Momentos Transcendentais no Rio Solimões

Parte II

RDS Mamirauá

Não há nenhuma outra floresta tropical no planeta onde o desnível entre as cheias e a seca seja de 11 metros, onde a água se espalha a cada ano por milhões de hectares. Os animais e plantas que aí vivem foram selecionados desde o final do Terciário para suportar estas variações. (José Márcio Ayres)

Em março de 1983, um biólogo paraense chamado José Márcio Ayres parte de Tefé no navio Gaivota, financiado por seu pai, para pesquisar os uacaris. Depois de diversas tentativas frustradas, Ayres aportou o Gaivota na Boca do Mamirauá. Após anos estudando os curiosos primatas, seu estudo foi publicado em 1986 e, em 1990, mais de um milhão de hectares da várzea, incluindo a área onde havia desenvolvido seu estudo, foram declarados pelo governo estadual como Estação Ecológica Mamirauá.

Em 1992, foi criada a sociedade civil Mamirauá, com o intuito de coordenar pesquisas e trabalhos de extensão na reserva e, em 1996, a ONG publicou seu plano de manejo, visando ao uso sustentável dos recursos naturais e o policiamento dos recantos mais longínquos da reserva. Ato contínuo, o governo estadual consagra estes princípios, criando a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá.

Em decorrência das inundações periódicas, o Rio Solimões, rico em nutrientes, proporciona o habitat ideal para a reprodução e berçário para mais das 300 espécies de peixes da reserva.

Por outro lado, o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos na Amazônia e a consequente procura por proteína barata, tornam a opção pela pesca nos Lagos e Rios uma ameaça, tanto ao ecossistema de Mamirauá como de todos os outros.  

O governo brasileiro, através do Conselho Nacio­nal para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, e de doadores internacionais, financia projetos como o de estudo ecológico do pirarucu, a rádio-telemetria dos botos e do jacaré-açu, dentre outros, tornando o Mamirauá um centro de excelência para estudos relativos à floresta alagada.  

Junto à população ribeirinha são desenvolvidos projetos de saúde, educação ambiental e técnicas agrí­colas, com a experimentação de novas técnicas produtivas de árvores frutíferas, planos de manejo madeireiro sustentável e artesanato tradicional, envol­vendo cerâmica e cestaria, além da operação de uma rádio comunitária.

A corrupção verificada em toda a nação, nos órgãos encarregados de fiscalizar os atos lesivos ao patrimônio genético e ambiental do país, mostra ser Mamirauá um modelo que deu certo e que está em constante reformulação e aperfeiçoamento.

Meus reiterados agradecimentos ao amigo Josivaldo Ferreira Modesto e a todos do Instituto pela cordialidade e carinho com que nos receberam.

Reflexões em Mamirauá

A chuva torrencial me embala e me leva à reflexão. Contemplar as imensas “Ilhas” de aguapés e capim-memeca descendo o “cano” do Mamiruá provoca uma profunda nostalgia. A saudade dos entes queridos que me apoiam incondicionalmente nessa expedição de brasilidade, de autoconhecimento, de cultura e de hospitalidade amazônica toma conta de minha mente e me leva a rememorar a participação de cada um deles nesse projeto de tantos nomes e que, mais que qualquer outro, deve ser conhecido como “Projeto de Amizade”.

O precário suporte de que eu dispunha no começo desta empreitada pelo Solimões foi compensado, inicialmente, pelo incentivo de parentes e de amigos e, mais tarde, pelo de colaboradores voluntários que, como eu, comungam dos mesmos e patrióticos ideais. Alguns contribuíram financeiramente, outros com equipamentos ou utensílios para viagem, e outros ainda, como a equipe de apoio, publicando as imagens, textos e entrevistas, para que os interessados em acompanhar o deslocamento pudessem fazê-lo na forma de um diário de bordo.

Fui cativando e sendo cativado por amigos ao longo da jornada. Amigos que me acolheram no aconchego de seus lares ou de suas Comunidades e me incentivaram. A cada um deles, sejam Militares do Exército Brasileiro, Policiais Militares, Prefeitos e Secretários Municipais, Caciques, Líderes Comunitários, Presidentes ou Administradores rurais, Empresários, Professores, Jornalistas ou simplesmente Povos da Floresta, o nosso agradecimento.

Os dias correm céleres e a saudade da amazônica hospitalidade já começa a me afetar. Guardarei eternamente na lembrança a imagem e o carinho de cada um que, de alguma maneira, marcou minha vida nessa expedição pelo Rio-Máximo.

Conclusão

A RDS Mamirauá é um modelo de Reserva, tendo em vista o envolvimento democrático da população ribeirinha na absorção e aplicação de novas técnicas ambientais, no controle e fiscalização dos recursos naturais da reserva e a modelar ação norteadora do Instituto como organização científica de excelência, apresentando novas alternativas sustentáveis.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 29.07.2020um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;      

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].