No Brasil, “é urgente concretizar a Laudato si’ no contexto da Amazônia. Estamos bem próximos do ponto de não retorno, à beira da desertificação desse bioma”, afirma o missionário. E, com a pandemia, “todos estamos na mesma tempestade mesmo se, em barcos muito diferentes: alguns mais frágeis, outros mais fortes. Mais uma vez, os mais pobres estão sendo as maiores vítimas de um mundo desajustado que traiu o sonho de Deus”.
“Escrevemos ao Papa Francisco porque queremos apoiá-lo, agradecê-lo pela iluminação do Espírito com que escreveu a Laudato si’. E, também, pela mesma iluminação com que convocou o Sínodo para a Amazônia, que é filho dessa Encíclica. A CNBB enviou ao Papa uma carta de gratidão e solidariedade e, a nossa Comissão pela Ecologia Integral e a Mineração acrescentou um documento de aprofundamento, que destaca a atualidade da Laudato si’ nos tempos de hoje. Esse texto, inclusive, já foi traduzido e está circulando no Brasil e no exterior e é mais uma contribuição ao debate e ao compromisso.”
O Pe. Dario Bossi, em missão no Brasil há 15 anos, conhece a realidade vivida na Amazônia, sofre por ela e canalizou esse sentimento em sua defesa. O religioso faz parte da Comissão pela Ecologia Integral e a Mineração da CNBB e é fundador da Rede Igrejas e Mineração, um espaço ecumênico formado por cerca de 70 entidades da América Latina reunidas para trabalhar sobre os impactos culturais, religiosos e socioambientais da mineração nas comunidades.
Uma história recente e inspiradora
A Laudato si’, então, há 5 anos vem inspirando e conduzindo a buscar novas alternativas e formas de vidas para uma urgente conversão ecológica, em defesa e pelo cuidado da Casa Comum.
“A Laudato si’ foi escrita em 2015 quando se precisava despertar à missão do cuidado da Casa Comum nos cristãos e em todas as pessoas de boa vontade num momento bem delicado para a vida do planeta. Frente à emergência ambiental, as nações precisam e precisavam tomar decisões corajosas na COP21, lembremos, lá em Paris. Uma passagem decisiva para a tomada de decisões sobre a economia, sobre a política. E a Encíclica incidiu bastante nesse debate internacional.”
A mesma tempestade, barcos diferentes
Hoje, em 2020, depois de 5 anos da Laudato si’, acrescenta Pe. Dario, “vivemos um outro momento decisivo para o planeta no coração da pandemia de coronavirus que explicitou doenças graves que a Mãe Terra já sofria há muito tempo por causa da ação humana”. A agricultura sustentável, por exemplo, é mais importante que a mineração; torna-se urgente fortalecer a saúde pública, a educação pública e a cultura das comunidades, principalmente das mais vulneráveis neste período de crises.
“Nós entendemos que, nesta pandemia, todos estamos na mesma tempestade. Mesmo se, em barcos muito diferentes: alguns muito mais frágeis, outros muito mais fortes. Mais uma vez, os mais pobres estão sendo as maiores vítimas de um mundo desajustado que traiu o sonho de Deus. No Brasil, em particular, sentimos urgente concretizar essa Encíclica no contexto da Amazônia. O grito da terra e dos pobres na Amazônia chegou ao seu limite. Estamos bem próximos do ponto de não retorno, à beira da desertificação desse bioma. Todos os bispos brasileiros da Amazônia publicaram uma nota, em defesa da Amazônia, que foi traduzida em diversas línguas, até em “tucano”. A Repam também fez uma síntese da situação de todos os países da Pan-Amazônia e mostrou quanto nesse contexto os povos indígenas estão entre os grupos humanos mais ameaçados.”