Brasília (DF), 06/07/2020 – Em meio à pandemia causada pelo coronavírus, os Ministérios da Defesa e da Saúde, em ação conjunta, intensificaram a assistência à saúde prestada a indígenas de Roraima.
A ação interministerial teve início em 29 de junho, quando uma aeronave decolou de Brasília levando médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem das Forças Armadas, além de itens de proteção individual e insumos médicos, para beneficiar as etnias Yanomami, Macuxi e Ye’Kuana, que vivem nas reservas Yanomami e Raposa Serra do Sol. Durante os seis dias de missão, ocorreram 3.858 atendimentos com clínicos gerais e especialistas como ginecologistas, infectologistas, pediatras entre outros.
A psicóloga indígena Gardeny de Paula, que acompanhou os atendimentos médicos, conta que os militares são bem-vindos nas aldeias. “Os indígenas reconhecem os inúmeros desafios que eles enfrentaram para chegar até as comunidades, para realizar os atendimentos. A maioria já está perguntando quando eles vão voltar”, comentou a profissional.
Exemplo disso está na declaração de dona Alda Pedro da Silva, 77 anos, que descobriu ser diabética há cerca de 90 dias, e vinha controlando a doença com remédios caseiros. Orientada pelo agente de saúde indígena, consultou-se com um médico especialista durante a missão. “Fui tão bem atendida, que agora quero que eles venham mais vezes ao ano. Nós, indígenas, moramos muito longe da cidade, e é bom quando eles também cuidam da gente”, disse Alda.
Um dos profissionais de saúde, o ginecologista Capitão do Exército José Antônio Di Pierro, atendeu mulheres em todas as comunidades onde a equipe esteve. Ele comentou que, apesar de ter consultado indígenas com até 12 filhos, “também consultei adolescentes que me perguntaram sobre o uso de métodos contraceptivos. Fico feliz em saber que a informação está chegando até em áreas praticamente isoladas do país”, relatou.
Em 30 de junho, primeiro dia de atendimento, a equipe de 21 profissionais de saúde, acompanhada de profissionais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde, da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, dividiu-se em dois grupos para melhor atender aos pacientes indígenas no 5º Pelotão Especial de Fronteira, em Auaris e na comunidade Waikás.
O segundo dia de assistência médica ocorreu nas instalações do 4º Pelotão Especial de Fronteira de Surucucu, a 400 km da capital roraimense, e contou com a presença do Ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Na área do Polo Base Surucucu vivem cerca de 2,5 mil indígenas da etnia Yanomami.
Outros dois dias foram dedicados aos indígenas Macuxi, que vivem nas comunidades Maturuca, Ticoça e Flexal, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O líder Neudino Costa de Souza Macuxi, da Comunidade Maturuca, disse que não tem palavras para agradecer a ação feita pela equipe médica das Forças Armadas em sua comunidade. “Após os atendimentos, testes e orientações estamos fortalecidos. Obrigado, Forças Armadas, por deixarem a família de vocês para cuidar da nossa”, agradeceu o responsável pela comunidade.
O adolescente Maciel Luiz de Souza Macuxi, 15 anos, desenha desde os 10 anos, e ilustrou o atendimento da equipe médica trabalhando na Comunidade Maturuca. “Ficamos agradecidos com a presença dos militares da saúde aqui na Maloca. Este desenho é um presente. Quando eu fizer 18 anos quero seguir carreira militar”, garantiu o garoto. O Comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, General de Brigada Márcio Bessa Campos, destacou que se trata de um sinal de carinho, pelo apoio, e demonstra a sólida amizade entre as comunidades indígenas e o Exército Brasileiro.
Mesmo diante do sentimento de gratidão dos indígenas, a equipe de atendimento também se satisfaz com os serviços prestados à comunidade. A sargento Juliana dos Anjos Salvador e o sargento Elder Andrade da Silva disseram que só conheciam as comunidades indígenas pelas aulas de história e pela televisão. Como compartilham os técnicos em enfermagem da Força Aérea Brasileira: “de repente, nos vemos ajudando o nosso povo, isso é maravilhoso, uma experiência profissional e pessoal ímpar”, comentam os militares.
O médico da Marinha, Lucas Medeiros Leite destacou que a missão focou em levar atenção primária à saúde e em desencadear intervenções nas comunidades indígenas com vista à promoção da saúde e à prevenção de doenças. “Ao mesmo tempo, é fundamental que os atendimentos de saúde respeitem os aspectos socioculturais para acolher, de forma condizente com a realidade de cada etnia”, explicou.
Os militares fizeram o transporte e a higienização das cestas de alimentos da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), enviadas para fornecer alimentação básica às aldeias neste período de pandemia. Também levaram quase quatro toneladas de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e medicamentos da SESAI, para reforçar o atendimento nas comunidades indígenas. Conforme o médico Wellington Fagunde, que trabalha nas comunidades indígenas da região, “além de ampliar o atendimento, foram entregues máscaras cirúrgicas, álcool 70%, avental hospitalar, luvas, toucas, protetores faciais, testes rápidos e outros”, informou.
Em muitos desses locais visitados, só é possível o acesso com aeronaves. Roraima é um dos estados com mais áreas demarcadas como indígenas do Brasil, cobrindo 46,37% do território total, e mais de 104 mil km². As etnias que vivem nas localidades são diversas, diferindo-se conforme seus costumes, crenças e tradições. Para o médico Fagunde, a avaliação da missão é extremamente positiva.
Operação Covid-19
O Ministério da Defesa ativou, em 20 de março, o Centro de Operações Conjuntas, para atuar na coordenação e no planejamento do emprego das Forças Armadas no combate à COVID-19. Nesse contexto, foram ativados dez Comandos Conjuntos, que cobrem todo o território nacional, além do Comando Aeroespacial (COMAE), de funcionamento permanente. A iniciativa integra o esforço do Governo Federal no enfrentamento à pandemia, que recebeu o nome de Operação COVID-19.
As demandas recebidas pelo Ministério da Defesa, de apoio a órgãos estaduais, municipais e outros, são analisadas e direcionadas aos Comandos Conjuntos, para avaliarem a possibilidade de atendimento. De acordo com a complexidade da solicitação, tais demandas poderão ser encaminhadas ao Gabinete de Crise, que determinará a melhor forma de atendimento.
Por Tenente Edwaldo
Fotos: Igor Soares
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Ministério da Defesa – Militares profissionais de saúde atendem mais de 3,8 mil indígenas em Raposa Serra do Sol — Ministério da Defesa (www.gov.br)
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