Os dados mais recentes de desmatamento na Amazônia têm cheiro de fogo, fumaça e passado. O Deter, sistema do INPE para detecção em tempo real, marcou 1.654 quilômetros quadrados em julho.
Há uma queda em relação a julho do ano passado, de 26%, mas não é caso de comemoração. Chegar ao meio do ano com tantas áreas abertas significa que a taxa oficial de desmatamento deste ano será maior do que a do ano passado, que bateu os dois dígitos, chegando a quase 11 mil km2, ou duas vezes o Distrito Federal. Podemos atingir um número não visto pelo Brasil há mais de uma década.
A área agregada de 2020, até julho, é semelhante a do ano passado. Todas essas árvores derrubadas, somadas ao que caiu em 2019 e não queimou, já comprometem as tentativas de controle do fogo na Amazônia nesta estação seca.
“Essa temporada na Amazônia não será recuperada. Quem derruba floresta quer recuperar seu investimento, e isso passa pela queima da vegetação desmatada para limpar o terreno, o que vai acontecer mais cedo ou mais tarde, com ou sem moratória de fogo. Coibir as queimadas começa com controlar o desmatamento”, afirma a diretora do Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar.
Não há necessidade de se desmatar mais, como cientistas, economistas e alguns políticos mostram, defendem e afirmam reiteradas vezes. Além disso, as metas climáticas assumidas pelo Brasil, internamente e em foros internacionais, estão cada vez mais distantes.
“O Brasil pode atingir todas suas metas de produção agropecuária nas áreas já abertas, inclusive na Amazônia, e bater as metas climáticas. Não precisamos desmatar mais, e 1,6 mil km2 derrubados num único mês é injustificado”, diz o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães. “Se o histórico dos últimos anos nos ensina algo é que a taxa deste mês é motivo de um otimismo extremamente cauteloso. Recuperar a confiança no país passa por mais do que um único mês de queda no desmatamento. É preciso mostrar que o Brasil não compactua com a destruição da Amazônia, não cede à ilegalidade que come a floresta pelas beiradas, e que investe pesadamente em uma economia de baixo carbono.”
PUBLICADO EM: IPAM AMAZÔNIA Notícias
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