Produzindo artesanato, o povo indígena Parakanã busca alternativas na proteção de seu território.

Fortalecer a arte e a cultura é um dos projetos prioritários do povo indígena Parakanã, da Terra Indígena (TI) Apyterewa, no sul do Pará. A importância de preservar as tradições culturais da comunidade e fortalecer a produção e comercialização do artesanato produzido nas aldeias foi definida como prioridade no Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) desenvolvido pela Associação Tato`A, organização representante do povo Parakanã, com apoio da The Nature Conservancy (TNC) e Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e financiamento do Fundo Amazônia/BNDES entre 2015 e 2019.

Por meio da parceria, os Parakanã receberam o apoio de uma consultoria especializada em gestão de negócios sustentáveis de artesanato, para analisar a realidade da produção local e definir as necessidades de melhoria e mecanismos possíveis para alavancar um negócio social coletivo com protagonismo das mulheres indígenas, as principais artesãs nas aldeias. A consultoria foi realizada pela Tucum Brasil, empresa de apoio ao artesanato tradicional com vasta experiência com diversos povos indígenas da Amazônia, incluindo uma oficina de produção de artesanato com 45 artesãs e artesãos indígenas, para incentivar a inovação e criatividade, partindo das técnicas tradicionais.

Também foram pensadas estratégias para divulgar melhor os trabalhos artesanais da comunidade. Para isso foi realizada uma oficina de audiovisual para formação de cineastas indígenas, que podem contribuir na elaboração e criação de conteúdos a para divulgação e promoção dos produtos artesanais da comunidade. Também foi elaborada uma identidade visual e catálogo para os produtos artesanais do povo Parakanã, resultante de um ciclo de debates e oficinas com as mulheres artesãs. Conjuntamente, elas escolheram o nome Kayna para a marca dos produtos, homenageando uma guerreira indígena que dizia que o conhecimento precisa sempre ser passado para as outras gerações.

Após várias discussões, o povo Parakanã, representados principalmente por mulheres da comunidade, optaram por concentrar os esforços de produção artesanal em três categorias de produtos principais: os cestos de cipó, os acessórios feitos com miçanga e as redes confeccionadas com fibras de tucum. Além de analisar o mercado e sugerir estratégias para melhorias e aperfeiçoamento da produção e comercialização dos produtos, o fortalecimento da gestão na organização indígena foi outro ponto de discussões. O trabalho já rendeu bons resultados e no ano de 2019 a comunidade comercializou cerca de 600 peças envolvendo 60  famílias, movimentando internamente cerca de R$390 mil, tanto em encomendas quanto em vendas diretas participando da III Feira dos Povos Indígenas.

Além do potencial de produção de artesanato, o povo Parakanã também definiu a importância da valorização da Castanha do Pará como outra atividade produtiva sustentável e alternativa econômica para a comunidade. Foram realizadas oficinas de capacitação aos indígenas para formação de gestores responsáveis pela adequação exigida pelo mercado externo, profissionalizando o manejo das castanhas e as atividades de comercialização e distribuição. Também foi apoiada a construção de um paiol em uma das aldeias, infraestrutura necessária para armazenamento e estocagem dos produtos florestais. Desde a parceria, a comunidade já comercializou mais de 17, 3 toneladas de toneladas de Castanha do Pará, fortalecendo a economia das comunidades por meio do uso sustentável dos recursos naturais e a permanência dos Povos Indígenas em seus territórios.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no ano de 2019 foram mais de 8 mil hectares desmatados na Terra Indígena Apyterewa, sendo a segunda TI mais desmatada no ano. A TI também foi uma das que mais sofreu com aumento no número de focos de incêndio durante a crise de agosto de 2019. O desmatamento e focos de incêndio ficaram concentrados principalmente nas bordas do território, em regiões historicamente marcadas por conflitos de terra com invasores que utilizam as terras para garimpo, extração de madeira e pecuária ilegal.

Controlar as invasões de território para uso ilegal é um grande desafio do povo Parakanã na gestão de seu território. No último ano foram realizadas uma série de operações para combater a mineração ilegal dentro da TI Apyterewa, mas a comunidade ainda aguarda uma operação do poder público para cumprir decisões judiciais para desintrusão de ocupantes não-indígenas na Terra Indígena.

Em um momento de crise pela disseminação do novo coronavírus uma outra face do problema do uso ilegal do território se agrava, já que os invasores historicamente são um grande vetor de transmissão de doenças. O cenário fica ainda mais complicado pois as restrições de deslocamento podem dificultar o acesso de indígenas a serviços de saúde, por exemplo, além de impedir o escoamento de produtos das comunidades. Desafios grandes para uma população que ainda reivindica o acesso a serviços básicos e busca formas de se estabilizar economicamente.

O trabalho para incentivar o desenvolvimento sustentável dos povos indígenas é importante para demonstrar como as populações indígenas  desempenham um papel fundamental na conservação de florestas, desenvolvendo atividades produtivas que contribuem para o fortalecimento de suas culturas, protegendo os recursos naturais e a biodiversidade em seus territórios. As atividades de produção sustentável também contribuem para fortalecer a autonomia dos povos indígenas na gestão e proteção de seus territórios, com a obtenção de renda para movimentar atividades das organizações indígenas.

PUBLICADO EM:  TNC THE NATURE CONSERVANCY     

Relatório Anual 2019 – Conheça os resultados do trabalho da TNC Brasil em 2019. Saiba mais