Com aproximadamente 19 anos de idade, o idoso animal faleceu e deixou muitas lembranças para quem o tratou e o visitou no Parque Zoobotânico da instituição.
Um dos mais populares moradores do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, a onça-pintada macho Guma faleceu nesta terça-feira (07). Messias Costa, veterinário e curador da fauna do Parque Zoobotânico, informa que o idoso animal se recuperava de uma cirurgia em que lhe foi retirado o baço esquerdo há poucos meses. Ele tinha quase 19 anos de idade e residiu no Parque por 17 anos, onde era muito querido pela equipe e visitantes, após ser resgatado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
Trajetória – Até seu falecimento, Guma eram um dos dois exemplares de onça-pintada (Panthera onca) abrigados no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi – a outra moradora é Luakã, uma fêmea também resgatada pelo IBAMA e que tem 6 anos de idade. Até hoje, mais de 6 filhotes órfãos de onça-pintada receberam tratamento no Parque do Museu e foram encaminhados para reintrodução na natureza. Estima-se que Guma chegou ao Goeldi com cerca de 2 anos, quando foi resgatado em uma apreensão na cidade de Macapá, onde era criado em casa por um particular.
“Antes de chegar ao Museu Goeldi, o Guma, desde os dois meses de idade era tido como bicho de estimação, razão pela qual acumulou uma série de problemas comportamentais que culminaram em sua total humanização, evidenciada por hipersexualismo, não gasto das unhas e vocalização alterada, entre outros aspectos observados”, explica Messias Costa.
Na chegada da onça-pintada à instituição, a equipe da veterinária do Parque Zoobotânico adotou algumas estratégias em razão dos problemas comportamentais da onça Guma. “Foram promovidas medidas de enriquecimento ambiental, tais como introdução de odores diferentes, alimentos atrativos e escondidos para provocar a sua procura, além de condicionamentos positivos – tudo visando estimulá-lo e, consequentemente, promover o seu bem-estar”, relembra a bióloga do Zoobotânico do Goeldi, Thatiana Figueiredo.
Há cerca de cinco meses, após diagnóstico por imagem ultrassonográfica, Guma passou por uma cirurgia emergencial quando foi feita uma esplenectomia (retirada do baço). Tanto no exame quanto nos procedimentos cirúrgicos, o Museu Goeldi contou com total apoio do Centro de Obstetrícia e Reprodução Animal (CORA), que participou com especialistas, equipamentos e materiais imprescindíveis. A cirurgia foi realizada pela médica veterinária Marina de Brito Coutinho (CORA), com o auxílio da equipe da fauna do Zoobotânico do Goeldi, além dos veterinários Leandro Nassar Coutinho (UFRA), Raylene Nascimento Uchoa (CORA) e Ramiro Dias Neto (Instituto Evandro Chagas/IEC).
A intervenção cirúrgica foi bem sucedida. A recuperação lenta foi dificultada quando Guma começou a perder peso, ele passou, então, a receber dieta pastosa e enriquecida, protetores de mucosa, anti-eméticos e hidratantes. “A retirada do órgão e a disfunção hepática, comum em animais senis sob cuidados humanos, nos fez considerar um prognóstico quanto a expectativa de vida do Guma. Ou seja, o pior a médio prazo poderia ocorrer”, previu o veterinário Messias, que acrescenta que apenas a necropsia poderá elucidar outros fatores envolvidos no óbito, como a possibilidade de um processo cancerígeno.
Guma foi a alegria de muitos visitantes e fonte contínua de ternura, aprendizado e cuidados para a equipe técnica do Parque Zoobotânico. Ele e Luakã, assim como vários outros animais vitimados que chegam para serem tratados e encontram abrigo no Museu Goeldi, são lembranças constantes da necessidade de conservar os ambientes amazônicos e cuidar dos seres vivos.
O maior felino das Américas – A onça pintada é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo: pode medir mais de dois metros de altura e pesar até 90 quilos. É um mamífero carnívoro e um animal emblemático das matas brasileiras por sua importância para os ecossistemas, sua beleza, força e presença na cultura material de diversos povos. Sua ocorrência em uma área natural é um indicador de qualidade ambiental, pois necessita de grandes áreas conservadas para sobreviver. Ela está no topo da cadeia alimentar e, por isso, não possui predadores naturais.
As onças emitem sons conhecidos como esturros, barulhos utilizados para a comunicação entre os membros da espécie, especialmente em época de acasalamento. Mas cada animal possui uma identificação diferente, que pode ser observada nas pintas da pelagem que cobre seu corpo. A coloração desta pelagem varia entre o amarelo, marrom, castanho e preto.
Na base da alimentação deste felino estão os vertebrados terrestres e semi-aquáticos de todos os portes. No Parque Zoobotânico, na dieta alimentar tanto de Guma quanto de Luakã tinha carne bovina, frango e, ocasionalmente, presas vivas.
Distribuição e vulnerabilidade – Este mamífero originalmente habitava territórios desde o sudoeste dos Estados Unidos até o sudeste da Argentina, mas, em função da caça predatória e da degradação de seu ambiente natural, houve um declínio na quantidade de indivíduos. Atualmente a espécie está distribuída somente em alguns países da América do Sul e da América Central. É considerada uma espécie ameaçada de extinção no Brasil.
As onças-pintadas são animais solitários que só se encontram em época de reprodução. O Museu Goeldi já teve sucesso na reprodução em cativeiro. Bemp, uma onça-pintada macho negra, nasceu e viveu no Parque do Goeldi por 22 anos.
Relembrando Guma – Em função do isolamento social necessário diante da pandemia do novo coronavírus – COVID 19, o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi está fechado à visitação desde março. No entanto, os internautas podem assistir ao vídeo produzido há cinco anos pelo projeto Viva Amazônia do Laboratório de Comunicação Multimídia da instituição, ver o Guma e saber mais curiosidades sobre a onça pintada e o manejo desses felinos em cativeiro conduzido afetuosamente pela equipe técnica da Veterinária do Museu Goeldi.
FONTE: Agência Museu Goeldi
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