A pesquisa aponta que, com as projeções de aumento das temperaturas do ar e de redução das precipitações, os riscos de empobrecimento severo e mesmo de mortalidade das florestas tropicais, como a Amazônia Brasileira, tornam-se mais altos.

Agência Museu Goeldi – No nordeste do Pará, um experimento artificial de duas décadas tem mostrado os profundos impactos do aumento da temperatura e da falta de chuvas sobre a floresta tropical. As primeiras conclusões, apresentadas pelo ecólogo Leandro Valle Ferreira, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), apontam que, diante das mudanças climáticas globais e da redução de chuvas simuladas com a pesquisa, os riscos de empobrecimento severo e mesmo de mortalidade das florestas tropicais, como a Amazônia Brasileira, tornam-se muito altos.

“A Amazônia se tornará mais seca e pobre em espécies, confirmando as previsões pessimistas dos cientistas”, afirma Ferreira, que coordena o projeto intitulado “Seca Floresta” (Esecaflor). O MPEG, instituição da qual ele faz parte, é também o responsável pela Estação Científica Ferreira Pena, localizada dentro da Floresta Nacional de Caxiuanã, onde o experimento vem sendo realizado há 20 anos.

Ele explica que, ao ser submetida a um clima mais quente e seco, a comunidade de plantas envolvida no experimento ficou mais pobre em espécies, perdendo biomassa e as suas funções biológicas. A floresta se transformou em outro tipo de vegetação, dominada por cipós, a única forma de vida beneficiada com a redução da umidade do solo.

Diante das ameaças de fenômenos climáticos como o conhecido El-Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico e uma redução drástica na precipitação na Amazônia, o estudo busca respostas de longo prazo sobre o que acontece com a floresta amazônica quando a quantidade de chuvas começa a reduzir continuamente.

Ferreira ressalta ainda como os impactos na floresta amazônica podem se estender a outros biomas. “Reduzindo a quantidade de chuvas na região amazônica, outros biomas ficarão mais secos também. Eles são interligados e têm uma dinâmica climatológica entre eles. Portanto, qualquer alteração vai consequentemente prejudicar os outros biomas, como o próprio Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica”, explica.

Experimento – O Esecaflor envolve duas parcelas de um hectare de floresta (o equivalente a um campo de futebol) cada, com uma delas sujeita ao estresse hídrico a partir da instalação de 6 mil painéis de plásticos transparentes.

Instalados a uma altura média entre 1,5 e 3,5 metros acima do solo, esses painéis dificultam a penetração da água da chuva no solo da floresta de terra firme, ajudando a simular as altas temperaturas e outras condições semelhantes às projetadas por estudos climáticos e ambientais para a região amazônica.

Entre os principais problemas encontrados pelos pesquisadores na área coberta, ficou evidente a significativa redução em relação às formas de vida vegetais, com a diminuição do número de espécies e de indivíduos, incluindo entre eles árvores, arbustos, epífitas e palmeiras.

Quando comparada a outra área, controlada sob condições menos inóspitas, a mortalidade de árvores na parcela experimental foi duas vezes maior, resultando em uma perda de mais de 30% biomassa original da floresta.

“Há também uma nítida modificação da composição de espécies, sendo a parcela experimental representada por indivíduos mais tolerantes à redução da umidade do solo. A única forma de vida beneficiada com a redução da umidade do solo na parcela experimental foram os cipós, que aumentaram em número de espécies, indivíduos e biomassa”, relata Leandro.

Segundo ele, o provável é que, diante da mortalidade da maior parte das espécies, a floresta se transforme em outro tipo de vegetação.

Tensão – Os resultados da pesquisa são divulgados em um momento em que especialistas de todo o planeta alertam contra o negacionismo científico por muitas lideranças nacionais e a iminência de uma catástrofe ambiental caso o aumento da temperatura média global se dê acima dos 2º Celsius nos próximos anos.

Com as crescentes discussões sobre a quantidade de dióxido de carbono armazenada e emitida pelas florestas tropicais, desde as últimas duas décadas, a importância de pesquisas e experimentos como o Esecaflor aumenta.

“Antecipar o futuro de seca e calor é fundamental para avaliar a resistência da floresta neste novo cenário climático e, consequentemente, planejar melhor a conservação dos biomas e o uso responsável das riquezas existentes”, argumenta Leandro.

“O nosso país deveria ser um exemplo de políticas públicas voltadas para isso”, completa.

Texto: Giullia Moreira – Edição: Brenda Taketa – PUBLICADO POR:   MUSEU GOELDI