto de destino, às 11h15 e, depois de um banho, ligamos para o irmão (maçom) Capitão Marcelo, Comandante da Polícia Militar em Oriximiná.

Mais uma vez os camaradas da PM demonstraram sua disposição em nos ajudar, e conseguimos, graças aos seus contatos, ficar hospedados gratuitamente no excelente Oriximiná Hotel, administrado pela encantadora senhora Kátia Maria Feijão Ribeiro.

Visita ao Legendário Cuminá

 Os Argonautas

(Apolônio de Rodes)  

Mas quando Jasão, o Esonida, navegava em busca do velocino de ouro, e os melhores o seguiam, escolhidos de todas as cidades, chegou também à rica Iolcos o homem infatigável, filho da heroína Alcmena de Midéia, e, com ele, Hilas descia até Argo, provida de belos bancos, a nau que não tocou as Cianéias, que se chocam, mas atravessou como uma águia o grande golfo, [por causa disso, os recifes se fixaram], e lançou-se no profundo Phasis. (RODES)

Partimos, no dia 16.01.2011, para o Cuminá, onde a lembrança das Três Viagens do Padre Nicolino, as Expedições de Gonçalves Tocantins, Valente do Couto, Madame Coudreau e a Incursão de Rondon e Cruls, retumbavam na minha alma de desbravador.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 13.08.2020 um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].