A Rede de Apoio Mútuo aos Povos Indígenas do Sudeste do Pará, que monitora a região com 13 comunidades, confirma a preocupação local: só entre o povo Xikrin Mebengokre são 40 casos confirmados e 2 mortes. Os dados comprovam a dramática situação da pandemia vivida entre os indígenas no Brasil – o segundo dos 9 países da Pan-Amazônia mais afetado, depois do Peru.

“Sou Marcivana Sateré Mawé. Eu moro em Manaus, no centro da pandemia aqui na região Norte: eu e mais 35 mil indígenas, de 47 povos diferentes, com 16 línguas faladas. A Covid-19 atinge drasticamente as nossas comunidades indígenas aqui em Manaus e tem matado muitos dos nossos anciãos. Para nós não é apenas a morte de uma pessoa, mas a morte dos nossos saberes culturais.”

A Marcivana, coordenadora da Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus e membro da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), gravou um vídeo de conscientização para a Repam Brasil e o mundo inteiro sobre a vulnerável e dramática situação da saúde pública dos indígenas no Amazonas.

O alerta não é uma novidade, visto que a Igreja e organizações da sociedade civil têm se posicionado sobre a realidade vivida por essas comunidades em diferentes lugares do país, sobretudo pelo aumento do contágio por coronavírus. No último boletim semanal da Repam e do Coica de sexta-feira (22), que reúne dados de 9 países da região Pan-Amazônica sobre o impacto da pandemia nos povos indígenas, o Brasil registrava 435 casos testados positivos e 91 as pessoas que morreram, vítimas da doença – 4 delas são do sudeste do Pará.

Aumento rápido de casos entre indígenas do Pará

Quem confirma os dados, atualizados no último domingo (24) é a Rede de Apoio Mútuo aos Povos Indígenas que tem monitorado os casos de mais de 13 Terras Indígenas (Tis) e de aldeias da região, reunindo informações, articulando mobilizações e doações. A preocupação é com um aumento rápido dos casos locais. Só entre o povo Xikrin Mebengokre são 40 casos já confirmados e 2 mortes.

A Ir. Zélia Maria Batista, religiosa missionária da congregação das Irmãs Franciscanas Catequistas, comenta que a Rede também tem atuado junto poder público em favor dos povos indígenas. É o caso de um ofício enviado ao Ministério Público Federal e Estadual com demandas específicas sobre os indígenas Warao que, até o momento, não foi respondido “efetivamente”, confirma ela. Na cidade de Marabá, um grupo de 30 migrantes venezuelanos estão em situação de mendicância e só recebem apoio da Rede.

A dificuldade local também é com a falta de produtos de higiene e limpeza: “o que podemos arrecadar de material, a gente envia para as comunidades”, declara a religiosa. A Rede de Apoio Mútuo aos Povos Indígenas do Sudeste do Pará é formada por pesquisadores, indigenistas, missionários e colaboradores vinculados a Unifesspa, UEPA, IFPA, Cimi, Repam e outras instituições.

Andressa Collet – Cidade do Vaticano

Colaboração: Repam Brasil  

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