O estudante Alvanei Xirixana passou 21 dias, entre hospitais e posto de saúde, com os sintomas do novo coronavírus e sem fazer o teste.
A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, informou na noite desta quinta-feira (9) que o estudante Yanomami, de 15 anos, morreu às 20 horas (21 em Brasília) por complicações da infecção no pulmão devido à doença Covid-19.
À agência Amazônia Real, a Sesai disse que a “causa mortis ainda não foi informada pelo Hospital Geral de Roraima”, onde o jovem estava internado desde o dia 3 de abril. O hospital é dirigido pelo governo do estado.
O médico infectologista Joel Gonzaga, da Sesai, afirmou à reportagem que o quadro de saúde do estudante se agravou “com o comprometimento cerebral, tromboembolismo e complicações da resposta inflamatória do vírus”.
O estudante tinha a saúde afetada por ter contraído, antes da Covid-19, “doenças como desnutrição, anemia, malárias repetitivas e foi tratado, mês passado (março), de Malária Falciparum”, disse Gonzaga.
Por respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a agência Amazônia Real não tinha divulgado antes o nome do estudante. Conforme o Ministério da Saúde, o jovem é Alvanei Xirixana, nascido na Comunidade Helepi, na Terra Indígena Yanomami, em 02 de março de 2005. Seus pais são Ivanete Xirixana e Alfredo Xirixana.
Alvanei estudava o ensino fundamental em uma escola da Comunidade Boqueirão, na Terra Indígena Boqueirão, dos povos Macuxi e Wapichana, no município de Alta Alegre, no norte de Roraima.
Os pais do estudante, cinco profissionais da saúde indígena, um piloto de avião e a Comunidade Helepi, com cerca de 70 pessoas, estão no isolamento e monitoramento pela Sesai por terem mantido contato com o Alvanei. Até o momento não há informações sobre como o menino foi infectado pelo novo coronavírus.
Como publicou a agência, o estudante Alvanei Xirixana passou 21 dias com os sintomas do novo coronavírus, buscando por atendimento de saúde e não foi submetido no início da doença ao teste para Covid-19. Ele chegou a receber alta do Hospital Geral de Roraima. As internações aconteceram no período de 18 de março a 3 de abril e demostraram fragilidade no sistema da saúde indígena.
O diagnóstico da doença Covid-19 foi confirmado no estudante Yanomami apenas no último dia 7 de abril com a contraprova realizada com o sangue (RT-PCR), que detectou o coronavírus, que causa a pandemia mundial.
O Ministério da Saúde informou o primeiro caso de Covid-19 entre indígenas Yanomami no dia 8 de abril. Em sua rede social, o antropólogo francês Bruce Albert disse que o jovem era de uma comunidade “da região do rio Uraricoera, área de garimpo”. Ele também destacou que o adolescente não foi atendido pelo sistema de saúde quando sentiu os primeiros sintomas da gripe.
“Estava (o jovem) perambulando entre Casai leste e HG de RR desde 19/3 com sintomas respiratórios característicos e prescrição de antibióticos. Conviveu com muita gente desde então”, disse o antropólogo e etnógrafo Bruce Albert, amigo do líder e xamã Davi Kopenawa desde os anos 70 e ambos parceiros na autoria do livro “A queda do céu”.